Assentamento Contestado completa 23 anos e cresce na construção da agroecologia 

A comunidade é sede da Escola Latina Americana de Agroecologia (ELAA) e criou a Cooperativa Terra Livre, 100% agroecológica.
Lavouras agroecológicas coletivas do assentamento Contestado. Foto: Wellington Lenon

Por Valmir Neves Fernandes e Liane Maria Rochenbach
Da Página do MST

O assentamento Contestado, da Lapa, completou 23 anos de história nesta segunda-feira (7), com muita luta e dedicação dos camponeses e camponesas que lá vivem. A ocupação se deu no dia 07 de fevereiro de 1999. Ao raiar do dia as famílias entraram no território para fazer o que está na constituição, mas que só com luta se faz valer. 

A área pertencia ao grupo Incepa, que contraiu dívidas com a União e com vários bancos. Após alguns meses de ocupação, a área foi destinada para reforma agrária, onde foram assentadas 108 famílias – atualmente 160 moram na comunidade.

Assentamento Contestado. Foto: Wellington Lenon

A agroecologia é uma das peças fundamentais de sua vida neste território, como modo de produzir alimentos e construir uma perspectiva de vida para as gerações futuras. Ela se multiplica especialmente pela presença da Escola Latina Americana de Agroecologia, uma escola da Via Campesina da classe trabalhadora e dos movimentos sociais, erguida no assentamento em 2005, com trabalho coletivo e voluntário. 

A ELAA oferece o curso de Tecnólogo em Agroecologia, em parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR) de Campus de Campo Largo, voltado para educados/as de todo o Brasil e América Latina, além de curso de Licenciatura em Educação do Campo, em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) Setor Litoral. 

A educação também é garantida na comunidade para as crianças pequenas, por meio da Ciranda Infantil, e para o ensino fundamental e médio, na Escola Municipal e no Colégio Estadual conquistados pelo assentamento. 

Foto: Wellington Lenon

Para escoar a produção de forma organizada, foi fundada a Cooperativa Terra Livre, em abril de 2010, com o diferencial de ser 100% agroecológica – motivo de orgulho para a comunidade. Para comercializar nossa produção, inicialmente para assentamento, logo adiante surgiram as feiras e cestas agroecológicas, depois também para o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE). Em 2021, a Cooperativa entrega 15 toneladas em dezenas de escolas, em média, toda semana.   

Para construir um ciclo completo de produção, está sendo construído um viveiro com capacidade de produção de 2 mil mudas de hortaliças, mensalmente. Para armazenar e ter o controle de distribuição de alimentos, está sendo construído um barracão de 400 metros quadrados.

Foto: Leonardo Henrique
Barracão de 400 metros quadrados que está em construção ao lado da sede da Cooperativa. Foto: Liane Maria Rochenbach
Foto: Leonardo Henrique 
Foto: Leonardo Henrique 

A agroindústria da Cooperativa, que está localizada também em conjunto com a sede, processa mandioca, abóbora, tomate, entre outros produtos como frutas e também hortaliças, que são transformados em molhos, doces e conservas.

Fruto da luta pelos direitos, as famílias conquistaram uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Para além do atendimento convencional com várias especialidades, a Saúde Popular atua firmemente com terapias naturais como bioenergia e chás. Essa sinergia entre o atendimento na Saúde Pública e Saúde Popular faz com que a UBS tenha sua própria horta medicinal.

Solidariedade em mutirão 

Com uma diversidade de produção, foi realizada a doação de mais 13 toneladas de alimentos nas ações de solidariedade, além do plantio de 7 mil mudas de árvores em 2021. 

Mutirão para colheita de feijão em lavouras cultivadas com conjunto com o coletivo Marmita da Terra. Foto: Iara Beatriz
Doação de alimentos em São Mateus do Sul. Foto: Ednubia Ghisi 

Estas ações de solidariedade vêm acontecendo desde 2020 com o início da pandemia. Desde setembro daquele ano, começaram a acontecer os mutirões de cultivo de hortas e agroflorestas comunitárias, voltados à continuidade das ações solidárias. A iniciativa é feita em conjunto com o coletivo Marmitas da Terra, que se deslocam para o assentamento para realizar, plantio, colheita limpa das áreas de cultivo. 

Feijão, legumes, hortifrutis em geral, todos produzidos de forma agroecológica, passaram a garantir a maior parte dos ingredientes necessários para a produção de 1.100 refeições distribuídas toda quarta-feira, em Curitiba.  

Unidade de Saúde da comunidade. Foto Wellington Lenon

A construção da comunidade camponesa do Contestado é marcada pela agroecologia e os cuidados com a biodiversidade e todo processo que envolve os cuidados com a água e a mãe natureza. Também os cuidados com a nossa saúde, porque os alimentos saudáveis ajudam a termos mais energia para o trabalho. Agradecemos aos camaradas pela nossa inserção nesse território, e somos eternamente gratos ao MST por proporcionar vida digna aos camponeses.

Vida longa ao assentamento contestado!

*Editado por Fernanda Alcântara