Roseli Presente!

Carta à lutadora Roseli Nunes

Homenagem à lutadora assassinada em 31 de março de 1987, durante um protesto de pequenos agricultores no Norte do RS
Retrato de Roseli Nunes. Foto: Carlos Carvalho/Brazil StockPictures

Da Página do MST

Lutadora pela Reforma Agrária e defensora dos direitos das mulheres. Estas características integram o legado de Roseli Celeste Nunes da Silva, que teve a sua vida interrompida aos 33 anos de idade por lutar pelo direito de viver com dignidade no campo. Rose, como era popularmente conhecida, estava entre os mais de 7 mil trabalhadores que ocuparam, na madrugada de 29 de outubro de 1985, a então Fazenda Annoni, um latifúndio improdutivo de mais de 9 mil hectares localizado no município de Pontão, na região Norte do Rio Grande do Sul.

Em 31 de março de 1987, durante um protesto contra as altas taxas de juros e a indefinição do governo em relação à política agrária que se estendeu por vários municípios, um caminhão investiu contra uma barreira humana formada na BR-386, em Sarandi, também no Norte do RS. A ação resultou em 14 agricultores feridos e em três mortos: Lari Grosseli, de 23 anos; Vitalino Antonio Mori, de 32 anos; e Roseli Nunes, com 33 anos e mãe de três filhos.

Confira homenagem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Rio Grande do Sul.

Carta à lutadora Roseli Nunes

Bom dia Rosi.

Hoje, dia 25 de janeiro, dia que comemoramos 37 anos do comício das Diretas Já, onde mais de 300 mil pessoas se reuniram na Praça da Sé para exigir que fosse aprovada a emenda do deputado Dante de Oliveira que restabelecia as eleições diretas para presidência da república no Brasil. Essa campanha foi se tornando uma força enorme e se espalhando por todo o país. 

Ao mesmo tempo, muitos movimentos surgiam e o nosso também espalhava sementes de conscientização e organização em vários estados. Lembras que aqui na nossa região a gente já se organizava nas comunidades e nas vilas fazendo reuniões e buscando a companheirada que sonhava em ter seu pedaço de terra como meio de sobrevivência?

Lembras da noite de 29 de outubro? Quem sabia qual seria o destino da ocupação? De quantos lugares vieram aquele povo? Quantos caminhões?  Lembras da insegurança, do medo, da esperança e do sonho que residia dentro de cada um/a? E daquela madrugada linda de lua cheia iluminando a estrada?  Lembras que na fazenda só tinha meia dúzia de vacas magras e capim annoni? E você, com aquele barrigão, quase “parindo” a primeira criança?

Bem, querida companheira, você deve ter acompanhado de onde estiver, o desenrolar dessa luta. Também deves estar sabendo que a partir dela muitos assentamentos conquistamos por esse Rio Grande a fora, muita comida saudável produzimos, muitas escolas conquistamos e temos muitos filhos e filhas formados/as, que estão contribuindo em nossos territórios, até novos municípios foram criados pelo aumento da população, inclusive Pontão.

Bhá!!!!! Que saudades de tomar um bom mate contigo e andarmos por esses assentamentos da antiga fazenda Annoni e olharmos juntas as comunidades que foram criadas, os ginásios de esporte, as cooperativas, as agroindústrias (de carnes e leites), a escola 29 de Outubro, bem próximo de onde você morava, que atende as crianças desde a pré escola até o final do ensino fundamental, o Instituto Educar na área Nove que desenvolve o curso de agronomia com enfoque na agroecologia e atende estudantes dos Movimentos Sociais do Campo de todo o país.

Também deves estar sabendo que estamos atravessando uma fase bem difícil devido termos um governo de extrema direita que nos odeia e persegue. Sabemos também que com nossa organização e proteção tua e de todas as companheiras e companheiros que estão contigo teremos luz e energias para seguir na luta.

De Sul a Norte, aqui
Ocupar o latifúndio como fez a Roseli 

Abraços!

Fazenda Annonni, Pontão – RS

*Editado por Fernanda Alcântara