Assembleia Nacional

Sem Terra participam da 1ª Assembleia Nacional de acampadas e acampados do MST

O encontro aconteceu no formato virtual, devido à pandemia e discutiu os desafios da luta pela terra e a conjuntura da pandemia.
Assembleia Nacional de acampadas e acampados. Foto: Reprodução.

Por Diógenes Rabello
Da Página do MST

No meio de caminho tinha uma pedra (El Efecto)

Mais de 446 mil brasileiros e brasileiras morreram durante estes 14 meses de pandemia da Covid-19. São 19 milhões de trabalhadores e trabalhadoras que passam fome no Brasil. Temos 116 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional. O governo quer cortar o Auxílio Emergencial. O governo recusou a compra de 70 milhões de doses de vacina. É neste cenário de barbárie que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou na manhã deste sábado (22) a primeira Assembleia Nacional dos Acampados e das Acampadas.

O objetivo do encontro foi debater a terra no Brasil, as ferramentas de luta neste momento e reforçar a importância dos cuidados com a saúde nesta pandemia. Participaram cerca de 480 acampados e acampadas de todas as regiões do Brasil.

A pandemia nos colocou em uma situação de limitação para o trabalho de base no formato que tem sido feito até hoje, que é chegar e conversar com as pessoas nos bairros, nas periferias, nas vilas e em qualquer lugar onde há trabalhadores e trabalhadoras flageladas pela desigualdade social, pela exploração da burguesia e o distanciamento do Estado. Organizar a classe trabalhadora para ocupar terras, para formar acampamentos, para fazer as marchas, realizar os mutirões não é possível neste momento da história. Diante do desafio organizativo de fazer o trabalho de base com novas ferramentas para permanecer na tarefa de lutar e formar que nasceu a Assembleia.

Um dos principais desafios da luta pela terra nos dias atuais é continuar defendendo os territórios e a vida. Nem a pandemia tem impedido que o governo genocida faça ataques físicos e simbólicos sobre as áreas, como foram os despejos ocorridos neste último período. O governo Bolsonaro, desde sua campanha eleitoral em 2018, já propunha o armamento do povo, os despejos e violência com os povos do campo. Assim, desde a eleição de Jair Bolsonaro os territórios e a militância têm sofrido com violência praticada pela política militar e pelos latifundiários. A luta contra os despejos é fundamental e é uma das tarefas principais do Movimento, por isso ações e lutas pela campanha Despejo na Pandemia é Crime!

Contra os despejos, o MST tem desafiado a base a fazer o isolamento produtivo. Os acampamentos tem se organizado para produção de alimentos saudáveis, com base na agroecologia. Produzir estes alimentos têm ajudado na alimentação das famílias e geração de renda. Além disso, produção é mostrar para a opinião pública a vocação e compromisso com a alimentação da população, por isso é imperante que se avance na Reforma Agrária Popular para dar a terras nas mãos destas famílias e que elas possam trabalhar e viver.

“Estamos vivendo um momento de acúmulos para a luta pela terra e para a luta de classes no Brasil. E neste momento temos que nos voltar para as nossas bases e fortalecer as nossas lutas em nossos territórios. Continuar nos posicionando contra este governo e denunciando junto às nossas famílias em nossos territórios os ataques que este governo tem feito nos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras”, apontou Toninho, da Frente de Massas do MST, durante a fala na Assembleia.

Toninho, da Frente de Massas, na Assembleia Nacional de acampadas e acampados. Foto: Reprodução.

A luta pela terra é o que dá a identidade do Movimento. Pensando nisso, é preciso organizar e formar a base nos acampamentos e nos assentamentos para ficar atentos e atentas para as eleições presidenciais de 2022. É preciso ainda lutar para pautar a Reforma Agrária Popular, para retomar a arrecadação de terras devolutas,assentar as famílias acampadas e pressionar o governo pela criação de políticas públicas que garantam o desenvolvimento pleno das famílias e dos territórios.

Dentre as diversas ferramentas de luta que o Movimento tem construído nestes 35 anos, a solidariedade tem sido expressa em muitos aspectos políticos e ideológicos da organização social. Solidariedade é um valor humano fundamental, é condição de existência. Resistimos e existimos por meio da construção de laços de solidariedade de classe e, por isso, é encarada não somente no âmbito da doação de alimentos, mas também na possibilidade de formação política, no trabalho de base, e na perspectiva da unidade de classes. É entender as ações como doação não daquilo que sobra, mas como uma partilha daquilo que se tem.

Em todo Brasil, o MST tem dado exemplo da importância da solidariedade e se colocou à disposição da sociedade deste o início da pandemia para contribuir com o combate a fome. A solidariedade também de possibilidade de organização e conspiração, expressando a prerrogativa de que a luta pela terra é de toda a sociedade e que é fundamental exercer as ações de solidariedade através da doação de alimentos. Com isso, o MST tem devolvido para a sociedade na forma de alimentos toda a acolhida que recebeu.

De acordo o exercício de síntese realizado por Kelli Mafort, da Coordenação Nacional do MST, a tarefa da solidariedade está direcionada pelos seguintes pontos:

Kelli Mafort na Assembleia Nacional de acampadas e acampados. Foto: Reprodução.

