MST debate cultura camponesa na região sul
Por Coletivo de Comunicação da Região Sul
Da Página do MST
Na última sexta, 21 de agosto de 2020, foi realizado o Seminário Cultura Camponesa, atividade organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região sul. Participaram deste diálogo Priscila Facina Monnerat e Roseli Salete Caldart, além de dirigentes, assentados e acampados da região, que se conectaram por meio de plataforma de videoconferência com transmissão simultânea pelo Canal Cultura Camponesa, chegando a um público de 180 pessoas.
Este formato, está atrelado ao contexto de pandemia sanitária vivida no Brasil e no mundo. O Movimento busca maneiras de respeitar as medidas sanitárias de proteção a vida, mantendo e qualificando o diálogo com sua base.
Na discussão realizada, Roseli Caldart, do Setor de Educação do MST/RS, observou que embora existam vários significados, o MST trabalha com o conceito materialista de cultura, ou seja, cultura enquanto práxis social, cuja etimologia vem de cultivar, ocupar a terra. Assim, a cultura é construída a partir dessas experiências e passa a orientar o modo de vida das pessoas, e que estas constituem um projeto político de transformação.
Roseli ressaltou ainda que “tratar de cultura camponesa, é tratar da Reforma Agrária Popular e seus componentes, e entender qual cultura a reforma agrária popular já está produzindo e tem a potencialidade de produzir”. Nesse processo, tem papel fundamental “a agroecologia, que diz respeito a forma camponesa de trabalhar a terra e de pensar a relação ser humano e natureza”, completou.
Na análise de Roseli, estamos no fio da navalha pelo momento histórico de crise e pandemia, em que o sistema capitalista tenta se ajustar para manter-se como dominante. Em contrapartida, a sociedade enxerga o MST construindo alternativas de futuro, produzindo alimentos saudáveis, realizando ações de solidariedade.
Nesse sentido de diálogo com a sociedade, Priscila Monnerat, camponesa e integrante do Setor de Gênero do MST/PR, reforçou que tratam-se de “ações que já fazemos e que vão construindo essa cultura camponesa e Sem Terra, resgatando e construindo uma nova racionalidade, na qual a vida está no centro, diferente da lógica capitalista que tem o lucro como primordial”.
Priscila complementa que “quando optamos pela agroecologia, começa a acontecer uma mudança cultural em nosso meio, e temos muito a aprender com as mulheres camponesas e agricultoras, que cultivam e produzem as miudezas, que são as preciosidades que muitas vezes garantem a renda, alimentos e a saúde da família”.
O debate com os participantes reforçou que tratam-se de elementos centrais para refletir sobre o camponês e a camponesa da contemporaneidade, mas também para entender o campesinato enquanto classe. Nesse sentido, Adalberto Martins, Setor de Produção do MST/RS, afirmou que “tão importante quanto compreender a riqueza e diversidade de identidades dos povos que compõem a cultura camponesa, é não perder de vista que o conceito de campesinato, construído pela Via Campesina, é o que permite compreender a exploração capitalista no campo, dando unidade e força política para a instrumentalização da luta”.
*Editado por Fernanda Alcântara