Cultura

Cavalgada é símbolo de resistência e cultura camponesa na comunidade Maila Sabrina, PR

Edição realizada neste início de maio reuniu mil cavaleiros e amazonas em Ortigueira, norte do estado
Foto: Juliana Barbosa / MST-PR

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR 
Da Página do MST

As cavalgadas são uma tradição popular antiga no norte do Paraná. Com variações de uma região para outra, elas têm em comum a reunião de um grupo de cavaleiros e amazonas para percorrer quilômetros de estradas de chão e confraternizar ao som de música sertaneja. 

A comunidade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Maila Sabrina, localizada em Ortigueira, protagonizou a maior cavalgada do estado e uma das maiores do Brasil no último domingo, 1º de maio. Batizado de Cavalgada do Trabalhador, o evento reuniu mil cavaleiros e amazonas em um percurso de 8 quilômetros, a maior parte deles no próprio território do acampamento.

Fotos: Juliana Barbosa / MST-PR

“A cavalgada é uma das resistências do povo brasileiro, porque em anos passados a nossa economia era transportada toda em lombo de burro, e vocês trazem esse resgate da resistência e da cultura. Isso casa muito bem com a raiz do povo Sem Terra, que resgata a comunidade camponesa”, classificou José Damasceno, integrante da direção estadual do MST. 

Fotos: Francisco Proner

Somando os que vieram a cavalo, o almoço e o baile realizados logo após a cavalgada reuniram cerca de 5 mil pessoas. Parte do público foi de moradores do próprio acampamento, formado por 400 famílias camponesas. Também participaram moradores de outros distritos de Ortigueira, e dos municípios de Mauá da Serra, Imbaú, Faxinal, Londrina, Rosário do Ivaí e Curitiba. 

Logo na chegada das amazonas e cavaleiros à comunidade, todos se uniram em círculo do campo de futebol, com duas grandes bandeiras do MST e do Brasil ao centro. Sérgio de Oliveira, integrante da coordenação do acampamento, enfatizou a relevância do Dia do Trabalhador e da Trabalhadora.

“Todos nós aqui somos trabalhadores e dependemos dessa classe, então é com muita honra que nós estamos aqui festejando com muito orgulho de ser trabalhador. E mais uma coisa que nós precisamos lembrar, nós temos que erguer a mão pra cima e festejar de verdade porque nós estamos vivos e sobrevivemos a uma pandemia”, garantiu a liderança.  

O cardápio típico da região também foi garantido com os mais de 1.900 quilos de churrasco servidos pelas famílias camponesas durante o almoço. Mandioca, saladas e farofa completaram a refeição, oferecida a preço simbólico, para garantia dos custos da festa.

Fotos: Juliana Barbosa / MST-PR

Entre os presentes estavam o deputado estadual Professor Lemos (PT), que percorreu todo trajeto a cavalo; presidente da Câmara Ortigueira, Marcos Rogério de Oliveira Mattos; os vereadores Edson de Oliveira e Gabriela de Andrade, ambos de Ortigueira; Sueder Martins, Paulinho Portela, Osias de Souza, Clarice Portella e Marcela Rodrigues, da Câmara de Vereadores de Faxinal. 

Esta foi a segunda cavalgada realizada pela comunidade, que é uma das mais de 70 áreas de acampamento do MST do Paraná. A primeira ocorreu em 2019, com participação de 400 cavaleiros e amazonas. 

Rumo ao assentamento

A integração do grande número de visitantes, vindos de diversos municípios, mostra a consolidação conquistada pela comunidade Maila Sabrina ao longo de 19 anos de luta pela reforma agrária. O território de 10.600 hectares era de devastação ambiental, pela produção de búfalos, sem cumprir os critérios de reserva legal. 

Desde o início da pandemia, o acampamento tem se somado à campanha nacional de solidariedade do MST. Ao todo, a comunidade já partilhou 60 toneladas de alimentos, entre estes, quase 2 mil pães em todo o estado, mais de 960 toneladas de alimentos foram partilhados por famílias Sem Terra desde o início da pandemia. Para fortalecer a partilha de alimentos, as famílias iniciaram uma horta comunitária de produção sem venenos.

“Essas famílias aqui do Maila Sabrina contribuíram com mais de 60 mil quilos de alimentos para as pessoas necessitadas nesta pandemia. É um orgulho poder dividir o pouco que a gente tinha aqui, e não era a sobra, era dividir, porque nós todos somos fracos. Somos parceiros, esse é um espaço pra somar, e rumo ao assentamento”, enfatizou Sérgio Oliveira. 

A partilha é possível porque a diversidade e a produtividade são as marcas da agricultura e da pecuária no acampamento. As produções de alimentos saudáveis tomam conta do espaço antes devastado. A média anual de produção de frutas no acampamento hoje é de cerca de 21 mil quilos, de grãos e cereais são produzidas 110 mil sacas e mais toneladas de batata doce, moranga, quiabo e diversas folhosas.

A reforma agrária popular mudou o panorama do espaço, com uma escola Itinerante que atende 220 estudantes, igrejas, centro comunitário, unidade básica de saúde, campo de futebol, lanchonete, bar, mercado e igrejas. 

Fotos: Leandro Taques

*Editado por Fernanda Alcântara