Frio Extremo

Onda de frio pode gerar perdas na produção de alimentos e aumentar a fome

MST, Mídia Ninja e Rede Rua organizam ação de solidariedade para arrecadar agasalhos e cobertores
Nova onda de frio com previsão de geadas em várias regiões do país pode gerar novos prejuízos na agricultura. Foto: Divulgação

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

O impacto na renda dos trabalhadores brasileiros, provocado pela pandemia da Covid-19 e a crise econômica no país, podem se agravar ainda mais, principalmente para os camponeses, das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, devido a uma nova frente fria que avança pelo país nesta semana.

Segundo previsões do site Climatempo é que esta onda de frio venha acompanhada de uma intensa massa de ar frio de origem polar, podendo ser a massa de ar frio mais forte do ano até agora, com possibilidade de geadas em vários estados e neve no Sul do País. Algumas previsões também alertam para a onda de frio mais intensa dos últimos 30 anos.

As perdas nessas regiões podem ser muitas, pois mesmo a geada sendo um fenômeno comum da natureza, que ocorre quando se formam camadas finas de gelo sobre as plantas ou outras superfícies lisas, principalmente nas regiões mais frias do país, esse fenômeno queima e mata grande parte dos cultivos atingidos, em especial as hortaliças, como couve, alface, etc.; ou cultivos de café, milho, cana-de-açúcar, pastagens.

“Ainda que a geada seja um processo ecológico que tem suas funções de restabelecer o equilíbrio da natureza, como o controle de pragas e plantas indesejáveis, ela nunca é bem vista pelos agricultores em função das perdas produtivas que pode trazer. Em vários estados da região Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que já passaram por um período de grande frio nesse ano, podemos considerar que essa nova onda pode representar grandes perdas na produtividade das lavouras de inverno, não só nas nossas áreas de acampamentos e assentamentos, mas na agricultura como um todo”, constata a assentada no norte do Paraná e integrante da Direção Nacional do MST, Ceres Hadich. Ela também é mestre em Agroecologia e Agricultura Sustentável.

O assentado e integrante da coordenação estadual do MST Paulo Almeida, que vive no assentamento Nova Estrela, no município de Vacaria, Rio Grande do Sul, já está acostumado com as geadas que são comuns na região. Ele afirma que o frio intenso é um fenômeno da natureza e vai causar prejuízos da mesma forma que as secas, principalmente nesse caso, a expectativa não é boa, pois a onda de frio está vindo de surpresa e com a previsão de grande intensidade.

“A geada mata, seca a planta. Esse prejuízo, provavelmente nas plantações mais sensíveis ao frio vai ser grande. Na produção do leite, por exemplo, e dos animais também, porque ela mata o pasto. E com isso depois os produtores vão ter que comprar ração – fazer outras coisas pra não perder seus animais ou ter uma queda muito grande na produção -. E nas áreas de grande plantação, se a planta não é de inverno, é muito difícil salvar”, explica o assentado.

Nesse contexto, devido ao aumento do desemprego no país, que precarizou ainda mais as condições de vida dos/as trabalhadores/as e ampliou o número de pessoas em situação de rua, Ceres explica que a nova onda de frio também atinge diretamente as pessoas nessas condições. “Hoje há mais de 11 milhões de desempregados no Brasil, que não tem renda, vivem abaixo das condições mínimas de sobrevivência. Boa parte dessas pessoas estão na cidade e é mais crescente o número de pessoas que vivem sem lar, sem-teto e uma onda de frio afeta diretamente esse povo, que está nas ruas e em condições vulneráveis de moradia, de vida e sem renda.”

