Quero Ser Árvore!

Confira crônica sobre o Dia Nacional da Árvore

Plantio de árvores. Foto: Ju Adriano

Por Augusto Bantu – Frente Palavras Rebeldes
Da Página do MST

Quem não se arvorou em árvores não teve infância. Ou pelo menos uma infância feliz. Subir em árvores e não cair por um triz, é felicidade que constrói a natural habilidade de uma criança.

Fui uma criança feliz porque tive muitas árvores pra subir. Subia no oitizeiro antigo, na jurema sagrada, naquele jatobá da estrada e no abacateiro amigo. Subia na mangueira, na jaqueira, na goiabeira, subia de vida inteira nas árvores do meu quintal. Para comer fruta no pé, para cantar no alto galho, para fugir da vaca Lelé. Que quando tinha bezerrinho novo, botava todos pra correr.

Subir em árvores é assim desde que o mundo é. Pra comer, pra se proteger, pra deixar o vento fazer cafuné. Subir em árvore depois do almoço? Um alvoroço. Todos corriam pra buscar um galho onde se achegar. Deixar o corpo caber, encaixar na cama-galho. E descansar.

Uma árvore é alegria, é euforia e carrega um mundo cheio de fantasia. Quanta vida não imaginei olhando o mundo de cima da árvore em que subia? Meu coração palpitava de confiança e harmonia.

Hoje já envelhecido, sinto meu coração pulsar de nostalgia. É que já não subo em árvores. Não subo porque me faltam as energias ou porque já não há árvores onde antes muitas árvores havia. Mas ainda existem muitas crianças no mundo. Eles precisam saber das árvores de um dia. De seus frutos e de suas alegrias.

E quando as horas avancem mais, quando o tempo seja mais profundo e eu tenha que deixar esse mundo, que como em mitologia, eu vire árvore. No meio de uma estrada, na beira de um lago, ou coqueiro à beira mar. E que me subam as crianças.

Pois enquanto crianças subirem em árvores, o mundo ainda terá jeito.

E pra falta de árvores que houver é preciso reparar este defeito. Vamos plantar, vamos espalhar árvores de todo efeito. E deixar natureza e mundo refeitos.

*Editado por Fernanda Alcântara