Crônica
Esperança Vermelha
Por Palavras Rebeldes
Da Página do MST
Acordou com uma sensação estranha, como se estivesse prendendo a respiração debaixo d’água. Tentou abrir os olhos, mas a claridade era demasiada. Entre os cílios, as imagens embaçadas. Será que ainda estava sonhando?
Desistiu de decifrar o entorno. Começou a repassar mentalmente as lembranças, eram todas boas.
Tinha o som das vozes misturadas. Do vento que faz vibrar a lona preta dos barracos. Um mar de bandeiras, vermelhas. O colorido de verdes de um plantio coletivo de árvores. Sentiu na pele o toque firme da mão companheira. Em volta via ruas, pistas, vielas, morros, praças, uma peça de teatro apinhada de gente. Mas parecia que estava voando. Será que estava caminhando? Será que havia sido carregada?
Precisava falar, mas a voz não saia. Até que muitos braços a resgataram do mergulho, recobrou o fôlego. O Encontro na luta reconstruindo seu corpo, nosso corpo. Vida coletiva. Seu coração era um novo pulso, acelerado, quente, feliz. Tumulto nos pulmões. Quando percebeu: estavam correndo. Estavam correndo para o tempo presente de ousadia. O tempo presente de abraço. O tempo presente de afago. Estavam correndo para o tempo presente de ocupação, colheita e festejo. Estavam juntos.
Renascendo, se entregou inteira a este nosso ser coletivo. Sentindo o coração pulsar novamente ritmado pelas artes insurgentes, em luta, para reivindicar e reinventar a vida.
*Editado por Fernanda Alcântara