Multiplicação de Alimentos

Festa da Reforma Agrária partilha mais de 2 mil almoços grátis, em Laranjeiras do Sul (PR)

Em comemoração ao aniversário de 25 anos do assentamento 8 de Junho, as famílias assentadas realizaram a tradicional festa de aniversário, com almoço servido gratuitamente
A festa, com almoço comemorou 25 anos de lutas e conquistas do assentamento 8 de Junho. Foto: Thiarles França

Por Setor de Comunicação Região Centro do Paraná
Da Página do MST

Após 2 anos sem festa, devido a pandemia da Covid-19, no último domingo (10/07), as famílias do assentamento 8 de Junho, no município de Laranjeiras do Sul, no Paraná, realizaram a tradicional festa em comemoração ao aniversário do assentamento, que neste ano completou 25 anos de lutas e conquistas.

Foram servidos mais de 2.000 almoços gratuitamente. O cardápio foi preparado pelas próprias famílias assentadas em tachos, e contou com: macarronada, porco no tacho, risoto, carreteiro, quirera e vaca atolada, além de saladas, pães e cucas.

“Desde a época de acampamento, a gente se organiza em grupos e, através dos grupos, a gente organiza os eventos”, explica Sadi Amorin, camponês, assentado na comunidade. O cardápio foi construído coletivamente e cada grupo de famílias do assentamento, ao todo 7 grupos, escolheu um prato e organizou toda a logística de preparo e bufê para partilha. O assentado comenta que neste ano houve uma mudança no cardápio, “esse ano a gente fez uma experiência nova, que foi a comida no tacho”, nas festas anteriores havia sido servido o churrasco.

Fotos: Thiarles França

A festa reuniu apoiadores de Laranjeiras do Sul e região. Entre os que almoçaram e que participaram do matinê estima-se que aproximadamente 4 mil pessoas passaram pela festa.

O assentado afirma que “superou as expectativas, porque a gente tinha planejado servir 1.500 a 1.800 almoços, e passou de 2 mil almoços servidos”. Mesmo tendo ultrapassado a expectativa não faltou alimento para ninguém!

A programação também contou com mística de abertura que retratou a história do assentamento e homenageou a companheira Fátima Amorin, falecida no dia 25 de maio de 2022, com o plantio de uma árvore. A mística também denunciou a fome que assola 33 milhões de pessoas e reafirmou a capacidade da reforma agrária em produzir alimentos saudáveis enfatizando a Campanha Nacional do MST: Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. Além de ressaltar a importância da educação superior entra as famílias assentadas, pois cerca de 50 jovens já acessaram o ensino superior, somente na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), que tem um campus na área do assentamento, com 22 jovens do local que se formaram ou estão cursando graduação.

Mística de abertura retratou a história do assentamento e homenageou a companheira Fátima Amorin, com o plantio de árvore. Foto: Thiarles França

O ato político, realizado após a mística de abertura, contou com a presença do Deputado Federal Zeca Dirceu, Deputado Estadual Professor Lemos, secretário de agricultura Gilmar Negretti, que representou a prefeitura de Laranjeiras do Sul, vereador Tarso Campigoto, representando a Câmara de Vereadores de Laranjeiras do Sul, Professor Elemar Cezimbra, representando a UFFS, o prefeito de Rio Bonito do Iguaçu Secar Bovino, Pré-candidatos a deputado estadual Paulo Porto e Professora Terezinha. Representando o MST assentada Thaile Lopes e, representando as famílias assentadas, Darci da Silva e Sadi Amorin, que receberam a Menção Honrosa entregue pelo deputado professor Lemos em nome da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP).

Foto: Thiarles França

Á tarde a programação seguiu com matinê animado pela Banda Remix do Paraná, de Quedas do Iguaçu. Às 15h30 foi realizada a partilha do bolo de aniversário, feito pelas companheiras que organizam a agroindústria de panificados, o bolo pesava em média de 50kg e também foi servido gratuitamente a todos que estavam presente. Também ocorreu o sorteio da rifa que continha 25 prêmios, doados por diversos apoiadores do comércio local. 

