Análise da Conjuntura

16 pontos sobre a conjuntura política brasileira

Anotações de fatos recentes na luta de classes

Governo e ruralistas se unem contra o futuro do país
Foto: Greenpeace/Arquivo

Da Página do MST

Falar em conjuntura é compreender o contexto político que nos encontramos e os próximos passos das nossas lutas cotidianas. Uma análise da conjuntura estimula a reflexão sobre os diversos retrocessos econômicos, políticos e sociais do Brasil e vem acompanhada de alguns apontamentos compreender os fatos do presente sem abrir mão de um olhar mais à longo prazo.

Confira abaixo algumas destas observações sobre o contexto atual:

1. O ano começou com o clima mais favorável para a luta por Fora Bolsonaro

2. A retomada da pandemia, com aumento de contaminados e mortos, as cenas de Manaus com mortes por falta de oxigênio e famílias se aglomerando em torno de caminhões do insumo, que era era previsto semanas antes, chocaram a sociedade e atestaram a incapacidade do ministro Pazuello. 

3. O avanço da vacinação fora do país e a demora do governo para liberar o uso emergencial das vacinas desenvolvidas pela Butantã (Coronavac) e pela Fiocruz (Oxford-Atrazeneca) e falta de organização na garantia da vacinação para população, deram mais uma demonstração de como o governo Bolsonaro é incapaz e insensível diante de tantos mortos, que podem seguir ainda pro muito tempo matando mais de mil brasileiros por dia!

#Fora Bolsonaro em todo o país. Foto: Arquivo MST

4. Houve um panelaço bastante expressivo, com adesão de setores que ainda estavam em cima do muro em relação ao governo Bolsonaro; duas carreatas (uma da esquerda, que aconteceu em quase todos os estados e em centenas de municípios, e outra da direita), que tem sido realizadas em menor dimensão todos os finais de semana; e foi protocolado um novo pedido de impeachment conjunto dos partidos de oposição.

5. A crise econômica tem crescido no país, como desemprego em mais de 14% (mais de 14 milhões de pessoas) somados a outras 6 milhões que desistiram de procurar emprego, e outros 40 milhões de trabalhadores que vivem de bico, sem renda garantida, totaliza 60 milhões trabalhadores adultos, alijados da economia, dos direitos, da cidadania e de futuro. 

6. O fim do auxílio emergencial cortou a renda de 68 milhões de pessoas que chegaram a receber o benefício, sendo que 11 milhões foram mulheres chefes de família, prenuncia uma tragédia social. Até agora, nem o governo nem o Congresso apresentaram uma proposta para garantir a sobrevivência desse contingente da população, em um momento em que a pandemia teve um repique. Falam apenas de garantir 200 reais por três meses, para as famílias que recebem bolsa-família, que são ao redor de 11 milhões de famílias apenas.

7. No quadro de crescimento da rejeição a Bolsonaro e queda da aprovação, por conta da crise sanitária e da crise econômica, o governo fez uma ofensiva para a eleição para a presidência da Câmara e do Senado, com a liberação de 3 bilhões de “restos a pagar” de 2020 em formato de emendas para obras.

8. As eleições do congresso para a presidência da Câmara, Arthur Lira, e para a presidência do Senado, Rodrigo Pacheco, foram feitas pela força do centrão e da velha arena, aumentando a influência DA DIREITA tradicional no governo. É claro que a esquerda não tinha nenhuma chance de eleger seus representantes. Ainda que a imprensa burguesa esta propagandeando que foi uma derrota da esquerda, o que houve de importante foi uma divisão no campo da direita: os bolsonaristas não podem assumir protagonismo, como extrema direita, e a direita se dividiu entre oposição e apoio a Bolsonaro.

9. A divisão entre a direita (centro-tucanos, direita-liberal ou direita-democrática) precipitou um desmanche do projeto 2022 (com Dória, Maia, Huck e Mandetta) e enfraquece a proposta da frente ampla, que reuniria todos os setores com contradições com Bolsonaro. Na hora do “vâmo ver”, os deputados de DEM e PSDB votaram no preferido de Bolsonaro na Câmara. 

10. O governo começa a construir uma base parlamentar mais estável, criando uma simbiose entre Bolsonaro-Arenão, com base na liberação de cargos, emendas e recursos. Aumenta a dependência de Bolsonaro em relação chamado “centrão”. E assim, os interesses dos capitalistas, da burguesia tenderão a passar a boiada no congresso, com suas pautas econômicas prioritárias..

11. Neste quadro, aumentam as dificuldades para a abertura de um processo de impeachment e, consequentemente, de reversão de expectativas de avanço com a bandeira do “Fora Bolsonaro”, em comparação ao cenário do mês de janeiro. A partir de agora, os projetos do governo devem acelerar e teremos que conter a retomada da agenda neoliberal, como o projeto de independência do Banco Central, a reforma administrativa contra os serviços públicos, as privatizações das empresas públicas e a pauta conservadora, com liberação de armas. 

12. Em relação ao caso do Lula, a divulgação de novos trechos das conversas em grupo de Telegram da Operação Lava Jato, às quais a defesa teve acesso depois de decisão do ministro do STF Ricardo Lewandowski, dá mais provas da imparcialidade e manipulações do ex-juiz Sérgio Moro e do conluio com os procuradores para perseguir o ex-presidente e impedir a candidatura de 2018.

13. A dissolução da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) da operação Lava Jato, em Curitiba, no dia 1º fevereiro, representa uma derrota simbólica, mas os métodos e procedimentos de exceção, que foram usados nesses sete anos, estão espalhados por todos o sistema de Justiça e por todas as instâncias do Poder Judiciário.

14. A apreciação na 2ª turma do STF do HC de suspeição do Moro, pedido pela defesa do ex-presidente Lula, pode acontecer nos próximos meses. Diante do desgaste da Lava Jato e da contradição do “totalitarismo penal”, está em curso um “acordo por cima” para considerar Moro suspeito, mas manter os direitos políticos do Lula suspensos. 

15. Diante disso, a mobilização da sociedade é fundamental para que se efetive a anulação das sentenças do Lula, com a retomada dos seus direitos civis e políticos, e a revisão das ações da Operação Lava Jato, apontando para uma reforma do sistema de justiça para garantir o direito de presunção de inocência e o devido processo legal. 

16. Por tanto, seguimos numa conjuntura politica instável, aonde as forças políticas do povo não tem como se expressar com a pandemia. Mas há um clima de aumento das tensões sociais, que pode levar a grandes mobilizações populares no futuro. Como única forma de conseguir avançar nos três pontos unitários das forças sociais e populares: Vacina Já, com recursos para o SUS; Auxílio de Emergência de 600 reais e aprovação de lei Assis carvalho, que garante auxílio de emergencial de R$ 1.600 para cada família camponesa, e a necessidade de Fora Bolsonaro!