Cadeia produtiva do leite é abastecida pela agricultura familiar no Brasil

Produção ascendente no Nordeste chega a quase 12% e pode aumentar com investimentos e beneficiamento do leite produzido por pequenas(os) produtoras(es)

A Laticínio Terra Conquistada será uma das próximas agroindústrias de cooperadas (os) da Reforma Agrária a ser lançada, beneficiando indiretamente mais de 500 famílias em Quixeramobim, Ceará. Foto: Acervo MST/CE

Por Lays Furtado
Da Página do MST

A produção de leite no Brasil está presente em 99% dos municípios, o que indica a importância desse produto e seus derivados entre as economias locais e nacional. Em 2017, a produção de leite brasileira foi de 33,5 bilhões, sendo 35,7% oriundos da região Sul, 34,2% da Sudeste, 11,9% da Centro-Oeste, 11,6% da Nordeste e 6,5% da região Norte.

E apesar da produção ser mais expressiva nos estados do Sul, nas regiões Sudeste e Centro-Oeste a quantidade produzida de leite caiu, enquanto nas regiões Norte e Nordeste ocorreu pequeno crescimento no período, de acordo com os dados da Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Neste período, a participação da agricultura familiar correspondeu a cerca de 60% da produção de leite bovino e quase 70% de leite caprino.

Ao que consta no Anuário do Leite da Embrapa 2019, o conjunto de estados da região Nordeste produziu 3,89 bilhões de litros de leite. Entre os nove estados que o compõe, os três com as maiores produções de leite foram Bahia, com 22,3%; Pernambuco, com 20,4%; e Ceará, com 14,8%. Nos demais estados, a produção de leite em relação ao total produzido no Nordeste foi de 11,2% em Alagoas, 9,1% no Maranhão, 8,7% em Sergipe, 6,1% no Rio Grande do Norte, 5,4% na Paraíba e 1,9% no Piauí.

Fonte: Anuário do Leite Embrapa 2019

Dessa forma, observam-se duas regiões mais dedicadas ao leite no Nordeste. A primeira formada pelos estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe; a segunda, no interior do Ceará. Sete microrregiões fizeram parte do grupo 1 e foram classificadas como as mais produtivas, localizadas no Vale do Ipanema e Garanhuns em Pernambuco; Batalha, Palmeira do Índios, Arapiraca e Traipu, em Alagoas, e Sergipana do Sertão de São Francisco, em Sergipe. No Nordeste, foi necessário somar a produção de leite de 80 microrregiões para totalizar 75% da quantidade de leite produzido. É a região com a menor densidade de produção por área.

Produção de leite por Estados Brasileiros da Região Nordeste, entre 2002/2007/2012/2017

Fonte: Anuário do Leite Embrapa 2019

Lácteos mais vendidos no Brasil

De acordo com a Pesquisa Industrial Anual do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentada em 2019, o leite longa vida é o derivado lácteo com o maior valor de vendas no setor em 2016, seguido de pelo de queijos.

Fonte: IBGE 2019, no Anuário do Leite Embrapa 2019

O leite UHT foi o 27º produto industrializado mais vendido no Brasil em 2016. Dentre os alimentos, ele perdeu apenas para carnes, açúcar, cervejas e refrigerantes. Entre os produtos lácteos que apresentaram maior valor de venda no país neste mesmo ano, se destacam:

MACYP/ Elaborado por Scot Consultoria, no Anuário do Leite Embrapa 2019

“Apesar do leite UHT ser o lácteo mais vendido no Brasil, são os queijos os produtos que têm apresentado maiores taxas de crescimento nos últimos anos. Enquanto o valor de vendas de leite UHT cresceu 138% entre 2005 e 2016, o valor de venda dos queijos expandiu-se 509%, ultrapassando as vendas de leite longa vida no último ano. Em volume de vendas, o leite longa vida ainda lidera, com crescimento de 24% no período analisado, chegando a 4,8 milhões de toneladas vendidas em 2016. Já os queijos tiveram crescimento de 124% no volume total vendido no período de 2005 a 2016, atingindo a marca de 785 mil toneladas vendidas em 2016. Com isso, o leite UHT teve sua participação reduzida de 48% para 33% do valor total de vendas do setor. Os queijos saltaram de 12,8% para 23,7%. Isso mostra diversificação no padrão de compra de lácteos dos brasileiros em busca de produtos de maior valor agregado. Além de apresentar uma grande variedade de tipos, sabores e tamanhos, os queijos atendem às novas tendências de consumo de alimentos nutritivos e, ao mesmo tempo, práticos no consumo”, aponta Kennya B. Siqueira, pesquisadora da Embrapa Gado de Leite.

Neste sentido, Dilei Schiochet, da direção nacional do MST, fala sobre a importância do processo de beneficiamento da produção de alimentos em meio ao cooperativismo e agroindústrias, que atendem as demandas do mercado e agregam valor aos produtos.

“Não tem como não pensar no beneficiamento que a gente chama de agroindústria. Aqui eu estou com um queijo de cabra, eu não sei se vocês sabem, mas a Paraíba é um dos maiores produtores de queijo de cabra do Nordeste. Se a gente vender 1 litro de leite de cabra nós vamos vender à R$1 e pouco, R$1,20. Agora, 1 kg de queijo de cabra já é outro valor”, analisou Dilei em aula sobre cooperativismo, durante a jornada de estudos do Curso Pé no Chão, promovida pelo Centro de Formação Paulo Freire.

Para se ter uma ideia, hoje podemos encontrar queijos de cabra com custo de R$435 o quilo no mercado de varejo, e com média de valor em torno de R$300/kg. Além do crescimento de consumo de produtos beneficiados, o mercado de laticínios aponta preferência por uma maior diversidade desses produtos, em busca de alimentos mais saudáveis e que detenham de informações éticas e sustentáveis em sua produção, o que deveria beneficiar o comércio de lácteos de pequenas(os) produtoras(es) e cooperativas, que detêm de responsabilidade social em cooperação e absorvem sistemas mais sustentáveis de produção.

Segundo as pesquisas de mercado da cadeia do leite, 41% das(os) consumidoras(es) buscam informações éticas e sustentáveis na hora da compra, 38% estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis, 30% estão dispostos a pagar mais por responsabilidade social. E seguindo essa tendência, 52% dos produtos lácteos lançados em 2018 incluíram alegações éticas em suas embalagens.

Infelizmente, mesmo o Brasil sendo o 4º maior produtor mundial de leite em 2017, ainda continua importando produtos lácteos.

* Esta é a primeira parte da reportagem sobre as principais cadeias produtivas do Nordeste. Confira artigo anterior sobre o tema no texto Conheça as principais cadeias produtivas da Reforma Agrária no Nordeste e fique de olho nos materiais que iremos publicar ao longo da semana!

**Editado por Fernanda Alcântara