Sadi Amorin ressalta a importância da festa e a centralidade na partilha de alimentos, o que demonstra a importância da Reforma Agrária Popular. “Essa partilha também tem uma importância muito grande para a reforma agrária, mostra que a reforma agrária dá certo!” Complementa: “A reforma agrária não é somente para aquele que está em cima do lote, é para todos. Pois temos condição de produzir, ter uma vida melhor e ainda dá condição da gente partilhar com aqueles que não tem”.

A festa, assim como as demais ações de solidariedade do MST, prova o verdadeiro sentido da multiplicação do pão. Um pouco mais de 100 famílias que vivem no assentamento organizam com sua produção e seus recursos um almoço que alimentou de forma gratuita mais de 2 mil pessoas. 

Bolo de aniversário foi distribuído aos participantes da festa. Foto: Thiarles França

História

“São 25 anos de história. Quatros anos de acampamento, em que enfrentamos dias difíceis em baixo da lona preta, rigorosos invernos e tempestades, pistoleiros rondando o acampamento e tantos outros desafios. Mas também foi nessa trincheira que nos constituímos como comunidade, uma grande família camponesa unida pelo sonho de conquistar um pedaço de terra.” Dizia trecho do texto, narrado durante a mística.

Fotos: Arquivo histórico MST

Em 1997, no dia 8 de junho, 17 famílias organizadas pelo MST montaram um acampamento às margens da BR 158, no município de Laranjeiras do Sul (PR). Em pouco tempo o acampamento passou a ter mais de 200 famílias que então cumpriram o grande objetivo, em janeiro de 1998 as famílias ocuparam a então fazenda improdutiva Rio Leão.

No ano de 2001, ali se iniciava a possibilidade de uma nova vida para 74 famílias Sem Terra. Ao longo dos anos foram conquistando casas, estruturando seus lotes, criando associação, fortalecendo o cooperativismo e a agroecologia. 

As famílias sempre compreenderam a importância da educação para os jovens e adultos da comunidade. Em 2009 as famílias cederam 3 lotes do assentamento para receber o campus da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), primeiro campus de uma universidade federal construído dentro de uma área de reforma agrária. Também tem construído na área comunitária uma escola municipal do campo, que será inaugurada em breve. As famílias exigem que a escola inicie as atividades ainda neste ano de 2022, com a oferta da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Fotos: Jaine Amorin e Arquivo MST

Nas terras, antes concentradas e improdutivas, hoje vivem mais de 100 famílias divididas em 71 lotes, que produzem uma diversidade de alimentos para subsistência, geração de renda e partilha. “A produção e a partilha de alimentos, a cooperação e a solidariedade estiveram presentes desde o início da história desta comunidade, desde o acampamento até os dias atuais”, afirma trecho narrado na mística.

A comunidade também se soma ativamente na Campanha Nacional do MST: Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis e de Solidariedade Sem Terra, que desde o início da Pandemia, somente no Paraná, já distribuiu 137.200 Marmitas da Terra e partilhou 990 toneladas de alimentos com famílias em situação de vulnerabilidade social.

Fotos: Jaine Amorin

Em 2001, a comunidade formalizou a Associação Comunitária Social Esportiva e Cultural 8 de Junho. Já em 2005, as famílias estruturaram uma cozinha comunitária, que se expandiu para o panificação, com produção de pães e massas, e em 2009, criaram a Cooperativa Agroindustrial 8 de Junho (Coperjunho), para acessar programas institucionais do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), além do fornecimento de serviços de alimentação em eventos.

Desde 2009 também se organiza o Grupo de Agroecologia, que atualmente possui 6 famílias, certificadas pela Rede Ecovida de Agroecologia, que produzem alimentos saudáveis e plantas medicinais, livres de transgênicos e sem agrotóxicos.

As famílias assentadas não comemoram apenas os 25 anos de lutas e conquistas desse assentamento, comemoram a Reforma Agrária Popular, que produz comida de verdade e alimenta milhares de famílias brasileiras.

*Editado por Solange Engelmann