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“A terra me trouxe cura!”

Conheça a história de Francisca, Sem Terra do acampamento Marielle Franco, em Alagoas
Irmã Francisca, do acampamento Marielle Franco, em Alagoas. Foto: Gustavo Marinho

Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

O barraco de madeira cercado de flores, com uma horta e um galinheiro no fundo, parece contar uma nova história naquele território. De sorriso no rosto, Francisca Ferreira, conhecida como Irmã Francisca, fica animada e otimista ao falar de seus sonhos e da disposição de luta no Acampamento Marielle Franco.

Área de disputa na cidade de Atalaia, na Zona da Mata de Alagoas, o acampamento Marielle Franco reúne cerca de 120 famílias da região que hoje lutam contra a ameaça de despejo, além das ações intimidadoras da prefeita da cidade, Ceci Rocha (PSC), que suspendeu o abastecimento de água para as famílias acampadas.

“Os dias sem água foram dias difíceis, mas a gente não desistiu de jeito nenhum. Saíamos para pedir água nos povoados, mas não abrimos mão da nossa luta e da nossa terra”, explicou Irmã Francisca.

Com 57 anos de idade, mantém vivo o sonho de ter seu pedaço de terra. “Tá no meu sangue mexer com a terra, vem de família. Meu maior sonho, com certeza, é poder viver e trabalhar na terra”.

Vinda com um grupo de roceiros há 8 anos atrás para a área que hoje é o acampamento Marielle, Irmã Francisca encontrou aproximadamente outros 150 trabalhadores que haviam ocupado as fazendas após o fechamento da Usina Uruba, que deixou centenas de homens e mulheres sem emprego na região que dependia do corte da cana-de-açúcar.

“Eu era da cidade de Chã do Pilar e vim com meu esposo para cá. Em 2012 a Usina parou de funcionar e muita gente precisou plantar lavoura na terra continuar sobrevivendo”, relembrou.

Francisca comenta com orgulho que foi com o trabalho na roça que viveu esses anos, conseguindo ainda garantir a formação técnica de sua neta.

“Aqui a gente tem inhame, macaxeira, batata, abóbora, melancia… De tudo tem. Mas mesmo assim, a gente vivia acordando sem saber do nosso futuro, ameaçados o tempo todo”.

Relembrou das inúmeras vezes que foram ameaçadas para não plantar suas lavouras naquele período, pois seriam expulsas da terra, e até das vezes que tinha a plantação destruída.

Integrando hoje o Setor de Comunicação no acampamento Marielle Franco, Irmã Francisca reforça que muita coisa mudou depois da organização das famílias que vivem na área. “Agora não estamos só! Se as ameaças aumentaram para nós, aumentou mais a nossa força… E se a gente permanecer na luta, a gente tem esperança. Com esperança a gente vence!”.

O amor pelo trabalho na terra é visível em cada fala, em cada gesto. Irmã Francisca foi curada pela terra. Ela faz questão de contar que o trabalho na roça mudou sua vida e do seu esposo. “Desde que a terra passou a ser nosso dia-a-dia, nossa saúde e nossa vida mudou. Ela me trouxe cura”.

Logo ela quis mostrar sua horta, seu galinheiro, a produção que tinha mais próximo do barraco e, apontava para frente, como se visse o futuro dizia: “Agora a gente vê esperança com isso tudo!”.

Irmã Francisca, do acampamento Marielle Franco, em Alagoas. Foto: Gustavo Marinho


*Editado por Fernanda Alcântara