Lula: cabe aos trabalhadores construir mundo pós-pandemia com coletivo acima do lucro

Em mensagem no Dia do Trabalhador, ex-presidente destacou também atuação dos profissionais de saúde

Por Caroline Oliveira
Do Brasil de Fato

Neste 1º de maio, em que se comemora o Dia do Trabalhador, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em um vídeo publicado em suas redes sociais, defendeu que o mundo após a pandemia do coronavírus deve ser transformado do ponto de vista das relações sociais.

Em mensagem, Lula ataca o capitalismo e pede surgimento de novo mundo pós-pandemia. Foto: Reprodução

“A História nos ensina que grandes tragédias costumam ser parteiras de grandes transformações. O que nós esperamos, o que eu espero, é que o mundo que virá depois do coronavírus seja uma comunidade universal em que o homem e a mulher, em harmonia com a natureza, sejam o centro de tudo e que a economia e a tecnologia estejam a serviço deles e não contrário, como aconteceu até hoje. No mundo que eu espero depois da pandemia do coronavírus, o coletivo haverá de triunfar sobre o individual a solidariedade e a generosidade triunfarão sobre o lucro”, afirmou o ex-presidente.

Lula apontou o capitalismo como responsável pela crise e destacou que são os trabalhadores que garantem a produção mundial. “Foram necessários 300 mil cadáveres para a humanidade ver uma verdade que nós, trabalhadores, conhecemos desde o dia que nascemos. A tragédia do coronavírus expôs à luz do sol uma verdade inquestionável: o que sustenta o capitalismo não é o capital. Somos nós, os trabalhadores. É essa verdade, nossa velha conhecida, que está levando os principais jornais econômicos do mundo, as bíblias da elite mundial, a anunciarem que o capitalismo está com os dias contados. E está mesmo. Está moribundo. E está nas nossas mãos, nas mãos dos trabalhadores, a tarefa de construir esse novo mundo que vem aí.”

Ao se referir a Jair Bolsonaro, ele apontou que grandes tragédias revelam o “verdadeiro caráter das pessoas e das coisas”. “Não me refiro apenas ao deboche do presidente da República com a memória de mais de cinco mil brasileiros mortos pela Covid. A pandemia deixou o capitalismo nu.” 

O ex-presidente também falou sobre a importância da solidariedade entre a classe trabalhadora neste momento. “O Brasil sempre foi uma terra de esperanças. Apesar das extremas dificuldades, nós que nascemos e vivemos aqui soubemos enfrentá-las e soubemos nos reinventar para crescer. O ódio e a ignorância se alimentam um do outro e são o oposto do que vai na alma brasileira. Como brasileiro, tenho a certeza que sairemos desta tragédia para um mundo melhor, para um Brasil melhor. E é agora, em plena tempestade, que os brasileiros revelam o que são, o que somos: generosos, tolerantes, solidários. E é com esse espírito, essa alegria e essa criatividade que estamos todos lutando para sair das trevas e fazer chegar, o mais depressa possível, o amanhecer da justiça social, da igualdade e da liberdade.”

Coronavírus

Nessa sexta-feira (30), o Brasil registrou recorde de novos casos em 24 horas, com um aumento de 7.218 mil infectados às estatísticas, chegando a um total de 85.380 mil pessoas infectadas por covid-19. Quanto ao número de mortos, houve um aumento de 435 óbitos, chegando a um total de 5.901 mil: um aumento de 8%. Com esses dados, a letalidade ficou em 6,9%.

Acesse aqui e confira o vídeo com o discurso

Leia o discurso na íntegra:

“Meus amigos e minhas amigas,

Trabalhadores e trabalhadoras do Brasil e do mundo,

Quero começar a minha fala prestando solidariedade aos familiares de todas as vítimas do coronavírus e a todos os trabalhadores e trabalhadoras que estão lutando para salvar vidas em todo o mundo.

Um vírus desconhecido conseguiu fechar fronteiras, trancar em casa mais de três bilhões de seres humanos e mudar de maneira dramática a vida de cada um de nós. Há três meses estamos como num longo túnel sem fim, recebendo a cada dia notícias piores que as do dia anterior. A humanidade desperta todos os dias torcendo para que o número de mortos de hoje seja menor que o de ontem. Estamos vivendo os mais tenebrosos dias da nossa história.

O vírus, que ataca a todos, indistintamente, mostrou que a raça humana não é imortal e pode até desaparecer.

A História nos ensina, porém, que grandes tragédias costumam ser parteiras de grandes transformações.

O que nós esperamos, o que eu espero, é que o mundo que virá depois do coronavírus seja uma comunidade universal em que o homem e a mulher, em harmonia com a natureza, sejam o centro de tudo, e que a economia e a tecnologia estejam a serviço deles – e não o contrário, como aconteceu até hoje.

No mundo que eu espero depois da tragédia do coronavírus, o coletivo haverá de triunfar sobre o individual, a solidariedade e a generosidade triunfarão sobre o lucro.

Um mundo em que ninguém explore o trabalho de ninguém, um mundo em que se respeitem as diferenças entre um e outro, um mundo em que todos, absolutamente todos, disponham de ferramentas para se emancipar de qualquer tipo de dominação ou de controle.

Mas as grandes tragédias são também reveladoras do verdadeiro caráter das pessoas e das coisas. Não me refiro apenas ao deboche do presidente da República com a memória de mais de cinco mil brasileiros mortos pela covid.

A pandemia deixou o capitalismo nu. Foram necessários trezentos mil cadáveres para a humanidade ver uma verdade que nós, trabalhadores, conhecemos desde o dia que nascemos. A tragédia do Coronavírus expôs à luz do sol uma verdade inquestionável: o que sustenta o capitalismo não é o capital.

Somos nós, os trabalhadores. É essa verdade, nossa velha conhecida, que está levando os principais jornais econômicos do mundo, as bíblias da elite mundial, a anunciarem que o Capitalismo está com os dias contados. E está mesmo. Está moribundo. E está nas nossas mãos, nas mãos dos trabalhadores, a tarefa de construir esse novo mundo que vem aí.

O Brasil sempre foi uma terra de esperanças. Apesar das extremas dificuldades, nós que nascemos e vivemos aqui soubemos enfrentá-las e soubemos nos reinventar para crescer. O ódio e a ignorância se alimentam um do outro e são o oposto do que vai na alma brasileira. Como brasileiro, tenho a certeza que sairemos desta tragédia para um mundo melhor, para um Brasil melhor.

E é agora, em plena tempestade, que os brasileiros revelam o que são, o que somos: generosos, tolerantes, solidários. E é com esse espírito, essa alegria e essa criatividade que estamos todos lutando para sair das trevas e fazer chegar, o mais depressa possível, o amanhecer da justiça social, da igualdade e da liberdade.

Espero que a tragédia do Coronavírus seja a parteira do verdadeiro mundo novo que sonhamos.

Viva o povo trabalhador. Viva o Primeiro de Maio.”

Luiz Inácio Lula da Silva

*Editado por Camila Maciel