Vacina Já!

Como as vacinas estão contribuindo para a nova configuração geopolítica do mundo?

Artigo traz relação entre a geopolítica e a guerras das vacinas, no atual momento em que vivemos em um mundo multipolar, dominado pelas grandes potências econômicas e militares.
A pandemia de Covid-19, causada pelo vírus de RNA SARS-Cov-2, é resultado das formas devastadoras do modelo de produção capitalista. Foto: Reprodução

Por Joelson Santos*
Da Página do MST

Entende-se por geopolítica o exercício do poder e do domínio partindo de uma perspectiva espacial, procurando estabelecer possibilidades e desafios determinados pela geografia e pelas relações sociais, sendo sempre intrínsecas a disputas territoriais (ORNELAS, 2016).

A teoria do Sistema-Mundo, desenvolvida, dentre outros, pelo sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein, parte do conceito da divisão internacional do trabalho produzida pela estrutura capitalista. O componente central dessa estrutura internacional resulta na divisão do mundo em três estamentos hierárquicos na ordem produtiva, direcionada pelo capitalismo ocidental (MARTINS, 2015). Os Estados estariam distribuídos nos seguintes estamentos:

  • CENTRO: se ocupam da produção de alto valor agregado;
  • PERIFERIA: fabricam bens de baixo valor e fornecem commodities e matérias-primas para a produção de alto valor dos países centrais;
  • SEMIPERIFERIA: ora se comportam como centro para a periferia, ora como periferia para os Estados centrais, assumindo um papel intermediário. Esse padrão de troca cria uma relação de dependência entre países periféricos e centrais.

A geopolítica mundial é marcada por tensões entre os interesses desses estamentos presentes na estrutura mundial. O final de 2019 e o início de 2020 foi marcado principalmente por tensões tais como: (1) manifestações em Hong Kong que visavam a desestabilização do governo e a sanções econômicas contra a China, por parte dos Estados Unidos; (2) o assassinato do líder iraniano Qassem Soleimani, em janeiro de 2020; (3) a briga entre a Rússia e os EUA em torno do gasoduto Nord Stream e a OTAN; (4) a saída do Reino Unido da União Europeia; (5) na América Latina, o golpe de estado na Bolívia, o eterno bloqueio econômico e assédio à Cuba e à Venezuela; (6) o endividamento pelo FMI se intensificou na pandemia (o endividamento de quem?). Só para citar alguns acontecimentos prévios e em plena pandemia que marcam os rumos da geopolítica atual.

A geopolítica das vacinas

A pandemia de Covid-19, causada pelo vírus de RNA SARS-Cov-2, é resultado das formas devastadoras do modelo de produção capitalista. Em uma velocidade sem precedentes, descobrimos a sua principal forma de transmissão e as medidas para frear o seu avanço sobre a destruição de vidas humanas. Em primeiro lugar, o uso de máscaras, bem como a lavagem das mãos, o distanciamento físico e o isolamento social; em segundo, a imunização por meio da vacinação em massa da população.

Gigantes empresas e Estados nacionais iniciaram a produção de vacinas, algumas cotizadas na bolsa de valores, outras não, já fazendo o papel especulativo do capital. Rapidamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou o COVAX*, cujos objetivos são acelerar o desenvolvimento e a produção de vacinas, e distribuição equitativa para todos os países do mundo. A OMS declara que:

Além de reduzir a trágica perda de vidas e ajudar a controlar a pandemia, a introdução de uma vacina evitará a perda de US $ 375 bilhões para a economia global todos os meses. O acesso equitativo global a uma vacina, especialmente protegendo os profissionais de saúde e aqueles que estão em maior risco, é a única maneira de mitigar o impacto econômico e de saúde pública da pandemia. (OMS,2020)

Em menos de um ano do aparecimento do vírus, o mundo já festejava com informações de mais de 160 vacinas sendo iniciadas o seu desenvolvimento, testadas em animais e em seres humanos. Nunca se aprovou tão rápido uma vacina e nem o mundo acompanhou fase por fase do seu desenvolvimento como agora.

Logo, as vacinas ganharam “sobrenome”, expressando a geopolítica por trás dessa corrida entre as grandes potências econômicas, tornando assim as vacinas armas geoestratégicas. Não somente as vacinas, mas também muitos insumos como remédios, máscaras, respiradores, seringas, entre outros.

