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Celebre o Dia do Livro Vermelho

No dia de hoje, 21 de fevereiro, comemoramos 176 anos do Manifesto Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels
Foto: Wellington Lenon

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Imortalizado por apresentar reflexões, desafios e perspectivas da luta de classes no mundo, o Manifesto Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, na Inglaterra, em 1848, é um documento histórico extremamente importante para entender os dias de hoje. Na época, ele armou a classe trabalhadora com a demonstração científica da necessidade de derrubar o capitalismo e da vitória do proletariado, definindo tarefas e objetivos. 

O livro foi escrito como um programa da Liga dos Comunistas por decisão do seu 2º Congresso realizado em Londres, entre 29 de novembro e 8 de dezembro de 1847. Seu lançamento representou o triunfo dos defensores da nova linha proletária no quadro das discussões no interior do movimento. 

Miguel Yoshida, da coordenação da editora Expressão Popular, explica que o Manifesto foi lançado anonimamente, porque ele era na verdade o programa de uma organização política. “Isso é importante, porque embora o Marx e o Engels tenham sido os autores do Manifesto, ele é a síntese de um debate programático daquela época.”

Miguel Yoshida integra a coordenação da editora Expressão Popular. Foto: Priscila Ramos

O Dia do Livro Vermelho surge em 2020. A data é uma iniciativa de um conjunto de editoras, entre elas, a Expressão Popular, no Brasil; Batalha de Ideias, na Argentina; e Left Word, na Índia. Esta última, por sua vez, já realizava uma discussão com outras editoras no país sobre a possibilidade de construir uma data que fosse de celebração da cultura de esquerda e o “21 de  fevereiro foi escolhido, porque foi o dia de lançamento do Manifesto Comunista, em 1848”. 

Nesse sentido, Yoshida afirma que “a ideia é que nesta data possamos recuperar essa tradição inaugurada lá no Manifesto Comunista para manter viva a cultura de esquerda” e continua:

“Ela [a data] foi construída em dois aspectos: o primeiro é de recuperar as experiências coletivas, fazendo encontros para ter a leitura coletiva de livros vermelhos e construindo uma vivência coletiva; e a segunda é de recuperar essa tradição teórica inaugurada pelo Manifesto Comunista. Então, a ideia do dia 21, é de manter viva a chama da teoria e da prática por meio dessas leituras coletivas e dessa tradição de luta.”

O Manifesto hoje

Yoshida apresenta brevemente as principais contribuições do Manifesto Comunista para se pensar, organizar e dar sentido às lutas populares na atualidade, tendo como ponto de partida o olhar para nossas especificidades e para a natureza da luta de classes hoje. 

O Manifesto tem algumas partes, porém ele destaca duas importantes. “A primeira delas, é a parte mais longa e a ‘mais famosa’, digamos assim, que é onde o Marx e o Engels fazem um diagnóstico do surgimento do capitalismo, pensando sobre a lógica de funcionamento do capitalismo. Na famosa frase que inicia o Manifesto que diz ‘a história de todas as sociedades até hoje é a história da luta de classes’, eles já fazem uma análise histórica do processo da sociedade humana”, explica. 

Ele conta ainda que o capitalismo não é uma coisa que sempre existiu, não é uma coisa natural, é uma fase histórica da nossa sociedade. “E, portanto, ele pode ser transformado. A partir disso, eles [Marx e Engels] vão refinando essa análise, pensando nos aspectos econômicos. Pensando qual é a relação dos aspectos econômicos com os aspectos culturais, políticos e ideológicos e eu acho, que isso aí para nós é muito importante. Pois, embora o capitalismo tenha mudado de 48 para cá, o capitalismo segue vigente”, enfatiza.  

Além dessas ideias, que fundamentam o olhar sobre a realidade e se aplicam atualmente, Yoshida chama atenção para a parte programática do Manifesto. 

“Depois vocẽ tem um trecho que é mais programático mesmo, onde várias medidas eram próprias da Europa, que já não nos dizem respeito. Mas, ao mesmo tempo, tem várias coisas ali que eles colocam como importantes, que não foram concretizadas. Então, se a gente for pensar aqui no Brasil, por exemplo, nós temos a reforma agrária, que é uma demanda de muito tempo e que segue vigente.”

“Eu acho, que se a gente for pensar na atualidade do Manifesto hoje, precisamos destacar essa análise que eles fizeram sobre o capitalismo como um modo de produção histórica. Ou seja, estamos falando de um modo de produção que tem um começo, está sendo desenvolvido pela humanidade, e a gente como seres humanos temos a capacidade de transformá-lo e acabar com ele. E precisamos pensar, que ele [o Manifesto] era um síntese de um programa político. Então é um documento que foi construído coletivamente e que é uma síntese política programática. Pensar esses dois aspectos hoje na atualidade ainda nos coloca muitas tarefas.”

Base de estudo

O Manifesto Comunista é a base de reflexão e estudo para muitos pensadores, que se desafiaram a elaborar em torno da realidade no modo de produção do capitalismo. No Brasil, por exemplo, evidencia-se o trabalho do sociólogo Florestan Fernandes, no livro “A Revolução Burguesa no Brasil”, onde o autor se utiliza das bases e dos conceitos concebidos pelos comunistas da Inglaterra para escrever sobre a burguesia brasileira. 

Outro trabalho proeminente é “Gênero, Patriarcado, Violência”, da socióloga brasileira Heleieth Saffioti, que atualiza o trabalho de Marx e Engels a partir da realidade das mulheres brasileiras.

Confira abaixo a leitura de trechos do Manifesto Comunista:

*Editado por Fernanda Alcântara