Terra Vista: produção de chocolate orgânico e gourmet do MST na Bahia é fruto de inovação produtiva

Cultivado em sistema agroflorestal conhecido como cacau cabruca, a produção beneficia a biodiversidade da Mata Atlântica, gerando trabalho e renda aos assentados e assentadas e jovens Sem Terra da Reforma Agrária

Imagem de divulgação do chocolate Terra Vista. (Foto: Coletivo de Comunicação do MST/BA)

Por Lays Furtado
Da Página do MST

No documentário “Cacau para Sempre” (2012), o engenheiro florestal, Dan Lobão, conta que Cabruca, é um termo de origem Tupi-Guarani que significa “abrigo do cacau sobre a mata”. Que não representa só um meio de produção, mas sim uma ideia de sociedade baseada na cultura do cultivo do cacau, integrada à preservação das matas que se assentam sobre a Bahia.

O estado é o segundo maior na produção de cacau do país, disputando a primeira colocação ocupada pelo Pará. Produção garantida pela agricultura familiar camponesa, assim como é na maior parte do Brasil.  

Dados do Censo Agropecuário de 2017, apontam que a agricultura familiar é responsável por 80% dos estabelecimentos que plantam cacau, e que mais de 60% da produção de amêndoa de cacau está presente em assentamentos de Reforma Agrária.

O chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia, Jeandro Ribeiro, reconhece no portal do Mercado do Cacau, que o Estado já é referência na produção de chocolate no mundo todo e com participação ativa da produção de chocolates de excelência com participação da agricultura familiar.

Graças à essa produção de altíssima qualidade, desde 2019, o país é reconhecido como produtor e exportador de cacau fino e de aroma pela Organização Internacional do Cacau (ICCO).

Segundo o relatório anual da ICCO, em meio século, tanto a oferta quanto a demanda mundial do cacau crescem em média 2,5% anualmente. Cada vez mais os mercados clamam por chocolates mais saudáveis e com maior exigência de qualidade, valorizando produtos diferenciados do mercado tradicional.

Com isso, se espera que nos próximos anos, seja possível colher os frutos de investimentos prometidos para esse setor promissor da fruticultura e do mercado de chocolates “finos” e “gourmets”, gerando renda nos assentamentos para as trabalhadoras e trabalhadores em cooperação, considerados como cacauicultoras e cacauicultores e “chocolatier”. Além de garantir a preservação do bioma nativo da Mata Atlântica do litoral sul baiano.

Origens do cacau criolo

Novos estudos apontam que o cacau criolo foi domesticado na bacia Amazônica antes de conquistar o mundo.

Ilustração sobre o consumo do cacau na cidade Maia de Calakmul. (Foto: Kenneth Garret/ Acervo National Geographic)

As Evidências arqueológicas demonstram que há quatro séculos o cacau era preparado como bebida em forma de ritual dedicada aos deuses e deusas. Além de ser usado na gastronomia, medicina e até mesmo como moeda de troca. O que simboliza seu grande valor para diversos grupos sociais, desde épocas muito antigas.

E apesar de, se creditar que a origem do cacau viria da região mesoamericana, cultivado por civilizações nucleares como a Olmeca e Maia,  por exemplo.  

Através de um estudo recente, que leva em consideração a formação de genômas da planta, foi descoberto que a espécie ‘crioula’ do cacau foi domesticada pela primeira vez na América do Sul (no atual Equador). Região do Alto Amazonas, e não na América Central, como se acreditava anteriormente.

* Esta é a primeira reportagem sobre a cadeia produtiva do cacau, que faz parte da série de reportagens sobre as principais cadeias produtivas do Nordeste. Estaremos atualizando os especiais de acordo com a publicação na página do MST. Confira!

**Editado por Solange Engelmann