Transformação Social

Manifesto Comunista segue central na luta das classes trabalhadoras, aponta intelectual marxista

Para Paulo Netto, o Manifesto Comunista segue inspirando as classes trabalhadoras no horizonte da superação do capitalismo e construção de uma sociedade livre

Da Página do MST

(…) Canta, canta uma esperança
Canta, canta uma alegria
Canta mais
Revirando a noite
Revelando o dia
Noite e dia, noite e dia
Canta a canção do homem
Canta a canção da vida (…).” (Música Fantasia, de Chico Buarque)

A mística de abertura trouxe o canto de trabalhadores e trabalhadoras do MST, com a música Fantasia, de Chico Buarque, encenando a alegria e a esperança dos povos, e vários militantes e ativistas de movimentos e organizações populares que se revezaram na leitura de trechos do Manifesto do Partido Comunista.

(…) Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a perder nela, além de seus grilhões.
Têm um mundo a conquistar.
Proletários de todos os países, uni-vos!”, declara a parte final do Manifesto.

Nesse clima de esperança, resistência e com chamado sobre a importância da união dos proletariados de todo mundo, teve início a aula aberta sobre a atualidade do Manifesto do Partido Comunista, com o escritor, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e intelectual marxista brasileiro, José Paulo Netto, realizada virtualmente neste domingo (21).

 A aula contou com a participação de cerca de 500 pessoas e foi promovida pelo Alba Movimentos, pela Editora Expressão Popular e pelo MST , com o intuito de debater a importância e a atualidade do Manifesto Comunista para as lutas e a organização popular. A atividade integrou as comemorações do Dia Internacional do Livro Vermelho, que relembra o lançamento do mais “vermelho” de todos os livros, o Manifesto do Partido Comunista lançado em 21 de fevereiro de 1848, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels.

Escrito há 173 anos, o Manifesto do Partido Comunista, panfleto que entraria para a história moderna da humanidade pela sua contribuição à luta do proletariado, não contava com mais de 30 página no seu original. Na visão de Paulo Netto, o Manifesto Comunista segue tendo importância central na luta das classes trabalhadoras como um documento histórico de caráter teórico-político, que apresenta uma diretriz para ação prática do proletariado revolucionário.

“A novidade do Manifesto Comunista é a formulação de uma programática a partir de uma análise teórica sobre o processo pelo qual se constitui a sociedade burguesa assentada num modo de produção capitalista e a convocação política. É a expressão da unidade entre teoria e prática – que marcou o pensamento de Marx e Engels”, explica. Ou seja, segundo o palestrante, a função teórico-política do Manifesto se revela na análise teórica que apresenta hipóteses de trabalho e pistas de pensamento, além da convocação para o proletariado em se unir, organizar, tornar-se combativo e estabelecer um programa de lutas.

Noite do Livro Vermelho realizada no Armazém do Campo SP em fevereiro de 2020. Foto: Luara Del Chiavon

Outro elemento novo do Manifesto é que passa a considerar como sujeito de vocação revolucionário, o proletariado. “O Manifesto Comunista sustenta que no marco das lutas de classes do século XIX a classe vocacionada para a transformação revolucionária do mundo é o proletariado. É na revolução de 1848 que o proletariado emerge, surge como classe revolucionária”, pontua o professor.

Por outro lado, apesar da autoria de Marx e Engels, dois jovens revolucionários na época, o documento é produto de uma reflexão coletiva, ampla que envolveu grande parte dos militantes da Liga dos Comunistas. “O que é original do Manifesto Comunista não é sua forma. É que ele faz uma proposta programático-política, de um programa revolucionário que não sai da cabeça ou resulta dos desejos dos seus autores”, ressalta o escritor.

Paulo Netto apregoa ainda que a atualidade do Manifesto Comunista “salta aos olhos” e “entra nos nossos poros”. Segundo ele, isso ocorre devido à continuidade da luta e exploração de classes, que segue fazendo parte da história da sociedade atual. Bem como, a concepção do Manifesto sobre o papel do Estado moderno que continua sua atuação como comitê em defesa dos interesses e negócios da classe do capital, ou seja da classe dominante. E o espaço do mercado mundial como o lugar de dominação da burguesia.

“As lutas de classes continuam sendo, parte constitutiva da processualidade histórica do nosso tempo. Isso parece hoje claramente comprovado. No caso da nossa sociedade contemporânea é resultado de uma relação particular entre capital-trabalho. Relação que se expressa no caráter explorador do capital em face do trabalho.

Porém, para o professor o Manifesto não pode ser lido como um documento sagrado, mas como um documento histórico, datado que possui uma atualidade, ao mesmo tempo em que contém teses e propostas que precisam ser atualizadas. Contudo, Paulo Netto indica que o Manifesto Comunista segue inspirando as classes trabalhadoras no horizonte da superação do capitalismo e construção de uma sociedade livre da propriedade dos meios de produção e sem exploração.

“Não queremos uma sociedade qualquer, queremos a socialização dos meios fundamentais de produção para acabar com a exploração. E pra criar uma sociedade onde o livre desenvolvimento de cada um seja a condição para o livre desenvolvimento de todos. Isso é possível com a supressão da propriedade privada dos meios fundamentais de produção”, conclui.

Assista a aula na íntegra:

Em celebração ao Dia Internacional do Livro Vermelho, comemorado por várias editoras de esquerda, movimentos populares, partidos políticos, sindicatos e militantes no mundo todo, neste domingo (21), militantes do MST de diversos estados usaram a hashtag #DiaDosLivrosVermelhos e #RedBooksDay para divulgar fotos e vídeos nas redes sociais, com a leitura de trechos do Manifesto Comunista.

#DiaDosLivrosVermelhos. Foto: Divulgação MST
#DiaDosLivrosVermelhos. Foto: Divulgação MST
#DiaDosLivrosVermelhos. Foto: Divulgação MST

*Editado por Fernanda Alcântara