10 livros para comemorar centenário de Florestan Fernandes

Diversos títulos da Expressão Popular para entender e estudar um dos maiores autores e sociólogos do Brasil

Florestan Fernandes sempre lutou por justiça social, liberdade e igualdade. Foto: Revista Práxis

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Florestan Fernandes, um dos mais influentes sociólogos brasileiros, completaria 100 anos no próximo dia 22 de julho. Mestre da sociologia brasileira, Fernandes foi professor da USP, deputado pelo Partido dos Trabalhadores e trouxe uma nova perspectiva das ciências sociais no Brasil, por meio de seu trabalho que questionava a realidade social.

Para celebrar, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a editora Expressão Popular e a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) prepararam vários materiais que começam a ser publicados esta semana. Para começar os estudos, confira abaixo uma lista de 10 obras disponíveis na Expressão Popular:

1 – Contestação necessária – retratos intelectuais de inconformistas e revolucionários

Escrito em um contexto em que Florestan Fernandes lutava ativamente na frente intelectual, enfrentando graves problemas de saúde e o transformismo que repercutia no pensamento crítico mundial, “A Contestação Necessária: retratos intelectuais de inconformistas e revolucionários” tem como origem a obra original “Em busca do Socialismo” que, reorganizada com “a cooperação fraterna e incansável de Vladimir Sacchetta, que desconhece sacrifícios para facilitar a minha vida”, deu origem aos seus dois livros póstumos. O Prefácio, elaborado por Florestan, foi concluído três semanas antes da internação para o transplante de fígado, 21 dias antes de seu falecimento, em 10 de agosto de 1995.

2 – Significado do protesto negro

Parte dos estudos sobre a questão racial está no conjunto de textos apresentado nessa nova edição de “Significado do Protesto Negro”. São textos que relacionam capitalismo e racismo para que se compreenda a desigualdade racial e a condição de pobreza da população negra que os representantes das elites da casa-grande, com o golpe em curso no Brasil, tentam manter como garantia da manutenção de seus privilégios e postos de mando e opressão, o que, juntos com Florestan Fernandes, aprendemos a enfrentar.

3 – Marx, Engels, Lenin – a história em processo

Os dois textos reunidos nesse oportuno e, desde já, indispensável livro evidenciam o inteiro domínio de Florestan Fernandes no trato das obras seminais daqueles clássicos e explicitam sua opção de classe e seu compromisso político com “os de baixo”. Os escritos do autor coligidos neste volume são uma preciosa arma para a crítica teórica que fará todo o sentido para estudantes, pesquisadores e militantes sociais se eles atribuírem à leitura o que mais desejariam Marx, Engels, Lenin e Florestan: a translação do pensamento para a ação política revolucionária.

4 – Universidade brasileira: reforma ou revolução?

“Universidade brasileira: reforma ou revolução?” reúne nove primorosos ensaios de Florestan, muitos deles estruturados a partir das conferências realizadas no contexto mais amplo do que se convencionou chamar “reformas de base”, entre os anos de 1967 e 1968. Os escritos registram a memória de intervenções públicas realizadas, de acordo com o autor, com o intuito de colaborar com estudantes, intelectuais, políticos e os colegas da resistência no processo de reflexão sobre a cooptação da bandeira da Reforma Universitária operada pelos militares. Este livro traz uma luminosa contribuição para o estudo da escola superior tradicional, desse processo tortuoso de Reforma Universitária e da passagem para o que Florestan chamava de universidade “multifuncional e integrada”.

5 – Apontamentos sobre a “Teoria do Autoritarismo”

Apontamentos para a ‘teoria do autoritarismo’ foi escrito por Florestan Fernandes com base em anotações de aulas para o curso de graduação sobre a “Teoria do Autoritarismo”, que ministrou no Departamento de Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) no final de 1977. Nosso autor escreve em uma época em que as experiências socialistas do século XX, como as da Iugoslávia, China, Cuba e URSS estavam vigentes e disputavam a hegemonia mundial com a superpotência capitalista, numa polarização entre revolução e contrarrevolução. No plano nacional, desde 1964 vive-se uma ditadura civil-militar promovida e apoiada pelos EUA que esmaga a possibilidade de se realizar as reformas de base propostas pelo governo de João Goulart com o apoio das forças de esquerda.

