Meio Ambiente

Questão ambiental e Reforma Agrária Popular

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a destruição ambiental, a luta contra os despejos e as experiências agroecológicas são analisadas em artigo
Plantio de 3.500 árvores da Mata Atlântica no assentamento em São Cristóvão do Sul (SC). Foto: Gabriela Schaffer

Por Camilo Augusto
Da Página do MST

Vivemos em nosso tempo uma grave crise ambiental, que por sua vez é uma manifestação, uma face, da crise estrutural do sistema de organização da produção e reprodução da vida que é vigente hoje no mundo, o sistema capitalista. Esse modo de organizar a vida ( capitalista) é baseado na exploração extrema, e cada vez mais crescente do trabalho do ser humano e também na exploração desenfreada dos bens comuns (água, terra, minerais, biodiversidade), entretanto os frutos dessa exploração é concentrado em poucas mãos de super-ricos donos de corporações gigantes que atuam em toda parte do globo.

O capitalismo, de modo geral, tem como único objetivo a acumulação de capital, o lucro, e este é a prioridade central para os donos do poder, mesmo que essa acumulação de lucros se dê em detrimento da destruição das condições de vida como nós conhecemos hoje em nosso planeta, pois esses super-ricos possuem a tecnologia e os recursos necessários para criar oásis e sobreviver com luxo e conforto, diante das consequências da crise ambiental e climática que eles mesmos criaram.

A crise ambiental e sua parte mais amplamente conhecida e divulgada, a crise climática ou o famoso aquecimento global, são temas debatidos mundialmente já a algum tempo (ao menos desde os anos 90), porém esse debate ficava e ainda fica restrito à universidade e ao mundo dos cientistas da geografia, do clima, da biologia e etc. e era coisa abstrata para a maioria esmagadora da população.

Nos nossos dias, esses temas ganham contornos drásticos que nos remete a refletir sobre a necessidade de avançar no debate e na formulação de saídas para essa crise, visto que cada dia aumentam os extremos climáticos, que são sentidos na carne pelo povo trabalhador e pobre de nosso país.

Basta ver quem sofreu com as enchentes no sul da Bahia, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no ano passado, as ondas extremas de calor no sul e norte do país, a seca extrema no Rio Grande do Sul e mais recentemente, na semana passada, as enchentes em Pernambuco.

Foram os grandes fazendeiros responsáveis pelo desmatamento na Amazônia, e nos demais biomas, que causa a desregulação das chuvas? As mineradoras que retiram minério destruindo a floresta e contaminando a água dos rios, além de matar pessoas com sua negligência à segurança de seus empreendimentos? As empresas que envenenam os rios e o solo com sua produção de soja para combustível e ração que serão exportados? De maneira alguma!

Quem sofre as consequências da crise criada pela exploração irresponsável, sem controle nem limites, da natureza somos nós, classe trabalhadora: negros e negras, mães solteiras das periferias, carpinteiros, pedreiros, operários, camponeses, indígenas etc. quem sofre é o pobre.

Como já foi afirmado acima, hoje podemos sentir e ver bem nitidamente a tal crise ambiental e também podemos ver na TV, no instagram, no facebook e por todos os lados o discurso dos “salvadores do ambiente” homens como Elon Musk, que destrói a natureza para extrair minérios e fazer baterias de carro se apresenta como um homem que se preocupa com o meio ambiente, ou o Agronegócio que apresenta como saída para resolver os problemas do alto consumo de água, envenenamento, desmatamento, uma tal agricultura de precisão que não resolve nem de longe nenhum os problemas ambientais causados pela produção de commodities, produtos que são produzidos para a exportação e que não são alimento para o povo brasileiro.

Esses ricos que causaram a crise ambiental e climática irão se aproveitar dessa mesma crise para tentar acumular mais riqueza em suas mãos, criando novas tecnologias para a produção e reprodução da vida com a mesma lógica destrutiva, e irão vender essas tecnologias para todo o mundo e ficarão ainda mais ricos, mas não solucionarão a crise ambiental, porque essa só pode ser solucionada se o povo se organizar para decidir e controlar a forma e a intensidade de exploração da natureza, visando o bem estar de todo o mundo e não o lucro de poucos.

No caso brasileiro, para isso ser alcançado, a saída da crise ambiental através do controle popular sobre os bens comuns, é fundamental que se faça a reforma agrária, pois só ela pode frear o desmatamento e a destruição das águas e das florestas que está em curso no nosso país. Demarcar as terras indígenas e derrubar a tese do marco temporal também é fundamental, visto que se ainda temos floresta em pé nesse país é porque os povos indígenas resistem há mais de 500 anos e lutam para proteger a casa deles – essa floresta responsável pela produção do ar para respirarmos.

Os assentamentos do MST possuem exemplos importantíssimos que demonstram de forma concreta como a Reforma Agrária pode solucionar os problemas ambientais, os quais o agronegócio e o latifúndio jamais solucionarão. Assentamentos como o “filhos de sepè”, em Viamão (RS), que se localiza na área circundante a uma reserva legal e é um grande produtor de arroz orgânico que faz a gestão comunitária dos mais de 500 hectares de água e das mais de 1500 hectares de floresta, gestão essa que fez com que o povo desse assentamento não sofresse tanto com a seca do último ano como os outros produtores de arroz da região, pois a gestão da água visa a preservação das condições de vida ali no território e não o lucro.

Também temos assentamentos em que ganharam prêmios internacionais pela preservação que fazem da Mata Atlântica, ou até mesmo as 1500 famílias do MST no extremo sul da Bahia que produzem de forma agroecológica, podem ser citadas como exemplo de que é possível produzir sem destruir e que a Reforma Agrária Popular é parte indispensável da solução da crise ambiental.

Por isso é central nesse atual momento a luta contra os despejos, pois cada palmo de terra que arrancamos do latifúndio destruidor da vida, é um passo que damos em direção à consolidação de uma forma diferente de se relacionar com a natureza. Uma forma que como bem mostram os exemplos citados, assim como tantos outros, como os acampamentos do Paraná que doaram toneladas de alimentos produzidos em áreas de ocupação para milhares de famílias pobres das cidades. Esses exemplos mostram que a solidariedade é aliada à conservação ambiental e à produção de alimentos saudáveis, por isso para avançarmos na solução dessa tão falada crise é preciso gritar em tom de luta: NÃO AOS DESPEJOS! Reforma Agrária Popular já!

*Editado por Wesley Lima