Camponesas do MST partilham 6 toneladas de alimentos com mulheres da periferia de Londrina/PR

Ação envolveu oito acampamentos e assentamentos da região norte do estado e faz referência ao Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, 25 de novembro.
Mulheres em ação de doação de alimentos. Foto: Alexandrina Mariano e Elaine Machado

Por Setor de Comunicação e Cultura MST/PR
Da Página do MST

A luta pelo fim da violência contra as mulheres aproximou camponesas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e moradoras da periferia de Londrina, norte do Paraná, na manhã deste sábado (21). Mulheres acampadas e assentadas de oito comunidades da Reforma Agrária na região doaram 300 cestas de alimentos e artesanatos, totalizando cerca de seis toneladas.

A ação faz parte da campanha “Cultivar afetos, derrotar a violência”, lançada pelo MST neste mês para denunciar o aumento da violência contra as mulheres nesse período da pandemia da Covid-19. A iniciativa faz referência ao Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, 25 de novembro. 

Entre os itens das cestas estavam verduras, legumes, frutas, pão, leite, doces, conservas artesanais, além de pomadas caseiras, óleo de massagem, panos de prato, artesanatos em crochê e mudas de ervas medicinais.

Ceres Hadich, assentada da reforma agrária e da coordenação estadual do MST, explica que as mulheres do MST iniciaram a preparação da atividade há cerca de um mês: “O processo de preparação foi muito rico. Queremos chegar até as mulheres em condição de vulnerabilidade na cidade, que passam por uma situação difícil por conta da pandemia e da crise econômica que atravessa o Brasil, queremos dialogar diretamente com elas, pois nós mulheres entendemos e sentimos na pele o que passam”.

As mulheres do MST escreveram cartas. Foto: Alexandrina Mariano e Elaine Machado

As camponesas também escreveram cartas em que contam suas histórias na luta pela reforma agrária. Os textos têm o objetivo de transmitir uma mensagem de apoio, afeto e solidariedade às mulheres da cidade que vivem em situação de vulnerabilidade e que, muitas vezes, além das tarefas diárias de donas de casa, sustentam suas famílias, educam os filhos e podem enfrentar relacionamentos abusivos com seus parceiros. 

“Pretendemos levar muito mais que o alimento, mas também carinho e afeto, por isso o conteúdo das cestas é especial, ele leva sonhos, conquistas e, sobretudo, a crença de que é possível ter um futuro e uma sociedade melhor para nossas famílias”, garante a coordenadora do MST. 

A atividade é realizada em parceria com a Associação Amigas do Vista Bela, o apoio da Rede de Médicos e Médicas Populares de Londrina e os acampamentos e assentamentos Fidel Castro e Maria Lara, de Centenário do Sul; Herdeiros da luta de Porecatu, de Porecatu; Zilda Arns e Manoel Jacinto Correia, de Florestópolis; o assentamento Eli Vive, de Londrina; o assentamento Dorcelina Folador, de Arapongas; e o acampamento Maila Sabrina, de Ortigueira.

“Essa ação é muito importante para os moradores do nosso bairro, porque como todos sabem, a gente está num momento difícil […]. Então hoje, na hora do almoço, amanhã e nos próximos dias são essas coisas que alimentarão as nossas famílias”, conta Luzia Aparecida da Silva, integrante da Associação. 

A atividade se soma à campanha nacional de solidariedade encapada pelo MST desde o início da pandemia. Com a ação deste sábado, as famílias Sem Terra do Paraná chegam à marca de 442 toneladas de alimentos doados ao longo dos meses. Ao todo, 51 acampamentos e 121 assentamentos do MST participaram das campanhas solidárias.   

Lema da campanha promovida pelo MST. Foto: Alexandrina Mariano e Elaine Machado

Dados da Violência contra as mulheres

Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com a empresa Decode, feito a pedido do Banco Mundial, revela aumento de 431% em relatos de brigas de casal por vizinhos em redes sociais entre fevereiro e abril deste ano. A mesma instituição registra que os casos de feminicídio cresceram 22,2%, entre março e abril deste ano, em 12 estados do país, comparativamente ao ano passado.

No início da quarentena, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro divulgou o aumento de mais de 50% dos casos de violência no Estado. Já em São Paulo, entre 19 de março e 13 de abril houve um aumento de mais de 50% de feminicídio dentro de casa, em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com os dados da Secretaria de Segurança Pública.

No Paraná, em 2019, das 40.797 notificações de violência interpessoal e autoprovocada registradas, 76,3% ocorreram na residência, sendo que 68,4% foram praticadas contra mulheres. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, no período de janeiro a maio de 2020 houve predomínio da violência física (48,8%) praticada contra mulheres, seguida pela violência psicológica/moral (26%), negligência/abandono (14%) e violência sexual (13%).

*Editado por Maria Silva