Tabela 1 – Principais vacinas em desenvolvimento

VACINAPAÍSES OU PAÍS
Oxford/AstraZeneca/FiocruzInglaterra e China
Sputnik VRússia
SinoVac/ CoronaVac/ButantanChina e Brasil
BioNtech | Pfizer | FosunAlemanha e EUA
ModernaEUA
SoberanaCuba

Fonte: próprio autor, 2021

Figura 1. Fonte: próprio autor, 2021

Quando analisamos a tabela 1, com as principais vacinas em desenvolvimento e disputa por eficácia e aceitação por parte dos governos. Cada governo com suas características vai analisar qual vacina vai comprar. Nem sempre pode querer comprar as grandes potencias primeiramente vão garantir a seus povos. Quase todos as vacinas receberam quantias milionárias dos países de origem e interesse em controlar as vacinas e fazerem jogo político por trás de tudo isso.

Em discurso 17 de fevereiro de 2021, o Secretário Geral as Nações Unidas, GUTERRES (2021), “afirma que 75% das vacinas administradas até o momento, foram acaparadas/compradas por 10 países apenas”.

A questão das vacinas na América Latina e no Brasil

As principais vacinas citas então com fundo político. É importante enfatizar que a pandemia aparece em meio à crise do sistema capitalista. Mas é nas crises que o capitalismo faz a sua metamorfose de domínio e manutenção do sistema mundial com interesses das grandes potências. Para manter o domínio sobre pises periféricos como servos de matéria prima ou alimentos. 

 A vacina Pfizer tem recebido críticas pelas  exigências estrambólicas para venda da vacina; o acordo consta de ausência das responsabilidades de presuntos efeitos adversos do imunizante e o país tem que abri mãos de bens soberanos no exterior, tais como embaixada e bases militares como garantia em caso de futuros processos.

Sputnik V vacinas considerada das mais baratas, desenvolvida por laboratório militar com inversões de fundo soberano russo de inversão direta. Batizada em homenagem ao satélite Sputnik, durante a guerra fria. Alguns estados no Brasil fizeram acordos ainda ano passado por citar Paraná, Bahia e Maranhão.

CoronaVac vacinas das desenvolvidas com transferencia de tecnologia no Brasil. Apesar da ligações com a China e seu principal logo e a campanha à presidência em 2022 do João Doria PSDB. E com os reconceitue aos chineses alimentados pelo atual governo. Ainda sim e a que está com maior número de entrega de doses.

Moderna, recebeu mais de 400 milhões de incentivos dos EUA, para desenvolvimento das vacinas e parece que apenas consegui abastecer os EUA.

Soberana 1 e 2 , únicas e primeiras vacinas produzidas na América Latina, pelo um país com vários bloqueios o econômicos, um país com uma história invejável não ciência. Esse país é Cuba, seu sistema científico tem mais 60 anos, a, Soberana 2 está fase três, uma das vacinas mais avançadas atualmente é que não recebeu dinheiro dos fundos que as demais receberam. Promete fabricar 100 milhões de doses e iniciar pelos países mais pobres na América Latina.

Uma conclusão é que toda essa carreira geopolítica das vacinas aumenta as desconfianças na ciência de outras nações, com propagandas enganosas. Impactando na população desacreditando do poder das vacinas. Por estar sendo utilizada como elementos geoestratégicos, será em sua essência desigual em sua distribuição, deixando a equidade de lado, priorizando territórios/nações de domínio tático, nesse momento de reconfiguração da geopolítica mundial, dada pela crise hegemônica dos EUA, acelerada pelo Trump e a amplitude comercial da China, como gigante e exemplo de econômica mundial.

* Joelson Santos é Médico de Família e Comunidade, militante do Setor de Saúde do MST e da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares

Referências

MARTISN, José Ricardo. Immanuel Wallerstein e o sistema-mundo: uma teoria ainda atual? Revista Iberoamérica Social, dezembro,2015.

RAUL, Ornelas. Como entendemos a geopolítica?. Observatorio Latinoamericano de Geopolìtica (OLAG) e Universidad Autónoma Nacional de México – UNAMA. gosto de 2016.

OMS: https://www.who.int/initiatives/act-accelerator/covax acesso 05/03/2021.

GUTERRES A. https://news.un.org/es/story/2021/02/1488202

Apêndice:

*COVAX é o pilar de vacinas do Acelerador de Acesso às Ferramentas COVID-19 (ACT),O ACT Accelerator é uma colaboração global inovadora para acelerar o desenvolvimento, a produção e o acesso equitativo aos testes, tratamentos e vacinas contra COVID-19. A COVAX é co-liderada por Gavi, a Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI) e a OMS. Seu objetivo é acelerar o desenvolvimento e a fabricação de vacinas COVID-19 e garantir o acesso justo e equitativo para todos os países do mundo. https://www.who.int/initiatives/act-accelerator/covax