Arte e Cultura

Escola de Arte João das Neves 2022 demarca a alegria como uma trincheira em MG

Em sua 3º edição, a Escola reuniu mais de 60 pessoas ligadas à cultura e contou com oficinas e vivências artísticas em diversas linguagens
“Arte é mais do que as linguagens artísticas, é uma dimensão humana”, afirma artista Sem Terra. Foto: Dowglas Silva

Por Agatha Azevedo
Da Página do MST

O convite do MST deu sentido a tudo que eu fiz na minha vida”
João das Neves

Entre os dias 12 e 17 de julho, o Centro de Formação Francisca Veras, localizado no assentamento Oziel Alves Pereira, em Governador Valadares (MG), na região do Vale do Rio Doce, esteve tomado por militantes ligados ao coletivo estadual de cultura do MST. Segundo Guê Oliveira, da direção estadual do Coletivo de Cultura, a Escola de Arte representa a troca entre as pessoas, e é uma fileira de luta fundamental para o MST.

“Arte é mais do que as linguagens artísticas, é uma dimensão humana que nos foi expropriada, assim como a terra”, explica Guê.

Ao longo de seis dias de atividades, foram realizadas oficinas de muralismo com as organizadoras do Circuito Urbano de Arte (CURA), Flaviana Lasan, Pri Amoni, Jana Macruz, Juliana Flores e o grafiteiro Gabriel Nast; de coro cênico e percussão com Titane, Sérgio Pererê, Pereira da Viola e Paulinho Santos; e de audiovisual e fotografia com Fernanda, Danilo e Ana do Coletivo Deck Arte. Além das oficinas, a atividade contou com um espaço de cuidados e uma dinâmica de Círculos de Cultura, além das atividades espontâneas, como yoga, roda de pandeiro, violão e rabeca, produção de abayomis e construção do balaio da memória.

Entendendo a arte como uma trincheira de luta e alegria, educandos/as/es de sete regionais do MST em Minas Gerais puderam vivenciar a experiência artística a partir da igualdade e da diversidade. A artista Titane, uma das oficineiras e coordenadoras da Escola, afirma que esse é um dos papeis da arte: “um pressuposto de todos nós”.

As escolas de arte do MST e a Memória de João das Neves

O João, no meio da juventude da escola de arte, virava um menino.”
Guê Oliveira

A história da Escola de Arte do MST começa a partir do Festival Nacional, realizado em 2016, na capital mineira, e da articulação política dos artistas parceiros do MST, que cada vez mais são construtores e construtoras do Movimento. Em 2017, no ano seguinte, aconteceu a primeira Escola de Arte, com a participação do João das Neves e de diversos artistas.

Ao falar da Escola, Titane relembra as falas deste período, em que o dramaturgo e amigo do MST se fez presente: “todos somos artistas em alguma medida, é o que nós vivemos, e o João entendia isso como nós também entendemos e fazemos na Escola de Arte. Quem faz a arte somos todos nós e a cultura brasileira cresce como o resultado de todos nós”, afirma a artista.

Em 2018, João das Neves partiu, e então, o MST nomeou a Escola de Arte com seu nome; e em 2019, realizou-se a segunda edição da atividade. Já em 2020, o MST se reinventou e fez a Escola de Arte Virtual, e em 2022, a terceira edição presencial trouxe a Escola de Arte de volta aos territórios, ocupando o Centro de Formação Francisca Veras, no assentamento Oziel Alves Pereira.

A cultura Sem Terra e a Escola de Arte

Durante a Escola de Arte, propôs-se a construção de um balaio da memória, em que as diversas linguagens artísticas presentes na atividade se materializariam em conteúdo.

Confira as fotografias e alguns dos trechos escritos pelos educandos/as/es para o balaio da memória:

“A nossa história tem as mesmas raízes.” – Luana (Zona da Mata)

“Vida. Palavra tão pequena.” – João Paulo (Vale do Rio Doce)

“A poesia é a arte de fazer a vida gostosa.” – Anderson (Zona da Mata)

“Em cada corpo, a consciência de comunidade, de sutileza, da dimensão do trabalho que propusemos a realizar.”- Filp (Norte de Minas)

“A cultura é um ponto intercomunicador” – Joana (Metropolitana)

“A gente tem que ter uma musicalidade curiosa” – Paulinho (artista)

“Pulmão é o órgão da alegria” – Lucinha (Vale do Rio Doce)

“A dor não é para ser sentida, precisamos defender a alegria como uma trincheira porque isso também é saúde.” – Luana (Vale do Rio Doce)

“Árvore cascuda não torna a tombar” – Agatha (Metropolitana)

“Nos somos mais do que o pensar, do que o racionalizar a vida” – Guê (Vale do Mucuri)

“O homem e a mulher coletiva sente a necessidade de lutar.”- Fernanda (Deck Arte)

“A porta canelada é um reco reco gigante” – Pererê (artista)

“Comece onde você está, utilize o que você tem e faça o que você pode.” – CURA

*Editado por Wesley Lima