“Respostas sobre gravidez e COVID-19 ainda são frágeis neste momento”

Mulheres grávidas foram incluídas no grupo de risco do novo coronavírus como forma de precaução
Escassez de estudos sobre o tema coloca mulheres grávidas no grupo de risco da COVID-19. Foto: Pixabay

Por Luciana Console
Da Página do MST

Mulheres grávidas e que estão no período pós-parto, conhecido como puerpério, foram incluídas no grupo de risco da COVID-19 no mês de abril pelo Ministério da Saúde. A decisão foi tomada como medida preventiva e é importante no contexto brasileiro, visto que ainda não há estudos suficientes no país sobre o impacto do novo coronavírus na saúde das gestantes. É o que explica a professora do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública e coordenadora da área da saúde das mulheres da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Érica Dumont Pena. 

“Por conta das alterações do metabolismo das grávidas, que podem afetar o sistema imunológico, e também pelo fato dos recém nascidos possuírem um sistema imune imaturo, existe uma preocupação de que a COVID-19 adquira formas mais graves nesses sujeitos. Então, há um alerta nesse campo para o contexto brasileiro e é por isso que as gestantes foram incluídas no grupo de risco”, diz ela. 

De acordo com a especialista, existem cerca de 30 estudos ao redor do mundo sobre a COVID-19, a maioria conduzido na China e nos EUA. Deste número, em torno de nove têm como foco as gestantes. Érica explica que muitas perguntas sobre gravidez e COVID-19 ainda serão respondidas de forma frágil: “Por exemplo, no Brasil, a gente não consegue avaliar se o bebê vai ser afetado nos primeiros meses de vida porque não tem bebês nascidos ainda após o início da pandemia”, informa ela. 

Segundo Dumont, o pouco que se tem de informação hoje, baseado principalmente em estudos chineses, é que não há transmissão da COVID-19 da mãe para o bebê durante a gestação. Isso acontece porque o vírus não foi encontrado nas placentas. Também não foi encontrada a presença do coronavírus no leite materno, indicando que a amamentação pode ser feita normalmente.  

Dentro deste contexto de incertezas, a especialista ressalta que é preciso ficar alerta e seguir os cuidados recomendados pelo Ministério da Saúde e órgãos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS). É fundamental que a gestante fique em isolamento social, independente da fase da gravidez.

Érica também ressalta a importância de se manter as consultas mínimas recomendadas para o pré-natal, mas que procedimentos desnecessários sejam evitados. Em relação ao parto, a especialista recomenda o natural e ressalta que a cesariana deve ocorrer somente em casos de necessidade, pois o procedimento aumenta o tempo de internação da mulher, acarretando em mais chances de contaminação da COVID-19 no hospital. 

Durante a amamentação, importantíssima para a formação de anticorpos para o bebê, deve-se lavar bem as mãos antes e depois e sempre usar máscaras, com sintomas ou não. “É importante também que o bebê fique em outro quarto caso a mãe demonstre suspeita de COVID-19”, finaliza Érica. 

Impacto do coronavírus na vida das gestantes vai além da saúde

No entanto, não é só a preocupação com a contaminação pelo coronavírus que ronda a vida das gestantes em meio à pandemia. Por conta do confinamento, provocado pela quarentena e pelas medidas de distanciamento social, muitas gestantes e mulheres no puerpério se tornam mais vulneráveis à violência doméstica. 

O relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), lançado no dia 16 de abril, aponta que houve um aumento dos casos de violência contra as mulheres no país, por conta da dificuldade encontrada para realizar as denúncias no isolamento. Só em São Paulo, houve um aumento de 44,9% de denúncias no 190 na comparação de março de 2019 com março de 2020.

É neste sentido que o MST vem trabalhando com uma frente de apoio às mulheres no contexto da pandemia da COVID-19. A campanha “Mulheres Sem Terra: contra os vírus e as violências”, lançada no mês de abril, tem como intuito ser uma ação permanente de luta contra a estrutura patriarcal principalmente neste período delicado de isolamento social, onde o lar muitas vezes não é um lugar seguro para as mulheres. 

Além dos riscos de convivência com familiares que possam vir a ser agressores, a sobrecarga de trabalho também é um dos eixos da campanha. É o que explica Mercedes Queiroz Zuliani, do setor de saúde MST: “Este momento escancara o quanto a sociedade patriarcal e machista oprime as mulheres, principalmente as negras e pobres, e quanto o trabalho doméstico é importante para a reprodução do capital”.

A campanha atua em três eixos: denúncia e atuação, com redes de apoio entre mulheres; discussão de mudanças no espaço doméstico, como divisão de tarefas; e construção de alternativa de renda, com ações de educação e saúde, tendo como base a Reforma Agrária Popular.

*Editado por Wesley Lima