1. Trabalho de base interno. Precisamos orientar e organizar as nossas famílias acampadas para produzir os alimentos e dialogar sobre o que significar a doação para a formação política dos nossos e das nossas militantes e do nosso movimento;

2. Organicidade do “fazimento”. A práxis da luta pela terra: devemos dominar os discursos, mas sem perder a referência da prática social e do trabalho direto com a terra. Vamos aprender a fazer pelo exercício cotidiano e pelas trocas de experiências com nossos companheiros e companheiras;

3. Plantar a solidariedade. Devemos nos organizar internamente para plantar alimentos saudáveis tendo em vista três dimensões fundamentais: comer, gerar renda e doar. Para isso vamos usar nos nossos quintais produtivos e espaços coletivos;

4. Plantar árvores. É importante que a produção os alimentos que chegam até a classe trabalhadora das periferias transmitam uma mensagem de nós somos parte da natureza e ela é parte de nós. Por isso o plano nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos saudáveis é um posicionamento concreto da nossa militância contra a destruição da natureza promovida pelo agronegócio;

5. Cooperação. Estamos vivendo um momento de barbárie e só vamos conseguir vencer o fascismo em cooperação com as organizações do nosso campo político, nossos aliados e nossas aliadas das lutas por direitos e dignidade humana;

6. Formação das massas. Somos formados e formadas como militantes durante a nossa trajetória de lutas. Fomos aprendendo no caminho e pela participação ativa nas tarefas. É fundamental que nossa base nos acampamentos vá conhecendo e desenvolvendo suas potencialidades para a luta pela terra e para as tarefas da luta pela terra e ajudar a despertá-las nos outros e nas outras. Precisamos usar os canais disponíveis (rádios, redes sociais, assembleias, reuniões e outros espaços) para dialogar sobre as tarefas com nossa base; e,

7. Luta Pela Terra. Nossas lutas e dão em várias dimensões, escalas e espaços. Mas elas todas precisam estar alinhadas diretamente à nossa lura principal, que é a luta pela terra. Sem esse objetivo nosso movimento não consegue avançar. Devemos começar a organizar e a formar desde já para que no momento em que pudermos fazer as ações de massa estarmos preparados e preparadas.

“Mas, para massificar a nossa luta pela transformação social, devemos estar vivos e vivas!”, lembrou Kelli. Por isso, a pauta da vacina já para todos brasileiros e todas brasileiras é urgente. Até o momento, menos de 20% da população foi vacina na primeira dose, este governo tem se empenhado em causar o colapso sanitário no Brasil. O negacionismo e falta de prioridade na compra de vacinas nos fez chegar a marca dos 446 mil brasileiros e brasileiras mortos.

As famílias acampadas precisam manter os devidos cuidados individuais e coletivos. O chamamento é para que nossos acampamentos evitem o recebimento de visitas neste momento e se dedique no isolamento produtivo. Enquanto organização social que luta pela transformação devemos ser referência para a sociedade nos cuidados com a saúde.

Andreia Campigotto, médica formada pelo MST, indica quais são os cuidados individuais e coletivos que devemos manter no dia-a-dia dos nossos acampamentos:

1. As visitas entre morados dos acampamentos: todos e todas devem usar máscara durante todo o momento da visita;

2. Visitas externas: evitar, caso sejam inevitáveis todos e todas devem utilizar máscara durante todo o momento da visita;

3. Acampados e acampadas que trabalham fora do acampamento: ver a possibilidade de usar máscaras mais seguras, fazer higienização frequente das mãos e ficar atentos e atentas aos sintomas;

4. Atividade sociais e coletivas: estão suspensas e todos os nossos acampamentos;

5. Nos barracos: procure deixar o ambiente arejado e higienizado com álcool 70% ou solução de água sanitária com água limpa;

6. Ferramentas de trabalho: se for necessário emprestá-las para alguém ou pedi-las emprestadas higienize com álcool 70% ou solução de água sanitária com água limpa;

7. Hegienizar as sacolas e compras das cidades com álcool 70% ou solução de água sanitária com água limpa; e,

8. Ao chegar em casa depois de ir à cidade: deixe os calçados do lado de fora ou os higienize antes de entrar de casa. Ao chegar também é importante imediatamente retirar as roupas e deixá-las do lado de fora em um balde, tanque ou saco para lavá-las depois.

Outra aliada nossa nos cuidados com a saúde é a medicina popular Alguns alimentos são indicados para fortalecer a nossa imunidade, como limão, aveia, uva tinta, gengibre, brócolis e mel. Também é sugerido fazer o uso de tintura de alho, banho com ervas medicinais e uso de extrato de própolis. As hortas podem se tornar um laboratório de cuidados preventivos.

O MST se compromete a continuar lutando pela terra e pela Reforma Agrária Popular, orientando a solidariedade como uma ferramenta de luta e convocando toda a base para que continue observando as indicações fundamentais das organizações sanitárias pela defesa da vida contra a Covid-19: vacinação já, uso de máscara, higienização das mãos, distanciamento social e ventilação dos ambientes.

Por Reforma Agrária Popular, Vacina no Braco, Comida no Prato e Fora Bolsonaro!

Confira a Assembleia completa:

*Editado por Fernanda Alcântara