Bispo do Povo morre aos 92 anos

Durante sua trajetória defendeu a Reforma Agrária, as comunidades tradicionais e denunciou o latifúndio e a marginalização dos povos do campo
Foto tirada por Ana Helena Tavares, para o livro: Um Bispo Contra todas as Cercas

Por Solange Engelman
Da Página do MST

“Por meu povo
em luta, vivo
Com meu povo
em marcha, vou
Tenho fé de guerrilheiro
e amor de revolução”.
Dom Pedro Casaldáliga

Morreu hoje, aos 92 anos Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia
de São Félix do Araguaia, Mato Grosso.

Agravamento do quadro

Dom Pedro estava internado com graves problemas respiratórios. O bispo era portador de mal de Parkinson, que se agravou com o avanço da idade.

Ele permaneceu internado uma semana no Hospital de São Félix do Araguaia (entre 27 de julho e 04 de agosto), devido a um quadro de insuficiência respiratória. E na noite de 4 de agosto foi transferido para o hospital Santa Casa de Batatais, no interior de São Paulo.

De origem espanhola e naturalizado brasileiro, Dom Pedro era acompanhado pela Congregação dos Claretianos, a qual pertence e vivia sob os cuidados de freis agostianos, na cidade de São Félix do Araguaia. 

Em entrevista ao Jornal Brasil de Fato, em 04 de agosto, o amigo de Dom Pedro, Paulo Maldos, informou que as sequelas de uma tuberculose desenvolvida no passado, somadas à idade, colaboraram para agravar seu quadro de saúde.

Quem foi Dom Pedro?

Uma das referências da Teologia da Libertação e na luta contra a ditadura militar, o bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia foi defensor dos povos indígenas, camponeses e ribeirinhos, se tornando símbolo da luta em defesa da Amazônia.

Durante sua trajetória defendeu a Reforma Agrária, as comunidades tradicionais e denunciou o latifúndio e a marginalização dos povos do campo.

De família camponesa, Dom Pedro Casaldáliga Plá nasceu em 16 de fevereiro de 1928, em uma aldeia próxima de Barcelona, na Espanha.

Bispo do povo e poeta foi também um dos fundadores da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (CMI), atuando junto aos pobres e na defesa da democracia. Com uma veia poética, ele retratou na poesia vários temas de suas lutas, como a defesa da Reforma Agrária e a denúncia das mazelas do latifúndio.

O padre chegou ao Brasil durante a ditadura militar, em 1968, sendo ordenado bispo em 1971, período em que lançou a Carta Pastoral “A Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, denunciando o latifúndio e a marginalização social dos povos Amazônicos.

O texto se tornou referência na luta em defesa dos índios e povos do campo.

Biografia sobre Casaldáliga

Em 2019, a autora Ana Helena Tavares lançou o livro “Um bispo contra todas as cercas”, pela editora Gramma, em que resgata a vida do religioso desde que foi ordenado padre até se tornar bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia. Um lugar pouco conhecido que ganhou destaque pela atuação religiosa e política do espanhol.

*Editado por Maura Silva