Ocupação de Latifúndio

MST volta a fazer ocupações de terra no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais

A reocupação do latifúndio foi realiza por famílias desabrigadas pelas enchentes do Rio Doce, em Governador Valadares e moradores das cidades do entorno
O latifúndio de 718 hectares é atestado como improdutivo pelo Incra desde 2014. Foto: MST MG

Da Página do MST

Na madrugada deste sábado (28/05), cerca de 150 famílias desabrigadas pelas enchentes do Rio Doce em Governador Valadares, e moradores das cidades do entorno, reocuparam a fazenda Eldorado, localizada no Pontal, distrito de Valadares.

O latifúndio de 718 hectares, atestado como improdutivo pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) desde 2014, está em nome de Heitor Soares Coelho.

Para a Coordenação do MST no Vale do Rio Doce, “a reocupação das terras é fruto da necessidade de sobrevivência do povo brasileiro que se encontra em situação de vulnerabilidade social, causada pela falta de assistência pública e políticas voltadas para as necessidades do povo”.

O MST ressalta ainda que diante do cenário político-econômico desastroso da atualidade, ocupar as terras consideradas improdutivas, é dar uma resposta ao governo. “Jair B. colocou mais de 10 milhões de brasileiras e brasileiros em situação de vulnerabilidade e fome, a maioria mulheres chefes de família. O preço da comida, do gás e de tudo não para de subir. Por isso, não resta outra alternativa a essas famílias, a não ser reivindicar seu direito de produzir o alimento e fazer cumprir a função social da terra. A calamidade econômica das cidades vai fazer as ocupações se multiplicarem na busca por moradia, comida e qualidade de vida”.

Histórico

A mesma fazenda já foi ocupada em 2014 por 200 jovens e cerca de 100 famílias Sem Terra. A ação marcava o encerramento do “II Acampamento Estadual da Juventude Sem Terra”, realizado no assentamento Oziel Alves, em Governador Valadares.

Sempre ameaçado pela elite coronelista da região, o acampamento nomeado de “Cidona” resistiu bravamente aos ataques, entretanto, prezando sempre pela segurança das famílias acampadas, a coordenação do MST optou por reorganizar as mesmas e fortalecer a luta, se retirando da área que hoje é retomada.

Ocupamos porque se faz necessário
Ocupamos porque a fome não espera
Porque a noite padece do silêncio amordaçado
Porque a fogueira clama por nossas cantigas
Porque a terra chora sem nossa dança
Ocupamos porque o espírito não se guarda
em cadeias santas
Porque nossos corpos se encolhem
amontoados em caixas cheias de vazio
Ocupamos porque nossas mãos cerram os punhos
involuntariamente sem as palavras de ordem
Ocupamos porque a criança chora sem esperança
Porque a mãe sangra jogada na calçada
Porque o pai não sabe o que fazer com tanta raiva
Ocupamos porque há um grito retido em nós
Um grito que cresce e nos toma feito metástase
Não podemos segurar
Não há cura
Não há cirurgia ou tortura
que o faça calar
Ocupamos porque enquanto a morte vem nos encontrar
A vida nos espera no próximo romper da aurora
G.H.

*Editado por Solange Engelmann