6 – Reflexões sobre a construção de um instrumento político

“Reflexões sobre a construção de um instrumento político: contribuição ao I Congresso do Partido dos Trabalhadores” veio a público pela primeira vez com o título “PT em movimento”, em 1991. Era o momento do primeiro congresso nacional do partido, realizado em São Bernardo do Campo, dois anos após a primeira candidatura de Lula à presidência. Florestan Fernandes, à época atuando como deputado pelo PT, estrutura sua contribuição defendendo a atualidade da tarefa de se construir um instrumento político da classe trabalhadora para a transformação social considerando-se os desafios do contexto.

7 – O que é revolução

O que é revolução? Quem faz a revolução? É possível impedir ou atrasar a revolução? Como fortalecer a revolução e levá-la até o fim? Revolução nacional ou revolução proletária? Como lutar pela revolução proletária no Brasil? Para Florestan Fernandes, a burguesia brasileira tornou-se antissocial, antinacional e antidemocrática e a revolução operária desponta como a única via capaz de superar as mazelas do capitalismo dependente e criar as condições históricas para o aparecimento de um Estado democrático independente. Ele nos dá uma visão panorâmica dos padrões da revolução burguesa na histórica do capitalismo, da particularidade da revolução burguesa no capitalismo dependente e dos desafios que devem ser enfrentados pelos que lutam pela revolução operária no Brasil.

8 – Poder e contrapoder na América Latina

Calcado na teoria social desenvolvida por K. Marx (e F. Engels) e em seu vasto acúmulo teórico no campo da sociologia, Florestan analisa fenômenos políticos como o fascismo, as guerrilhas e o desenvolvimento do capitalismo – e as características que ele assume – na América Latina. Como é próprio da sua sociologia crítica e militante, sua análise teórica leva em conta os sujeitos e as classes sociais em luta. A atualidade deste livro – escrito há mais de 30 anos – é marcante, pois a dominação e a exploração de classe apenas se aprofundaram em toda a América Latina, a ofensiva do capital é cada vez mais forte.

9 – Nós e o marxismo

Florestan Fernandes escreve sobre a apropriação histórica dos conceitos marxistas, discute o revisionismo e propõe uma abordagem atualizada da proposta marxista original para a luta de classes que parta da observação da realidade, no caso, a brasileira.

10 – Da guerrilha ao socialismo – a revolução cubana

A revolução cubana encerrava uma época histórica e, o que é mais importante, abria a época histórica nova, impregnada de nacionalismo libertário, de anti-imperialismo, de socialismo e comunismo revolucionário. A autonomia da nação se configurava como expressão da vontade coletiva dos trabalhadores e a continuidade da revolução repousava em seus ombros, como a única classe revolucionária que aparecera como tal na história de Cuba.

Bônus:

Florestan Fernandes – sociologia crítica e militante

Neste livro, o leitor encontrará o labor de dois dos maiores mestres da sociologia crítica brasileira em obra que traz uma seleção criteriosa de dimensões da obra do mestre Florestan Fernandes, recortada pelo seu melhor colaborador, amigo e discípulo, o também mestre Octavio Ianni. O livro oferece uma densa e sólida explicação sobre as formas da dominação burguesa, peculiaridades de nossa formação social, o caráter retardatário da burguesia e sua recorrência constante ao Estado autocrático, ditatorial, avesso às mudanças mais profundas, nos ajudando a compreender alguns dos enormes desafios para a revolução social no Brasil contemporâneo. Conhecedor em profundidade da obra de Marx, Weber e Durkheim, Florestan escreveu com originalidade sobre os indígenas, os negros e a questão racial no Brasil, o folclore, a dependência e o subdesenvolvimento, as classes sociais e o capitalismo brasileiro, a nossa revolução burguesa, configurando-se numa das mais abrangentes e instigantes formulações sobre dimensões multifacetadas da realidade brasileira.

*Editado por Luciana G. Console