Produção

Associação Internacional para Cooperação Popular visita experiências do MST na Bahia

Durante a passagem no Extremo Sul baiano, foram visitados experiências da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto (EPAAEB), o assentamento Jacy Rocha e o assentamento Adão Preto
Visita dos integrantes da Associação Internacional para Cooperação Popular (AICP). Foto: Daniel Violal, do coletivo de comunicação do MST-BA

Por Jobson Passos, do coletivo de comunicação do MST-BA
Da Página do MST

Na manhã da última terça-feira (23), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST recebeu a visita dos integrantes da Associação Internacional para Cooperação Popular (AICP), que é composta por países da América Latina, África e Ásia. A AICP surgiu a cerca de três anos como iniciativa de algumas organizações que compõem a Assembleia dos Povos, a associação é uma ferramenta para intercâmbio tecnológico entre países do Sul, Ásia e América Latina.

Para Luiz Zarref, do setor nacional de produção, “esse é um momento muito importante por que a AICP tem buscado meios de contribuir com o pequeno agricultor na questão tecnológica em diversos eixos, como bioinsumos, mecanização agrícola para agricultura camponesa, produção de arroz, de tomate, de energias solar, plantio de árvores e do cacau. Na África ocidental, o cacau é produzido pelos camponeses, embora ainda em um sistema de muita exploração, com baixo desenvolvimento tecnológico e completamente controlado pelo agronegócio”, reitera.

Um dos integrantes da associação que participaram da visita, o Ganês Kieretwie Opoku, faz parte da coordenação do Movimento Socialista de Gana e também representa o escritório da AICP, que tem sede em Gana. Ao vir ao Brasil, aproveitou para ver de perto as experiências do Extremo Sul da Bahia na produção do cacau e seus derivados. Junto com o Ganês estavam presentes representantes do setor de produção do MST, representante da Universidade de Brasília (UnB) e do escritório da AICP no Brasil.

Durante a passagem no Extremo Sul baiano, foram visitados experiências da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto (EPAAEB), o assentamento Jacy Rocha e o assentamento Adão Preto. Na EPAAEB, a equipe técnica da escola mostrou todos os espaços produtivos da área.

“A escola nasce para produzir e socializar conhecimentos na transição e produção agroecológica, o MST aqui na Bahia, após várias reflexões entendeu que não fazia sentido ocupar a terra e continuar a produzir alimentos da maneira convencional, utilizando veneno, dependente do agronegócio. Partindo dessa premissa que nasce a Escola Popular Egídio Brunetto, com a tarefa revolucionária de aplicar a agroecologia na prática, que pretende aliar o conhecimento técnico com o conhecimento popular, nessa construção juntos com os assentados e acampados os conhecimentos agroecológicos”, afirma Felipe Campelo, da Coordenação Pedagógica da EPAAEB.

“Do ponto de vista da agricultura, muitos limites que as famílias enfrentam aqui enfrentamos em Gana também, como a questão econômica, quem detém o poder de ditar os preços, são as empresas europeias, que não fazem parte do processo desde a ranca, a colheita até o beneficiamento”, diz Opoku.

No dia seguinte, quarta-feira (24), a visita aconteceu no assentamento Adão Preto, no município de Itabela, onde foi apresentado o cacau cabruca.

Produzindo cacau cabruca

Atualmente o principal produto da CABRUCA é o cacau orgânico ou agroecológico, produzido no tradicional sistema agroflorestal chamado de “cabruca”. Cabruca é um sistema no qual o plantio do cacau é feito sob a sombra de árvores nativas da Mata Atlântica, em conjunto com a natureza.

Nas propriedades, além do cacau também são cultivados produtos como cupuaçu, açaí, pupunha, banana, flores tropicais e especiarias como pimenta-do-reino, guaraná, urucum e outros.

A produção de cacau sempre foi sinônimo de riqueza, e na Bahia quem detinha esse modo de produção eram os grandes fazendeiros, e a classe trabalhadora era explorada nesse tempo.

No fim na década de 80, surge a vassoura de bruxa, em maio de 1989, quando foi descoberto o primeiro foco da infecção em uma plantação de cacau no sul da Bahia. Em menos de três anos, a praga destruiu as lavouras. A partir desse acontecimento e com a expansão do MST no estado através das lutas por democratização das terras, foram conquistadas várias terras que tinham a lavoura do cacau, que se encontravam doentes.

Após todo esse tempo, as famílias conseguem conviver com a vassoura de bruxa, controlando essa infecção através do manejo.

Intercâmbio da Bahia para o mundo

Foto: Daniel Violal, do coletivo de comunicação do MST-BA

Com articulações com empresas, associações e movimentos, a AICP tem dialogado com o governo chinês. A China tem mais de oito mil empresas que produzem tecnologias para agricultura familiar. “Dentro da agricultura familiar existem diversas tecnologias que contribuem para o avanço da produção, mas não tinham empresas que construíssem maquinários a partir dessas tecnologias, a AICP visa a construção desses equipamentos a partir das vivências desses camponeses”. Explica Zarref

A sede da AICP em Pequim tem construído esse diálogo para proporcionar intercâmbios para troca de experiência. Opoku é um dos coordenadores da sede da associação em Gana, que já iniciou esse intercâmbio, vindo para ver de perto a experiência dos agricultores no Sul da Bahia.

*Editado por Fernanda Alcântara