Cultura Popular
Instrumento de lutas e acordes: conheça a origem da viola caipira
Por Vanessa Nicolav
Do Brasil de Fato
Um instrumento verdadeiramente brasileiro, que sempre acompanhou as festas, alegrias, dores e sonhos do povo do campo. Essa é a viola caipira. Você já deve ter ouvido. Mas você conhece sua história?
A viola chegou ao Brasil pelas mãos dos jesuítas, que tocavam o instrumento para encantar os indígenas, especialmente os curumins. Um dos seus mais famosos tocadores dessa época foi José de Anchieta.
Logo, o instrumento se interiorizou, e nas mãos dos trabalhadores do campo, ganhou o nome de viola caipira.
A versão abrasileirada tornou-se então peça central nas festas, folguedos e folias das comunidades rurais. Era por meio dela também, que o povo podia cantar a poesia da roça e da vida junto a natureza.
Felinto Procópio, conhecido como Mineirinho, violeiro do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), explica essa relação de paixão entre o violeiro e seu instrumento.
“Ele usa a viola para retratar o lúdico, de forma poética, cantar esse sertão, cantar essa felicidade, cantar essa alegria de viver. Então a viola caipira tá ligada à essência da vida, a reprodução da vida, na sua essência e na sua beleza.”, explica Mineirinho.
Essa inspiração gerou uma miríade de ritmos. Estima-se que existam mais de 50 tipos de afinação de viola caipira. E os ritmos pelo Brasil são incalculáveis. Alguns dos mais conhecidos são: a moda de viola, o cateretê, o pagode de viola e o cururu.
Apesar da riqueza, foi só em 1930 que a cidade foi conhecer a música do campo. A primeira gravação foi feita por Cornélio Pires, depois que o produtor conheceu as músicas cantadas durante os mutirões de trabalho no campo.
Com a urbanização e o avanço do agronegócio, a vida no campo mudou. Mas os violeiros que cantam as belezas da natureza e da vida rural ainda resistem.
Um deles é Zé Pinto, violeiro e integrante do MST. Ele, junto de Mineiro, são responsáveis pela conservação e animação da tradição da viola junto àqueles que lutam pela reforma agrária e em defesa da natureza.
Desde 2003, foram inúmeros eventos organizados. Encontros Nacionais de Violeiros, Seminários e também cursos de viola caipira.
Para Zé, mais do que música do passado, a viola traz a força da raiz, que ajuda a inspirar e abrir novos caminhos.
“A gente quer falar do amor por essa terra, quer questionar os maus tratos que um projeto que a gente sabe qual que é, faz com a terra, judia, envenena. E para isso, a viola é um instrumento maravilhoso porque se você vai fazer uma viagem para falar da lua, das estrelas, da roda de prosa. O som da viola parece que vai abrindo pra gente passar”, conclui.
Edição: Lucas Weber/ Brasil de Fato