Juventude Sem Terra
Juventude amazônica denuncia impactos do setor agromineral no Maranhão
Por Mariana Castro
Da Página do MST
Durante os dias 4, 5 e 6 de junho, mais de 50 jovens dos estados do Pará, Maranhão e Tocantins se reuniram no acampamento Marielle Franco, no município de Itinga (MA), com encerramento em ato de protesto na sede da empresa Viena Siderúrgica, como parte da 13ª Jornada Nacional da Juventude do MST, sob o lema ““Juventude em Luta, pela Terra e Soberania Popular!”.
Ainda sem acesso a direitos básicos como água potável e energia elétrica, as cerca de 150 famílias acampadas vivem sob conflitos e ameaças de despejo, especialmente por parte da empresa Viena Siderúrgica, que além de beneficiar minério de ferro extraído da Serra dos Carajás, em Parauapebas (PA), possui propriedades no Maranhão com produção de eucaliptos para produção de carvão usados nos fornos das empresas de siderurgias em Açailândia.
Em sua maioria filhos e filhas de assentados, os jovens puderam vivenciar os desafios pelos quais seus familiares já passaram no processo de luta pela regularização da terra e acesso a melhores condições de vida, além de participar de atividades como oficinas do Teatro do Oprimido, Comunicação Popular e Manutenção de Viveiros, com a presença dos acampados em todas as ações.
Prestes a completar 5 anos no próximo dia 9 de junho, o acampamento apresentou para a juventude os sentimentos de determinação e resistência, por meio da acolhida calorosa e da vasta produção da agricultura familiar, com estoques de alimentos como arroz, feijão, milho, amendoim, abóbora, corante, frutas e hortaliças.
Os acampados relatam com orgulho que “tudo que se planta no Marielle, dá”. Com uma terra fértil e mãos dedicadas, o Acampamento Marielle Franco é reconhecido pela conquista histórica de realizar a primeira feira de produtos da reforma agrária do município de Itinga.
Entre as atividades estava a escuta aos moradores que produzem na área. O agricultor Afonso Almeida, que planta para o consumo da família e venda o excedente na feira, explica que se eles tivessem garantia da posse da terra, certamente produziriam ainda mais.
“Por enquanto fazemos rocinhas pequenas porque estamos em fase de acampamento, mas a gente tendo a garantia de assentamento com certeza a gente tem como produzir mais, criar uma vaquinha, tomar um leite. Com um projeto de governo que possa ajudar a gente, seria bom demais”, explica.
No entanto, toda a produção do Marielle Franco tem sido ameaçada pela pulverização aérea de agrotóxicos lançados pela empresa Viena Siderúrgica, que destrói as plantações agroecológicas das famílias.
É o que explica o agricultor João Gonçalves e a companheira Antônia Aguiar, que além da roça, mantém um extenso quintal produtivo com frutas e diversas outras variedades como pimentas, milho e mandioca. Aos 70 anos, seu João lamenta o adoecimento de mais de 50 pés de caju da família.
“O veneno está acabando com minhas coisas tudo. Ele vem no vento pelos aviões dessa fazendona que jogam aqui por cima. Ano passado a gente perdeu as castanhas tudo e esse ano já jogaram veneno de novo. A gente molha, carrega água nas costas, trabalha e vê tudo morrendo. É duro demais!”, denuncia João.
Após conhecer pessoalmente a realidade das famílias em processos de escuta e diálogo, os jovens encerraram a vivência em um ato de protesto em frente à sede da empresa Viena Siderúrgica, que ameaça os acampados de despejo.
Sob o lema “Juventude em Luta, pela Terra e Soberania Popular!”, os jovens levantaram reivindicações em defesa da Amazônia, com pautas como a regularização da área de cerca de 9 mil hectares junto ao Incra, a imediata paralização da pulverização de agrotóxicos, acesso à energia elétrica e água potável às famílias, a fim de que possam viver com dignidade e produzir alimentos saudáveis.
*Editado por Fernanda Alcântara