Campanha de Solidariedade

Portanto, diante do alerta de frio extremo desta semana, a precarização das condições de vida dos/as trabalhadores/as rurais e urbanos, com o crescimento de pessoas em situação de rua no país, sem moradia, devido à crise econômica e o aumento da fome, o MST conjuntamente com o Mídia Ninja e a Rede Rua estão organizando uma ação de solidariedade para arrecadar agasalhos e cobertores em São Paulo. Confira os pontos de doação na capital paulistana e ajude quem está precisando:

Posto de coleta: Armazém do Campo SP
Alameda Eduardo Prado N. 499
Campos Elíseos (de segunda a sábado das 11h às 17h)

Posto de coleta: Alimentar Direitos
Quadra dos Bancários, rua Tabatinguera -192
Das 8hs30 às 13hs30

Posto de coleta: Chapelaria Social
Rua Campos Sales 88 – Brás
Segunda, Quarta e Sexta das 9hs às 13hs

Aumento da fome e impacto no preço dos alimentos

Além de prejuízos com a redução e perdas da produção no campo, os impactos da nova onda de frio também podem ampliar a situação da fome e miséria dos/as trabalhadores/as no Brasil. Dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, realizado nas cinco regiões do país, em áreas urbanas e rurais, pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), em dezembro de 2020, evidenciaram que em meio à pandemia o país conta com 19 milhões de brasileiros que passam fome, atingindo um pico epidêmico também da falta de alimentos e miséria. Portanto, no período da pesquisa se constatou que quase 117 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos.

Outro fator comum em casos de prejuízos devido a fatores climáticos, como de geadas intensas na agricultura, é a diminuição da oferta de alimentos para o consumo no mercado, o que geralmente provoca o aumento no preço dos alimentos, devido à mercantilização do setor, além do empobrecimento dos camponeses e agricultores familiares, a diminuição do emprego, da renda e a piora nas condições de vida no campo, como aponta Ceres.

“Na medida em que a produção de alimentos é prejudicada pelas geadas, a tendência é que a gente tenha uma oferta menor de alimentos no mercado e os preços dos alimentos disparem. Isso também se associa há uma política de controle de monopólio do mercado de alimentos, que ocorre também pelo processo de especulação, que transforma o alimento numa mercadoria, controlada por meio de grandes conglomerados e empresas do setor alimentício.”

Como se preparar para diminuir os prejuízos da geada no campo?

Os assentados Ceres e Paulo, explicam que com um breve planejamento é possível os agricultores e assentados minimizarem os prejuízos e perdas dos cultivos durante as geadas.

Ceres orienta algumas ações preventivas para hortas e cultivos menores, antes e logo após a precipitação das geadas. “No caso das hortas ou outras culturas, orienta-se fazer o uso de algum tipo de adubação folear, pode ser de sulfato de potássio, ou super magro, àquilo que a família tiver disponível, a calda de leite; qualquer tipo de micronutriente que possa ajudar a restabelecer a relação da saturação das plantas, evitando assim a queima com a geada. Outra prática muito utilizada no pós geada, antes de sair o sol, é fazer o uso da irrigação para tentar descongelar o gelo e evitar a queima das plantas. A terceira orientação é reduzir a irrigação nos dias que antecedem à geada, pelo menos dois dias antes cortar a irrigação das plantas para que elas tenham um nível de saturação menor durante o processo da geada, reduzindo assim as perdas.”

A assentada também indica uma alternativa para minimizar as perdas em áreas de cultivos maiores. “Nessas lavouras a gente orienta, como um cuidado para fazer o fogo, para aumentar a temperatura durante o período da madrugada, especialmente em lavouras como o café, aumentando o calor entre as plantas”, explica.

E o assentado Paulo, dá algumas dicas e explica que é possível fazer o uso de lonas e sombrite para diminuir os prejuízos. “Em hortas se consegue com uma estufa, o que normalmente as pessoas já fazem para proteger do frio nessa época, considerando que sempre vai vir geada ou frio nesse período do ano. Em plantações mais soltas, como um pé de laranja, menor, é possível colocar um saco plástico em cima, ou bolsa que vai proteger. E se a planta for maior, só uma lona consegue proteger para minimizar o impacto.”

Ele também cita o uso do fogo e concorda com Ceres sobre a eficácia dessa técnica, nos arredores de plantações maiores para diminuir os impactos da geada nas plantas, como, por exemplo, em áreas de um ou dez hectares. Porém, alerta que a técnica gera impactos no meio ambiente.

*Editado por Wesley Lima