“A Jornada é o momento de colocar nossas ações em movimento”, defende Juventude Sem Terra

Em entrevista exclusiva, Jailma Lopes, da Juventude Sem Terra, fala sobre pautas defendidas durante a 11ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra.

Imagem durante o Seminário Nacional da Juventude Sem Terra, realizado entre os dias 05 a 07 de dezembro de 2019, na ENFF. Foto: Comunicação MST

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Preocupada com este momento de pandemia que assola o mundo todo e seus desdobramentos nas crises econômicas, sociais e políticas, a Juventude Sem Terra se mobiliza de forma diferentes nesta 11ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra.

Com o lema “Juventude em Luta, pela Vida e por Direitos!”, a Jornada é uma forma mais incisiva de resistência, oficializando o compromisso que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra tem com a vida. As ações incluem desde a denúncia daqueles que querem impor a classe trabalhadora “morrer de fome ou de vírus” até a produção de alimentação saudável.

De 10 a 15 de Agosto, a Juventude Sem Terra busca enraizar e ampliar a organização nos territórios, tanto no campo quanto na cidade, a partir de ações que contemplem a produção de alimentos, agroecologia, plano de plantio, cultura, arte e comunicação. A ideia é internalizar, e ao mesmo tempo, ampliar os debates políticos da conjuntura e da Reforma Agrária Popular com a Juventude Sem Terra em diversos espaços.

Confira abaixo a entrevista com Jailma Lopes ,do Coletivo Nacional de Juventude do MST, sobre os principais preceitos da 11ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra.

Esse período nos colocou diversos e novos desafios. Como tem sido a construção desta Jornada da Juventude Sem Terra, diante da pandemia?

A Jornada Nacional da Juventude Sem Terra vem sendo construída desde o nosso “Abril Vermelho”, quando lançamos o no dia 17 de Abril, o Plano de Ação Oziel Alves (em homenagem ao nosso jovem Sem Terra, vítima do Massacre de Eldorado dos Carajás), posicionando a Juventude Sem Terra na tática política do MST para esse período, convocando-a para:
1) construir às ações de solidariedade em todo o Brasil; 2) isolamento produtivo – ampliando as experiências agroecológicas da juventude, às ações em torno do Plano Nacional de Plantio “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” e o cultivo da cultura e da arte, como desafios centrais para seguir em luta construindo a Reforma Agrária Popular e enfrentando a questão ambiental; 3) batalha da ideias, a partir de potencialização a comunicação popular, e o que chamamos de “Agitação e Propaganda – Agitprop”, que são ferramentas/técnicas para comunicar e disputar ideias na luta política como faixas, lambes-lambes, carro de som, às linguagens artísticas e etc., desafio central nesses tempos que estamos inviabilizados de tomar as ruas; e 4) estudo, fazer desse período um momento de nos preparar para compreender a realidade e intervir, com formação política, ideológica, cultural, artística e também técnica.

Esse plano de ação vem mobilizando várias ações da nossa juventude nos nossos territórios, e a jornada é momento de colocar toda essa construção em movimento, ampliando a nossa mobilização, organização, construindo outras formas de luta nesse período, mas preparando a Juventude Sem Terra para a retomada das ruas, ocupações e enfrentamentos que esse período histórico exigirá da juventude brasileira e do conjunto da classe trabalhadora.

A defesa pela vida é um dos principais eixos desta Jornada. Quais as ações que a Juventude Sem Terra se dispõe a realizar neste sentido?

A nossa Jornada acontece em um período de tragédia anunciada sem precedentes, em que o Brasil beira o marco de 100 mil mortes vítimas do COVID-19, resultante da política criminosa do governo Bolsonaro que negligenciou a pandemia, não conduzindo a crise sanitária (não temos há quase três meses sequer ministro da saúde), nem tomando medidas econômicas que possibilitasse o isolamento social. Desde o início do seu governo, as medidas tomadas só pioraram as condições de vida, impondo a classe trabalhadora a terrível situação de “escolher” morrer de vírus ou morrer de fome.

Por isso, realizaremos ações de denúncia à política criminosa em curso, que tem matado o povo brasileiro, sobretudo a classe trabalhadora do nosso país, bem como realizaremos várias ações de solidariedade ao povo que tem sofrido os impactos da crise com as piores condições de viver esse período, além de ampliar o plantio de árvores e alimentos saudáveis para seguir cuidando do povo para atravessar esse tempo de pandemia.

Como o Fora Bolsonaro e a campanha de solidariedade se encaixam nesta discussão?

É preciso que se diga que a situação que chegamos é de responsabilidade do governo Bolsonaro, que representa literalmente ameaça a vida das pessoas, e a única forma de cessarmos essa sangria de dor e o sofrimento ao povo brasileiro é interrompendo ele, é fazendo-o parar. Por isso a Campanha Nacional pelo Fora Bolsonaro é uma bandeira de luta e uma convocação a todas e todos aqueles que defendem a vida e os direitos da classe trabalhadora. Nesse sentido, a solidariedade é um princípio, um valor humano, e uma forma de organização popular do povo, para se cuidar e enfrentar esse longo período em que o direito a viver dignamente é atacado.

A luta por educação é uma agenda central nesta Jornada. Quais os principais reivindicações diante desta conjuntura para a Juventude Sem Terra?

Todas as ações que realizaremos terão como objetivo pautar o não retorno das aulas, voltar às aulas na pandemia é crime! Além de significar uma proliferação em massa do vírus às crianças, jovens e familiares, se trata de uma posição política que tem como real intenção esvaziar e desmontar o direito universal à educação pública, gratuita e de qualidade, transferindo investimentos para às iniciativas privadas.

Não tem nada a ver com “salvar o calendário letivo”. Ao contrário, faz parte do mesmo projeto que quer inviabilizar o Fundeb; os fundos do pré-sal para a educação; o fechamento das escolas do campo; os ataques ao Programa Nacional de Educação em Reforma Agrária (PRONERA), que permitiu que muitos jovens do campo, das águas e das florestas se formassem como agrônomos, médicos veterinárias, advogados, educadores e educadoras de diversas áreas; e os ataques aos profissionais da educação.

No mês passado, a Juventude Sem Terra realizou ações em prol do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. Como esta pauta se inclui diante desta Jornada?

Essa pauta se inclui como dimensão das nossas ações, porque a centralidade da defesa da vida, passa necessariamente, pela conservação dos bens da natureza, a defesa dos nossos territórios, e a denúncia do latifúndio, do agronegócio, da mineração e do desmatamento, a democratização da terra e a construção de vida digna para o povo. E o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, constitui tarefa e disposição das/os Sem Terra, em concretamente enfrentar a questão ambiental, mas também em radicalizar na construção da Reforma Agrária Popular o compromisso com vida!

*Editado por Maura Silva