Campanha leva atendimento médico às famílias Sem Terra no extremo sul baiano

Iniciativa busca proporcionar acesso a saúde de qualidade aos Sem Terra no Extremo Sul baiano

Médicos Populares em assentamento no Sul da Bahia. Foto: Coletivo de Comunicação MST/BA

Por Coletivo de comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra tem realizou no Extremo Sul baiano atendimento médico para as famílias assentadas e acampadas da reforma agrária. A ação aconteceu no último sábado (12), no assentamento Jaci Rocha, localizado entre as cidades do Prado e Itamaraju.

Em plena pandemia, que tem exigido do governo do estado ações que visam o bem estar e saúde da população baiana, o MST determina o isolamento social produtivo em todas as áreas de acampamento e assentamento da reforma agrária popular.

Diante da posição de manter-se isolados mas produzindo alimentos saudáveis, o Movimento Sem Terra vem promovendo atendimento e acompanhamento médico para as famílias. Nesta edição, os médicos Saulo Rodrigues e Dilma Nascimento atenderam as famílias do Jaci Rocha.

Saulo é médico formado na segunda turma de medicina de Cuba, filho de assentado e assentada no Jaci Rocha. “A nossa tarefa é cuidar do povo, é levar atendimento especializado e de qualidade. Procedimentos clínicos ajudam a prevenir várias doenças, e tanto eu como meus amigos médicos estamos prevenindo as famílias e lutando contra o contágio do Covid-19”, afirmou.

“É o mínimo que podemos fazer, cuidar das famílias Sem Terra, pessoas que já não têm acesso a saúde de qualidade. Por isso trouxemos o atendimento até elas, continuaremos a exercer nossa função enquanto médico e enquanto ser humano”, conclui Rodrigues

Durante o atendimento, as famílias tiveram acesso a exames que, nas clinicas da região, teriam que pagar uma quantia de mais de 500 reais, sendo que muitos deles não teriam como custear.

Dilma Nascimento, médica ginecologista, obstetra e ultrassonografista, filha de assentada e formada em Cuba, também ressalta a importância desta ação. “É muito bom poder voltar as raízes de onde começou a minha luta, e toda a minha formação deve ser usada a serviço do povo. Hoje tivemos a oportunidade de realizar procedimentos clínicos, de ultrassom e ginecologia, entre outros. Estamos levando atendimento as famílias, esse é nosso dever enquanto médicos e militantes”, finaliza Nascimento.

MST em combate ao Covid-19

Em março desse ano, ao analisar a conjuntura e ver que o novo coronavírus estava se espalhando cada vez mais rápido e o contágio estava em níveis muitíssimos elevados, o MST tomou nacionalmente a posição política de que toda sua base estivesse em isolamento social produtivo.

Para Aimberê Jardim, do setor de saúde do MST da Bahia, assim que começou a pandemia essas ações foram planejadas. “Nós começamos a debater as principais medidas que poderíamos tomar como conjunto da organização, que poderia manter segura a vida e a saúde dos acampados e assentados. Nos baseamos muito no que foi indicado pela Organização Mundial da Saúde, mas também seguimos à risca as orientações dos médicos populares que estiveram e estão nessa trincheira de luta diariamente”, afirmou.

Depois das medidas que foram tomadas pelo Movimento Sem Terra, em cada assentamento e acampamento foram feitas placas de proibição da entrada por questão da pandemia. “Estamos isolados para o bem de todos, eu fico em casa por você e você fica em casa por mim” conclui Jardim.

Kaline Cruz, agroecóloga, acampada e comunicadora popular do MST , lembra que desde que a pandemia se iniciou o acampamento Egídio Brunetto começou a se mobilizar para se prevenir. “Depois de várias discussões entorno do assunto, decidimos montar guarita com todas as recomendações, abusamos do álcool em gel, da máscara e das luvas. Controlamos o fluxo de entrada e saída do acampado, e das visitas, para que pudéssemos estar mais seguros”. Conclui Cruz

Em todas as regiões da Bahia onde o MST tem acampamentos e assentamentos, foram tomadas medidas de segurança e de prevenção à saúde das famílias.

Rarielle Rodrigues, comunicadora popular do MST no Sul da Bahia e acampada,també, ressalta sua experiência. “Todas as áreas aqui do Sul da Bahia estão fechadas ainda, e os acampados e assentados fazem rotatividade nas entradas para garantir que ninguém entre. Montamos uma estrutura de cuidados com bastante álcool em gel, luva, álcool 70 e máscaras”, afirma Rodrigues.

Além de todo o processo de cuidado com cada família acampada e assentada, o MST na Bahia, em articulação do setor de saúde, montou junto a rede de médicos populares um grupo de monitoramento para acompanhar os assentamentos e acampamentos do estado.

“Os médicos e médicas populares que estão nessa função junto ao Movimento estão divididos nas 10 grandes regiões do estado. O monitoramento, os cuidados e as dúvidas foram tiradas a partir dos médicos nas regiões. Com essa ação, conseguimos até o presente momento ter índices baixíssimos de contágio dentro das áreas de reforma agrária. É o movimento cuidando das famílias”, diz Jardim.

O SUS e o povo do campo

O Sistema Único de Saúde surgiu a partir da constituição de 1988 com muita pressão popular, para que a saúde fosse um direito garantido a toda a população. Em sua essência, o SUS é incompatível com o capitalismo, porque ele tem um viés humanitário muito forte e básico, com a garantia ao pré-natal passando pelos cuidados necessários até o leito de morte, com todos os cuidados paliativos.

O sistema foi pensado para atender todos os sujeitos e sujeitas e, quando pensado sua estrutura, ele é tripartite, ou seja, recebe verba do governo federal, governo estadual e governo municipal. Por ser um sistema jovem, tem sofrido muita dificuldade de atuação, principalmente nas áreas mais remotas, seja por falta de verba, de responsabilidade pública ou de pessoas qualificadas.

Para Danilo Araújo, médico formado em Cuba, assentado no assentamento Antônio Araújo no Extremo Sul da Bahia, “as famílias assentadas e acampadas sofrem com a falta de acesso em saúde pública. A zona rural do Brasil sempre foi precarizada, apesar do MST ter a mobilização popular, a luta tem sido árdua para que todas e todos tenhamos acesso ao SUS”.

“A ineficiência do estado e dos gestores locais faz com que os assentamentos tenham extrema dificuldade em acompanhamento médico através do sistema único. Nossa luta enquanto organização é que nossas áreas saiam da invisibilidade. Em contrapartida, o governo agora congelou os gastos públicos e a saúde foi mais uma vez vítima dessa atrocidade”, afirma Araújo.

O setor de saúde do Movimento Sem Terra tem atuado com os médicos populares junto às famílias, acompanhando e exercendo práticas em saúde que visam a prevenção do vírus e o aumento de imunidade.

“A nossa tarefa e a tarefa do setor de saúde estão atreladas, assumimos o dever de estar no combate contra o Covid-19. Entendemos que esse momento é crucial para cuidar do nosso povo e a falta de informação é prejudicial, por isso que estamos e estaremos na luta pela vida”, finaliza Araújo.

*Editado por Fernanda Alcântara