De forma virtual, MST reúne amigos e parceiros para fechar o ano de 2020

O evento reuniu mais de mil pessoas de todos os cantos do mundo neste sábado (19), de forma virtual e transmissão online no Youtube do Movimento Sem Terra
Encontro das Amigas e Amigos do MST de 2020 celebra e projeta lutas unitárias do próximo período. Imagem: Reprodução

Por Fernanda Alcântara e Solange Engelmann
Da Página do MST

Registro aqui minha irrestrita solidariedade ao MST e à luta por Reforma Agrária! Um bom natal a todos, com muita saúde! E Guardemos o pessimismo para dias melhores!

Frei Betto, em mensagem para o encontro do MST

Esperançar é almejar, sonhar, agir, buscar. É o contrário de esperar, apesar de muitos associarem esperança a esse verbo. Acreditamos que em meio à dor e às lágrimas desde ano de 2020 que exigiu tanto de todas e todos nós, é nosso direito e dever debater, celebrar e organizar as lutas unitárias do próximo período.

Este foi o tom do já tradicional Encontro das Amigas e Amigos do MST. Seguindo todas as normas de segurança e prevenção contra o coronavírus, o evento reuniu mais de mil pessoas de todos os cantos do mundo neste sábado (19), de forma virtual e transmissão online no Youtube do Movimento Sem Terra.

A mística de abertura do encontro contou com vídeos que relembraram algumas das atividades e lutas realizadas pelos trabalhadores e trabalhadoras do MST no ano de 2020. Um deles foi o Canto das 3 Raças, gravado para o especial da Consciência Negra. Seguiu-se com Fantasia, música de Chico Buarque reinterpratada pela Frente de Música do MST João do Vale, com mensagens poéticas sobre o direito de sonhar e gritos sobre como a luta se mantém. Com a transmissão do ato de plantio de árvores em alguns estados a atividade também comemorou os frutos e convocou as famílias Sem Terra a seguir na Campanha Nacional “Plantar árvores, produzir alimentos saudáveis”!

Doação de alimentos em Alagoas. Imagem: Reprodução

A cerimônia foi conduzida por Raul Amorim, da Coordenação da Articulação de Redes do MST, e Rosana Fernandes, da coordenação político-pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), além da participação de integrantes e dirigentes do Movimento que fizeram participações e inseriram visões de diferentes espaços que compõem a luta.

O primeiro bloco conduzido por Ceres Hadich, MST paranaense apresentou a solidariedade praticada pelas famílias Sem Terra no período de pandemia e como este processo se constituiu de diversas formas. Falaram inicialmente Paulo Lima, conhecido como Galo, criador do Movimento dos Entregadores Antifascitas, Alex Guilherme, diretor do Sindipetro PR e SC e da FUP, e Alfredo Gomes, reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Galo, ressaltou a admiração pela luta do MST e agradeceu a solidariedade e parceria do MST no momento de crise da pandemia, após ter sido bloqueado por vários aplicativos, devido a mobilização dos entregadores Antifascistas. “O MST é um dos movimentos que mais ajudou os entregadores antifascistas. Depois que a luta se iniciou fui bloqueado pelos aplicativos, o MST junto com a [editora] Expressão Popular abriram espaço pra entregar livros. A luta é essa, a gente estar junto para ir aprendendo e conseguir extrair o que tem de melhor. O MST é um movimento que admiro, pela força, história e garra que tem”, comemorou.

No segundo bloco, Zé Ricardo, do MST no Ceará falou sobre a força e a história do MST e como isto se inspirou nesta luta para a quarentena produtiva e as ações construídas neste período. As mensagens vieram a partir da fala de Cristina Bezerra, professora na Universidade Federal de Juiz de Fora, e do ator, diretor, produtor e autor Sérgio Mamberti, que além de falar sobre o carinho que tem ao MST, recitou o poema Liberdade, de Carlos Marighella.

MST doa alimentos à população no Pará. Imagem: Reprodução

Nesse bloco, um vídeo relatou as ações de solidariedade do MST em parceria com outros movimentos populares e entidades em durante da crise do Covid-19 e comemorou a doação de quase 4 mil toneladas de alimentos orgânicos e sem veneno. No espírito de dividir o que se tem, não o que sobra, no decorrer de 2020 as famílias Sem Terra dividiram com a população mais necessitada os alimentos e frutos da Reforma Agrária, produzidos nos assentamentos e acampamentos em diversas campanhas nacionais, estaduais e regionais de solidariedade, entre elas a Campanha Periferia Viva, Vamos precisar de todo mundo, Expressão Solidária, Gente é pra brilhar e não pra morrer de fome, Nós por nós, entre outras.

Também foram lembrados as companheiras e companheiros que nos deixaram neste ano de 2020, desde os mais conhecidos, como Dom Pedro Pedro Casaldáliga, o “bispo do povo” que uniu os povos oprimidos da América Latina, até a Tia Zilda, a mulher que fazia pequenas revoluções da Secretaria Nacional. Para todos, a mensagem: “Nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta!”

