Nota de Falecimento

MST se despede do Padre João Caruana

Em nota, MST no estado do Paraná relembra legado do Padre João na construção da Reforma Agrária Popular
Padre João Caruana, como era chamado aqui no Brasil, tem sua vida ligada ao MST desde seu primeiro ano no país. Foto: Divulgação

É com grande pesar que comunicamos o falecimento do nosso grande amigo Padre John Caruana. Aos 81 anos, nos deixou fisicamente na manhã desta terça-feira (28), após uma parada cardíaca em casa, na cidade de Maringá (PR).

Padre João Caruana, como era carinhosamente chamado aqui no Brasil, tem sua vida ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde seu primeiro ano no país. Consagrado padre em 1967, na sua terra natal, Mosta, povoado da Ilha de Malta, Caruana sempre demonstrou a vocação missionária. Esperou 17 anos para realizar o seu sonho, e chegou ao Brasil em 1984, ano de criação do MST. 

Atuou na Arquidiocese de Maringá nas paróquias Santa Terezinha do Menino Jesus e Nossa Senhora das Graças, em Sarandi (PR), São Silvestre em Maringá, e foi missionário na Diocese Guajará-Mirim, em Rondônia, como parte do projeto “Igrejas Irmãs”, da CNBB. Atualmente, era vigário da paróquia São Silvestre, em Maringá. 

Em nosso último encontro coletivo com o Padre João, durante a celebração de 20 anos da Escolas Milton Santos, tivemos o privilégio de ouvi-lo dizer, com a voz já baixinha: “Quando cheguei ao Brasil e participei do 1º Congresso Nacional do MST [1985], decidi que esse seria o meu movimento”. E foi o que ele fez, em inúmeros encontros, com muito amor.

Padre João foi um incansável defensor da Reforma Agrária, dos nossos assentamentos e acampamentos. Também deixa um legado de trabalho com as Comunidades Eclesiais de Base, pastorais sociais. Grande ser humano, de fé e convicções em favor do povo. 

Entre as inúmeras ações de compromisso com o povo, muitas ocorreram no período de extrema violência no campo cometida pelo governo Jaime Lerner, entre 1995 e 2002. Numa ocasião, Padre João ofereceu um anel seu como prêmio em uma rifa na época dos violentos despejos aqui na nossa região Noroeste do Paraná, para ajudar as famílias camponesas. Em outro episódio, no mesmo período, o religioso conseguiu um advogado que aceitasse defender os militantes Sem Terra, num contexto de enorme perseguição política contra o Movimento.  

A síntese da sua atuação em prol do povo Sem Terra está eternizada no livro “O MST, um outro olhar – o que a mídia não divulga”,  publicado em 2019. A obra contundente é resultado dos 35 anos de experiência do religioso no Brasil. 

“Eu sempre senti que eu tenho um dever duplo na minha vida: primeiramente, de apoiar publicamente, assinando em baixo, aqueles pais e mães de família, que se dedicam dentro de um ou outro movimento, com todos os riscos que não são nem poucos nem pequenos, em favor da construção de uma sociedade justa, neste caso, fazendo acontecer a tão almejada reforma agrária. Secundariamente eu procurei ajudar com meu testemunho em Jesus Libertador, os demais cidadãos, igualmente de boa fé, mas vítimas das manipulações da Grande Imprensa, para que eles também entram num processo de conscientização”, ressaltou no prefácio.

Descanse em paz e ao lado dos justos, nosso eterno companheiro Padre João. Aqui, seguiremos nossa e sua luta, inspirados e iluminados pela sua energia e sua imensa contribuição para a construção da Reforma Agrária Popular e para toda luta por uma sociedade mais justa. Você seguirá vivo entre nós, por seu exemplo e seu legado. 

Nossos profundos sentimentos aos familiares e amigos. 

Padre João, Presente, Presente, Presente! 

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Curitiba – PR, 28 de junho de 2022