Mulheres Sem Terra

Coletivo de Mulheres Ana Maria Primavesi: a força da união

Há dois anos, mulheres do acampamento Terra Livre, no Paraná, constroem iniciativas e ações na região
Coletivo de Mulheres Ana Primavesi. Foto: Daiane Prado/MST-PR

Por Lucas Souza
Da Página do MST

O Coletivo de Mulheres Ana Primavesi surgiu em 2019, a partir de provocações geradas durante a Escola Estadual de Mulheres do Paraná. Foi o caminho para a organização da base das mulheres do acampamento Terra Livre, localizado em Clevelândia, Paraná, onde vivem 15 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 

Interrompida pela pandemia do coronavírus, a Escola Estadual de Mulheres é um curso de formação de base voltado para mulheres do movimento Sem Terra, e tem como tema Mulheres e a Agroecologia. 

Através do curso, com o propósito de construir iniciativas a partir do trabalho das mulheres do acampamento, foram realizadas diversas as atividades realizadas pelo Coletivo. Entre elas, podemos destacar a participação nas ações de solidariedade – promovidas pelo MST – com a fabricação de sabão ecológico para famílias carentes da região urbana, doação de alimentos saudáveis e diversificados e também doação de sangue no Hemonúcleo do município de Pato Branco.

Foto: Daiane Prado/MST-PR

Também foram promovidas oficinas de produção agroecológica, produção de mudas, ações de embelezamento no acampamento e plantio de árvores nativas visando a recuperação de matas ciliares, além de espaços de discussão sobre violência doméstica e de gênero. O coletivo das mulheres do Terra Livre conseguiu ainda se organizar, elaborar e aprovar um projeto que auxiliou na implantação de quintais agroflorestais de aproximadamente 100 metros quadrados em todos os 15 lotes do acampamento. 

Bruna Zimpel, integrante da coordenação estadual do MST no Paraná e integrante do coletivo Ana Primavesi, conta que entre os objetivos iniciais do coletivo estava a estruturação da produção e comercialização de ervas medicinais. Entretanto,  durante o processo de constituição do coletivo de mulheres, foi avaliado e optado por começar a trabalhar a lógica da agrofloresta, com a implantação de quintais agroflorestais, que também incluem plantas medicinais, mas que se soma juntamente hortaliças, frutíferas, condimentos e árvores nativas “para terem uma pequena experiência e irem se apropriando da técnica e se apaixonando pela agrofloresta, para depois ampliar no lote”, diz Bruna.

A agroecologia, estudada e defendida por Ana Maria Primavesi, é uma opção para a produção de alimentos. Uma escolha que muitos camponeses do MST fazem, mesmo com a quantidade de obstáculos que existem hoje para se produzir comida de verdade.

Lourdes Spagnol Belusso, dirigente do acampamento Terra Livre e também integrante do coletivo de mulheres, está acampada no território desde 2014. Filha de agricultores, Lourdes conta que sempre produziu da maneira convencional e passar a cultivar de maneira agroecológica parecia impossível e ela mesma tinha resistência em optar por este sistema.

“Depois que conheceu as técnicas e viu os resultados, não só achei viável, como vi a necessidade de implantar as técnicas até para melhorar a alimentação da família”. Para ela é um longo caminho, mas defende que “este é o melhor sistema, pois produz alimento com qualidade e ainda protege a natureza”.

Ana Maria Primavesi

Austríaca radicada brasileira, Ana Maria Primavesi nasceu na cidade de Sankt Georgen ob Judenburg em 1920. Filha de agricultores, estudou agronomia na Universidade Rural de Viena e é pioneira no estudo da agroecologia e do manejo ecológico do solo.

Primavesi faz a proposta de uma produção agrícola que respeita todas as vidas envolvidas no processo, inclusive considerando o solo parte deste organismo vivo e conectado.
A agrônoma escreveu diversos livros e foi professora da Universidade Federal de Santa Maria, onde contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação voltado para a agricultura orgânica. 

Aposentada, tocou por muitos anos sua própria propriedade agrícola em Itaí, no estado de São Paulo, onde colocou em prática os conceitos da agricultura orgânica. Ana também foi fundadora da Associação da Agricultura Orgânica (AAO), uma das primeiras associações de produtores orgânicos do Brasil. Seu livro “Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais” é considerado uma obra de referência nas ciências agrárias.

Ana Maria Primavesi faleceu em São Paulo, no dia 5 de janeiro de 2020, com 99 anos, deixando um enorme legado de herança para a humanidade.

*Editado por Fernanda Alcântara