Emília Alves Manduca: animadora de sementes e das lutas

Confira a biografia de Dona Emília, animadora de sementes criolas no Mato Grosso e homenageada do prêmio #AHistóriaQueEuCultivo

Arte da premiação “A História Que Eu Cultivo”, da Articulação Nacional de Agroecologia, que irá contemplar trabalhos em defesa da agrobiodiversidade no Brasil. Foto: Divulgação

Da Página do MST

15 de outubro de 1956. Nasce Emília Alves Manduca em Paraíso do Norte, Paraná. 17 de março de 1997, data registrada em um dos seus poemas como um “novo nascimento”. “Entre dois paredões de pedra, com luzes de caminhão e faroletes nas mãos, comecei a encontrar a minha dignidade”, escreveu sobre o momento em que, de madrugada, durante uma ocupação de uma fazenda improdutiva, “ela nascia nas bases do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)”. O episódio ocorrera em Mirassol D’Oeste, no Mato Grosso, região onde Emília cultivaria sua história de vida. Mulher negra, mãe de quatro filhos, avó de três netos, militante de muitas bandeiras, Emília faleceu no dia 1 de setembro de 2020, vítima de complicações pulmonares.

O legado deixado por ela é fantástico. A ocupação da qual ela participara nos anos 1990 se transformaria, após anos de luta, no assentamento Roseli Nunes, onde semeou, ao lado de suas companheiras e companheiros, diversas mobilizações pelos direitos dos povos. Já no primeiro assentamento do qual participou surgia a prática de coletar sementes de hortaliças, verduras, arroz, feijão, milho, dentre outras. Mas, na época, o pessoal ainda não sabia diferenciar as sementes nativas, híbridas ou transgênicas. Com o passar do tempo, Emília contava que foi “se educando na agroecologia”, transformando-se em uma “animadora de sementes crioulas”. E a cada semente que ela catalogava, guardava e trocava nas diversas feiras e encontros agroecológicos pelo Brasil, também semeava sabedoria, com ideias e ações em defesa da agrobiodiversidade.

Emília levantou a bandeira da reforma agrária, da luta contra os agrotóxicos, em defesa das águas, da educação no campo, dos direitos das mulheres, do cooperativismo… Mesmo após conquistar legalmente seu pedaço de terra em 2002, continuou vivendo “de acampamento em acampamento, de despejo em despejo”. Dizia que já tinha “terra e pão”, mas que continuaria sempre sendo Sem Terra enquanto vivesse.

“Estamos aqui para que esse povo todo seja assentado. Enquanto as injustiças estiverem acima dos trabalhadores e da vida, continuarei lutando”, afirmava Emília. E assim o fez. Integrou o MST, o Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (Gias), a Associação Regional de Produtores Agroecológicos (Arpa), a Cooperativa de Produção Agroecológica da Região Sudoeste do Estado de Mato Grosso, o Grupo de Mulheres Produtoras da Cerveja Artesanal Crioula, dentre outros.

Dona Emília, ou simplesmente Mimi, esteve presente rompendo cercas com rebeldia. Esteve presente na construção dos barracos e nas cozinhas dos assentamentos. Esteve presente na formação de novos militantes, nas assembleias e protestos. Esteve presente nas cirandas, cuidando das crianças. Ajudou a criar formas de viabilizar a educação de jovens e adultos no campo. Nos momentos de despejo, quando a fome ameaçava, juntava alimentos produzidos em assentamentos vizinhos e entregava comida, coragem e esperança. Ela esteve e sempre estará presente. Seus sonhos também são os nossos sonhos. Por isso, em agradecimento, o Grupo de Trabalho (GT) Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) presta homenagem a ela por meio do Prêmio #AHistóriaQueEuCultivo.

O Prêmio, realizado pelo GT Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), está com inscrições abertas até 10/12: www.ahistoriaqueeucultivo.com.br. Confira mais na matéria aqui!

*Editado por Fernanda Alcântara