MST lança clipe de rap sobre pandemia do coronavírus

Primeiro clipe de rap do MST e fruto da relação entre o campo e a cidade, “Pedagogia da Pandemia” foi concebido e gravado de maneira coletiva e à distância
Pedagogia da Pandemia MST videoclipe coronavírus
Lançamento acontece nesta quarta-feira (22), às 14h, nas redes do MST/ Reprodução

Por Agatha Azevedo
Da página do MST

“Isolamento é necessário pra sobreviver, mas me diz como fazê-lo, sem ter o que comer?”

– trecho de “Pedagogia da Pandemia”.

Escrever e compartilhar rimas, construir o beat, elaborar a crítica social através dos telefones celulares e enviar todo o material pela internet: esse foi o método usado pela Frente de Música do MST João do Vale para mostrar a força do rap e da cultura Sem Terra no clipe “Pedagogia da Pandemia”, lançado nessa quarta-feira (22). Primeiro clipe de rap lançado pelo MST fala sobre a resistência e as desigualdades durante a pandemia do coronavírus.

Responsável pela produção do clipe, Levi de Souza, do Coletivo de Cultura do MST, aponta o processo de criação artística durante a pandemia como uma mescla entre a necessidade de criar e se expressar e a vivência cotidiana, com a falta de água nas periferias, a necessidade do trabalho, e outras dificuldades.

“A gente se olhou e falou ‘mano’, está cada um distante, como é que a gente vai fazer? E a gente falou temos que nos agarrar um no outro aqui, das formas e dos meios necessários pra poder produzir, foi isso”, conta.

A letra do rap foi composta por Lui MC (AL), Diego Zamura (PR) e John Muller (SP), e politiza a relação entre a pandemia e a luta de classes, questionando o modo de vida da classe trabalhadora no sistema capitalista, as relações monetizadas da saúde, do trabalho e da sobrevivência e as atrocidades cometidas por Jair Bolsonaro ao longo de seu mandato – especialmente durante o período de quarentena.

“O papel da cultura não diverge dos outros períodos, ‘tá’ ligado, porque a gente está fazendo parte de um período e um momento histórico. E a gente tem que se repensar e reorganizar nossas vidas, e isso é reorganizar o fazer artístico”, afirma Levi.

União entre o campo e a cidade

“Higienização além das mãos ocorre, isso é fato, limpeza social de favelada e favelado”

– trecho de ‘Pedagogia da Pandemia

“Construindo a unidade da classe trabalhadora com a mesma força que as formigas se unem para se proteger coletivamente nas situações de perigo”, Levi explica que o rap “Pedagogia da Pandemia” consegue transmitir a realidade de muitos jovens por falar do campo e da cidade.

“Esse clipe abre uma porta muito grande para o próprio MST na relação entre o campo e a cidade. A geração que está cantando nesse clipe é uma geração que já passou por acampamento, conhece assentamento, é uma geração que veio da cidade, mas sempre com o pé no campo. E graças ao MST volta para o campo sem perder a cultura da cidade. Somos cria da favela, somos roceiros mas também somos favelados”, diz.

Cultura na batalha das ideias

“E o dinheiro não é mais importante que a vida da gente, a luta de classes nunca se fez tão presente, o Brasil seria bem melhor se aqui tivesse um presidente”

trecho de ‘Pedagogia da Pandemia

Dandara D’Araçá, coordenadora da Frente de Música do MST João do Vale, afirma que a atuação da arte nesse período é parte da cultura Sem Terra tanto quanto as ações de solidariedade, de produção de alimento e de solidariedade, pois todas fazem parte do que é ser parte do MST.

“As ações artísticas cumprem um papel fundamental de humanização e batalha das ideias. E com a pandemia em que tanto as ruas, que são nosso terreno fértil de luta dos trabalhadores, quanto a luta política estão mais difíceis de se fazer, a gente lança esse clipe na batalha das ideias. Nós não vamos fazer uma ação de rua como os irresponsáveis apoiadores do Bolsonaro estão fazendo, ameaçando a vida de muita gente”, afirma.

De acordo com Levi de Souza, com “Pedagogia da Pandemia”, a Frente de Música pretende abrir um novo horizonte para a produção artística Sem Terra. “Isso vai conseguir mostrar pra molecada que dá pra fazer, a gente pode fazer. E pode fazer coisa boa, pode fazer arte usando o pouco que a gente tem”. A proposta é que o projeto de rap no MST continue e que as mulheres também passem a ocupar esse universo tão masculinizado.

Reafirmando a necessidade da quarentena e da batalha das ideias como diferença entre a vida e a morte para a classe trabalhadora durante a pandemia, Dandara coloca que a crise do coronavírus passa pelas contradições da luta de classes, mas também pela solidariedade e pela arte. Nesse sentido, o MST demonstra seu compromisso com a vida também na produção artística. “A gente segue o exemplo de Cuba, que está enviando médicos para o mundo mesmo vivendo sob um bloqueio econômico”.

*Editado por Yuri Simeon