Semana da Mata Atlântica

Relato de experiência produtiva: Produção de cacau no estado da Bahia

Jeanderson Souza conta como a produção de cacau tem construído uma experiência coletiva de ajudar a preservar e a reflorestar a Mata Atlântica
Produção de cacau no estado da Bahia. Foto: Acervo MST

Da Página do MST

O Brasil é atualmente o sétimo maior produtor de cacau no mundo, com uma produção aproximada de 200 mil toneladas por ano. Na semana da Mata Atlântica, ressaltamos experiências produtivas como as plantações de cacau na Bahia, que usa técnicas agroflorestais  que visem a boa produtividade, mas também cobertura do dossel e a saúde do solo e das florestas.

Jeanderson Souza, 34 anos, articulador político do MST na regional Baixo Sul, estado da Bahia, contou um pouco da história do cacau no estado e como a cultura agroflorestal está se estabelecendo na área

Confira! 

“A lavoura cacaueira no estado da Bahia está subdividida em duas fases, antes e depois da introdução da vassoura de bruxa no estado; antes era o método coronelista de produção, onde estes detinham o controle inclusive político do território. Com a introdução da vassoura de bruxa, os coronéis faliram e a lavoura deixou de ser o carro chefe do estado, deixando muitas propriedades abandonadas. A partir desse abandono surgiram as primeiras ocupações do MST e outros movimentos sociais nestes latifúndios improdutivos e, consequentemente, o desafio do MST em recuperar essas lavouras. 

Na segunda fase – oque não significa dizer que houve o fim da vassoura de bruxa – são 25 anos de avanço nos tratos culturais da lavoura cacaueira. Os acampados e assentados que antes eram trabalhadores das antigas fazendas, passam a contribuir com suas experiências e parcerias governamentais, como institutos de pesquisa, para melhorar a produtividade da lavoura cacaueira, com inserção de novos clones, estudo para controle da vassoura de bruxa, etc. Hoje contamos com mais de 1200 famílias produtoras de cacau no estado da Bahia, e temos buscado nos últimos 5 anos o melhoramento da pós colheita. 

O MST tem buscado avançar e dar um segundo passo na lavoura cacaueira, buscado parcerias para melhorar a qualidade da amêndoa. Com tratos pós colheita, temos conseguido dobrar o valor da amêndoa, saindo de 200 R$ para 400 a 450 R$ a arroba, tendo motivado as famílias a buscarem essas alternativas. Mas a ausência de políticas públicas para aquisição de infraestrutura e outras ferramentas tem limitado alguns avanços. 

Quando nos referimos a preservação ambiental, a cultura do cacau no regime que o MST trabalha, o método de cabruca, dialoga bastante com a preservação da Mata Atlântica, pois dentro dessas áreas existem centenas de árvores que são preservadas pelas famílias Sem Terra. Recentemente apresentado nas redes sociais e meios de comunicação, o pau brasil de 600 anos no município de Itamaraju está localizado dentro de uma área do MST. Então a cultura do cacau tem esse viés de preservação, dialogando no debate da agroecologia que o Movimento vem trabalhando a mais de 15 anos. Outro fator importante é a inserção da juventude na unidade familiar, permitido aos jovens permanecer no campo e melhoramento das condições de vida das famílias. 

A produção do chocolate Terra Justa se inicia após uma visita de agricultores na escola fábrica do CETEP Baixo Sul, localizado em Gandu, onde perceberam que era possível produzir o chocolate, haja visto que já se produz a amêndoa de qualidade. O próximo passo seria a produção propriamente dita, a primeira batelada foi de 20 kg, onde levamos para feira estadual de 2019 em Salvador. Para nossa surpresa vendemos as 800 barras no primeiro dia da feira. A partir daí temos tentado fortalecer, já registramos a marca Terra Justa, e estamos estregando a nossa produção de chocolate nos Armazéns do Campo em outros estados como RJ, SP e Belo horizonte, em breve outros estados estarão recebendo o nosso chocolate”.

*Editado por Fernanda Alcântara