Iniciativa “Mulheres Sem Terra: contra vírus e violências” traz orientação e acolhimento

O necessário isolamento social por conta da COVID-19 aumenta risco de violência contra mulheres, crianças, idosos e pessoas LGBT dentro dos lares
Reforma Agrária Popular visa novas formas de produção no campo e respeito à diversidade do ser humano. Foto: BAEC

Por Luciana Console
Da Página do MST

A violência doméstica aumentou em todo o Brasil durante o período de isolamento social. É o que mostra uma pesquisa do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, realizada em contribuição ao Termômetro da Crise, projeto que entrevista semanalmente pessoas de todo o Brasil sobre impactos da COVID-19. Essa nova realidade em meio à pandemia também chega aos trabalhadores e trabalhadoras do campo, como conta Lucineia Freitas, da coordenação nacional do setor de gênero do Movimento. 

“Nossos assentamentos e acampamentos não são ilhas e refletem bastante as relações externas. Apesar das atividades de formação e de organização, quando vivenciamos estes momentos de especificidades, também há incidências”. É neste contexto que o MST vem trabalhando, desde o dia 06 de abril, com a Campanha “Mulheres Sem Terra: contra os vírus e as violências”

Conforme explica Freitas, a Campanha é estruturada em 3 eixos. “Um deles tem como proposta trabalhar o tema da violência diretamente, com foco central nas mulheres, mas ampliando para os demais sujeitos vulneráveis na família, que são as crianças, as LGBTs e os idosos. A ideia também é ampliar o debate para além da violência física”, disse.

Para a militante, a sobrecarga doméstica é uma das questões que precisa de atenção. O segundo eixo da Campanha atua nessa linha, com foco em promover o autocuidado, ao construir uma rede de solidariedade entre os assentados e também dialogar com o conjunto do Movimento sobre a necessidade de repensar o trabalho doméstico.

“Neste período, há aumento real dessa jornada de trabalho doméstico, o que também acarreta um maior risco a outros problemas, como adoecimento mental e problemas físicos. Essa sobrecarga e seus impactos nem sempre são reconhecidos como uma violência vivenciada por esses sujeitos”, destaca ela.

Além da sobrecarga doméstica, outras formas de violência dificilmente são identificadas como tal, é o que apontou a pesquisa feita pela UFMG. Quando os entrevistados foram perguntados se tinham sido vítimas de violência doméstica, menos de 1% das mulheres e 0,3% dos homens responderam que sim. 

No entanto, ao serem questionados se haviam passado por outras situações como xingamentos, insultos, empurrões, agarrões, espancamento e até ameaças com arma, os resultados aumentaram para 6,7%. Os relatos indicam que o stress causado pela pandemia fez com que o ambiente dentro dos lares se tornasse mais propício à agressividade.

Reforma Agrária Popular


O combate à violência dentro do MST não é uma pauta somente em tempos de pandemia. O próprio projeto de Reforma Agrária Popular, que consiste na construção de um novo modelo agrícola para o campo, engloba formas de relações sociais mais saudáveis.

“É necessário pensar a agroecologia como um processo que vai além de repensar as formas de produção com respeito aos ecossistemas, as dinâmicas ecológicas, mas também reestruturando as relações sociais e humana, onde a violência em qualquer forma não seja mais aceita. Todo Território Sem Terra livre de Violência”, conclui a militante. 

Para ela, é preciso pensar no processo produtivo efetivamente, pois “não existe produção saudável em relações doentes”. Neste sentido, o terceiro eixo da campanha trabalha a comunicação para que o combate à violência dentro dos lares alcance toda a base do MST, incluindo também o envolvimento dos militantes e dos dirigentes nestes processo de mudança de comportamento e de luta. 

*Editado por Fernanda Alcântara