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Com luta, resistência e emoção, 10º edição do Fospa é lançado em Belém (PA)

“A Constituição Brasileira sangra”, afirmam os movimentos e organizações do Fórum
O Fórum é uma articulação internacional entre os povos do campo, das águas e das florestas. Foto: Michele Jaques

Por Michele Jaques e Tania Coelho
Do Fórum Social Pan-Amazônico

O lançamento do X Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa), no centro histórico de Belém, fez da tarde do último dia 30 de junho um encontro memorável, com emoção, indignação, luta e festa.

Em um primeiro momento, lideranças se reuniram no Solar da Beira em uma apresentação híbrida, focada na mídia e nos parceiros, para anunciar que o Fospa, com seus movimentos locais, nacionais e internacionais está em marcha. O dia terminou com o ato público Belém em Defesa dos Povos da Floresta, realizado em parceria com a prefeitura da cidade. Belém é hoje identificada como “a trincheira dos povos, capital da rebeldia”.

Completando 20 anos de existência, os principais objetivos do Fospa foram apresentados pelo cineasta Luiz Arnaldo Dias Campos, representando a Secretaria Executiva do X Fospa e o Comitê Internacional. “Nossos objetivos são ambiciosos quando nos propomos, com tantos povos, idiomas, e culturas a unir na luta toda essa diversidade. Apesar de diversos temos o objetivo comum de deter esse capitalismo predatório que destrói a floresta, os povos, as culturas e de construir uma sociedade não mais baseada na ganância e sim na cooperação, não mais na perseguição e sim na solidariedade, não mais no lucro e sim no bem viver”.

A voz dos movimentos

Em um processo de articulação e troca de experiências, de fazer campanhas e apontar objetivos, representantes dos movimentos em marcha rumo ao Fospa deram seus depoimentos sobre o gravíssimo momento que vive a Pan-Amazônia e a Amazônia brasileira, sob violento e permanente ataque genocida. Resistência, Coragem e Determinação de defender seus territórios marcaram a clara determinação de, em permanente movimento, unir forças no X Fospa.

Representaram os movimentos: Célia Neves, da Comissão de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Tradicionais Costeiros e Marinhos (Confrem), moradora da reserva Mãe Grande de Curuçá; Valéria Carneiro, da Coordenação das Associaçõesdas Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu) e da Coordenação Nacional de Articulação Quilombola (Conac/PA); Wendel Tembé liderança do povo Tembé e Coordenador de Ensino Indígena da Prefeitura Municipal de Belém; Putira Sacuena, liderança indígena do povo Baré e integrante da Associação dos Povos Indígenas Estudantes da Universidade Federal do Pará (APYEUFPA); Ronaldo Amanayé, do povo Amanayé, da diretoria da Federação Estadual dos Povos Indígenas do Pará (Feepipa); Carlos Augusto Silva (Guto) Secretário Nacional de Formação da Contag, representando a região norte do Brasil e Cleidiane Vieira, do Movimento dos Atingidos por Barragem, que atuou como moderadora.

Em seu depoimento, Wendel Tembé, trouxe registros da história de seu povo: “São os índios que fazem a proteção de seus territórios, enfrentam tiroteios, vão pro confronto e são mortos porque o Estado não faz cumprir a Constituição. Em 11,6% do território nacional estão os povos indígenas. E essas terras estão em disputa. Grilagem, exploração de minério, madeira… E quem fomenta isso são os políticos inescrupulosos. A Constituição Brasileira sangra!!!. Somos aproximadamente 2.400 do povo Tembé ocupando um território de 279 mil hectares que está na mão dos invasores com assistência da Vale. A gente sofre e grita por socorro porque sabe que a união nos dá mais força”.

Ato Belém em Defesa dos Povos da Floresta

Olhares atentos, passos firmes e vozes potentes, construíram a manifestação em defesa dos povos da floresta, que lançou o X Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa). O ato público partiu da Escadinha do Cais em direção a Praça do Relógio, símbolo do Movimento da Cabanagem, e concentrou o povo que resiste na luta para manter a vida da floresta e dos viventes que nela moram, de pé, com ações em parceria com a Prefeitura de Belém.

Embalado por cantos indígenas e regionais, como carimbó, no ato também foi aberto um espaço aos representantes indígenas, quilombolas, movimentos sociais e grupos em defesa da vida em um momento de fala, que destacou as principais pautas que atingem os povos e consequentemente toda a humanidade, além de fortes declarações de uma relação de cuidado e carinho com a floresta.

Durante o encontro, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, ressaltou a importância do X Fospa para a capital da resistência. “Belém é uma cidade cosmopolita, cada vez mais uma cidade inteligente, e que vai sediar o X Fórum Social Pan-Amazônico, que reunirá povos de toda a Amazônia brasileira e internacional. É bom esse reconhecimento de Belém, que se transforma nesse grande palco das ações sociais voltadas a transformar o Brasil”, destacou Edmilson Rodrigues.

Os gritos de justiça, fora Bolsonaro, apresentaram a resistência e o fortalecimento dos povos que se uniram mais uma vez na luta pelo direito de existir. Na ocasião, os nomes dos ativistas que perderam a vida defendendo a floresta, foram ecoados, fazendo com que o público respondesse em um coro firme, Presente! a cada leitura do nome. O brutal assassinato de Bruno e Dom também foram lembrados, mantendo viva a presença do jornalista e do indigenista no caminhar na capital da resistência.