Formação

O papel da saúde mental na construção das sexualidades e gêneros

O tema fez parte dos debates do Curso Saber Protege, que teve início neste último domingo (7/8) e se estende até o dia 14, com LGBTI+ de todo o Brasil
Momento de autocuidado, abrindo o tema da Saúde Mental no Curso. Foto: Wesley Lima

Por Wesley Lima
Da Página do MST

A pandemia de COVID-19 desencadeia um aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo. O dado da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) foi apresentado nesta quinta-feira (11/8), durante Curso de Formação de Educadores e Educadoras Populares em Saúde LGBTI+ do Campo e Prevenção às IST/HIV/AIDS, no Centro de Treinamento da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), localizado em Salvador, na Bahia.

O curso tem o objetivo central atuar na promoção da saúde da população LGBTI no campo e reafirmar os princípios da universalidade, da integralidade e da participação social do Sistema Único de Saúde (SUS). Para o MST, as atividades formativas são encaradas como um passo à frente na construção da luta e no aprofundamento da diversidade sexual e de gênero no campo.

O tema da saúde mental foi conduzido por psicólogos de formação, que tem contribuído na construção da Rede de Combate à Violência no estado de São Paulo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estar com a saúde mental significa ter bem-estar, o que resulta em uma satisfação em viver e contribuir com o ambiente em que vive. Também consiste em saber administrar as próprias emoções.

Leandro Amorim Rosa, professor na Universidade Federal do Acre (UFAC), sinaliza que a saúde mental é um processo que se conecta ao todo da vida e se constrói também em comunidade, na coletividade, entendendo este último como um espaço de experimentação construído pelo MST.

Entendemos que ter saúde é também transformar ambientes adoecedores e o processo de transformação é coletivo. Existem especificidades que constituem a construção de nossas existências  e precisamos olhar para essa dimensão. Porém, não podemos abrir mão da totalidade”

Ele explicou que para o MST a construção de um recurso coletivo na luta contra o adoecimento mental tem sido estratégico. “A saúde não é um estado é um processo. A gente percebe o mundo a partir do lugar que a gente ocupa e o espaço da luta mexe em todas as dimensões com as quais nos posiciona e nos coloca em Movimento”, destacou Rosa.

Mesa Saúde Mental e a Diversidade Sexual e de Gênero. Foto: Cadu Souza

Nesse mesmo sentido, Paula Sassaki Coelho, conhecida como Paulinha, integrante setor de gênero do MST, apontou que a constituição do ser humano é mediado por duas grandes dimensões: a singularidade e a totalidade. “Essas duas dimensões caminham juntas. Estão conectados. Hoje temos um conhecimento médico baseado em uma individualidade extrema. Pensando em nossa constituição enquanto sujeito, sabemos que é o trabalho que dá para nós a construção de nossa constituição enquanto ser humano”, explicou.

“Quando falamos dos seres humanos, estamos falando de uma outra capacidade genética, o que nos diferencia dos animais, mas nós temos o poder de imaginar, a possibilidade de criação de instrumentos […]. É importante trazer essas coisas, porque a todo tempo nós somos tomados pelo nosso campo individual e biológico. Por isso é importante destacar que não somos apenas sujeitos biológicos. Somos seres complexos, que se constroem na coletiva e na experimentação da vida.”

Sobre os campos de estudo na Saúde Mental, no ponto de vista da luta de classe, Paulinha sinalizou que é conveniente para burguesia “nos enxergar como sujeitos individuais e biológicos”. Ela contou que essa visão tira todo o poder nosso de produzir e construir lutas em nossas organizações. “A saúde mental é uma dimensão e nós já fazemos uma diversidade de coisas que estão conectados com esse campo de estudo”, e continua: “em momento de fome, barbárie, pensar em saúde mental é um pontapé no processo de humanização das relações”.

Dinâmica durante o curso. Foto: Wesley Lima

Rede de Combate a Violência

A Rede de combate à violência doméstica é uma iniciativa do MST no estado de São Paulo. A experiência nasce no início da pandemia de Covid-19 com os objetivos de orientar e acompanhar os casos de violência acometidos contra as mulheres, especialmente as que vivem em áreas de assentamentos e acampamentos.

Para o MST no estado, a Rede precisa ser vista como um espaço “semente”, fruto do acúmulo de lutas pregressas e de sonhos e necessidades urgentes, e que ela precisará de muita dedicação e empenho para que possa ganhar vida e cumprir seu papel neste enfrentamento.

A partir da experiência da Rede, que tem trabalhado no acompanhamento de casos, mas também na produção de materiais que informam, formam e organizam, numa perspectiva de combate a violência nos territórios do MST, outras ações foram construídas, como a Rede de Psicólogas e Psicólogos pela Reforma Agrária Popular e o Seminário “MST e as novas Relações Humanas”.

Curso

Curso segue com atividades de formação até domingo (14). Foto: Cadu Souza

O tema da saúde mental tem aparecido transversalmente em todos os espaços de estudo do Curso. Ou seja, é uma dimensão indispensável para se pensar a construção das sexualidades e gêneros, levando em consideração, que essas construções são atravessadas por diversos fatores e, principalmente, violências que impactam o cotidiano dessa população no campo. O curso de formação faz parte do Projeto “Saber Protege: Saúde e Prevenção de Epidemias e Infecções Sexualmente Transmissível – IST/HIV no Campo”.

*Editado por Fernanda Alcântara