João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, compartilhou uma análise de conjuntura destacando o momento político e as dificuldades nestes tempo. “A novidade da conjuntura atual não está apenas na ausência da agricultura familiar e na produção de alimentos saudáveis. Este governo age contra a Reforma Agrária e realiza várias medidas para a acabar com o INCRA [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], fechando dois setores principais: o departamento que aquisição de terras e o Pronera [Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária]. Não realizaram nenhuma desapropriação de terra e constroem fakenews para nos desmoralizar”, afirmou.

A resistência ativa, segundo Stédile, é a forma como o MST tem enfrentado o desgoverno e sua posição contra a população brasileira. “A Reforma Agrária não é uma pauta do MST. Ela está na Constituição. Ser contra a RF é ser contra os direitos estabelecidos”. Em sua visão propositiva para 2021, Stédile aponta que, com a posição de reaproximação com a classe trabalhadora da sociedade brasileira sairemos mais fortes e mais preparados para estes desafios.

No terceiro bloco, Liu, do MST na Bahia, aprofundou o debate sobre a resistência ativa e como estas ações se consolidam na atual conjuntura. A jurista Deborah Duprat foi convidada a falar com alguns exemplos e demonstrou de forma articulada alguns avançamos conquistados nestes processos. Outro convidado foi o deputado federal Nilton Tatto (PT/SP), que ressaltou a importância da Agricultura Familiar e os atuais desafios enfrentados pelos movimentos populares do campo, das águas, das florestas e do campo unitário nessa área.

“Essa ação ativa, permanente, de forma articulada com os amigos no parlamento é uma das formas de luta pra resistir aos retrocessos e avançar. Muito obrigada pela solidariedade e generosidade do MST”, afirmou Tatto.

Para completar o bloco, foram convidados à falar o advogado popular e de direitos humanos Paulo Mariante, do Conselho Popular LGBTI, que ressaltou a importância de promoção da diversidade e as lutas populares neste contexto. A juiza Kenarik Boujikian iria finalizar o bloco, porém, devido a problemas técnicos, ficou impossibilitada mas mandou digitalmente seus cumprimentos às apresentações.

Judite Santos apresentou o último bloco, ressaltando o debate internacionalista e a luta pela liberdade dos povos. Ela convidou para as falas Glória Casaldáliga, representante do Comitê de Amigos do MST de Barcelona, na Espanha que terminou ressaltando a necessidade dos movimentos populares dos campo seguirem no caminho de “Globalizemos a luta, globalizemos a esperança!”.

Glória fez questão de mostrar a solidariedade dos comitês do exterior com o MST e a Reforma Agrária e chamou atenção sobre a necessidade dos povos avançarem nas ações solidárias nesse momento de crise. “A tecnologia que tem sido imposta pela situação do covid nos serve nesse momento para compartilhar lutas e enfrentar os novos desafios, que vivemos”, pontuou.

Também foram apresentados os cumprimentos de Alfredo, representando a Confederação Nacional dos Camponeses de Portugal e representou, em sua fala, a Via Campesina, e Jô, da Assembleia Internacional dos Povos. Um vídeo foi apresentando sobre a união dos povos por uma vida digna, um mundo além do capitalismo e as brigadas internacionalista em Cuba, Venezuela e Zâmbia.

Marina do Santos, da direção nacional do MST, relembrou os tempos sombrios vivido pela população mundial, para apresentar uma mensagem final sobre a perspectiva de organizar e pensar uma nova sociedade. Antes, convidou à fala Dona Marinete, mãe da vereadora assassinada Marielle Franco, para trazer uma mensagem de esperança.

“Ser amiga do MST é de uma importância muito grande, estamos vivendo um ano atípico de muita luta, dores, e poder ser estar junto a este projeto incansável deste é para se ter esperança. Traz uma mensagem a todos que se mantém de pé diante destas dificuldades, e me junto a estes coletivos que se mantém com tanta humanidade em processos como esse. Saúdo e me junto a todos que tiveram os seus entes queridos, que possamos ter a vacina e esperança.”, afirmou Dona Marinete.

Na mensagem final, a dirigente nacional do MST, Marina do Santos enalteceu o sentimento de esperança para 2021, desejando a todos os trabalhadores e trabalhadoras um ano de construção na emancipação dos povos, finalizando com o nosso tradicional “Pátria Livre: Venceremos!” .

O vereador Eduardo Suplicy (PT/SP) trouxe sua energia inspiradora e citou a mensagem do Papa Francisco sobre sonhar e perseverar no próximo período.

A ideia foi reafirmar a necessidade da vida que renasce e, assim celebrar a esperança e interligar a existência humana com a natureza. Momento de recompor os valores da solidariedade humana, da igualdade de gênero, de raça e etnia, e enfim, nos recuperar e renovar a nós todos e todas e o ambiente que habitamos.

“Reforma Agrária Já”, concluiu Suplicy.

Confira o Encontro das amigas e amigos do MST na íntegra