Eleições 2022

Reconstruir o país “está em nossas mãos”, diz Lula em comício histórico, em Curitiba/PR

Mais de 50 mil pessoas coloriram e animaram quase toda a extensão do famoso calçadão da Rua XV de Novembro, na Boca Maldita
Lula volta à Curitiba onde foi preso político por mais de 500 na Polícia Federal. Foto: Ricardo Stuckert

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST

Um “mar vermelho” tomou conta da Boca Maldita e das ruas no entorno, durante o comício histórico com a presença do candidato à Presidência Lula, na manhã deste sábado (17), em Curitiba. Mais de 50 mil pessoas coloriram e animaram quase toda a extensão do famoso calçadão da Rua XV de Novembro. 

Este foi o primeiro ato público de Lula no centro da capital paranaense, após ter ficado preso injustamente por 580 dias na Superintendência da Polícia Federal, entre abril de 2018 a novembro de 2019. “Eu queria dizer pra vocês a alegria de estar aqui. Tem muita gente que acha que eu tenho ódio de Curitiba porque fiquei mais de 500 dias preso em Curitiba. Mas foi na cadeia que aprendi a amar Curitiba. Tenho carinho e respeito por Curitiba”, disse, contando sobre o apoio que recebeu de pessoas da cidade, que ajudaram a manter a Vigília Lula Livre ao longo de mais de um ano e sete meses.

Da esquerda para a direita: Deputado Federal Zeca Dirceu; Presidenta nacional do PT Gleisi Hoffmann; candidato ao Senado Rosane Ferreira; presidente Lula; candidato ao governo do Paraná Roberto Requião e seu vice, Jorge Samek. Foto: Ricardo Stuckert
Foto: Gibran Mendes

Ouvido por uma multidão atenta, Lula enfatizou a urgência da retomada de uma gestão que devolva a todos os brasileiros e brasileiras o direito à alimentação e à vida digna, e às políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento econômico e humano. 

“Esse país a gente pode construir. Ele está nas nossas mãos. Eu estou assumindo um compromisso de vida com vocês. Eu não precisava disso. Eu tenho 76 anos de idade. Eu quando deixei a presidência tinha 87% de bom e ótimo. Eu não precisaria voltar, mas eu quero voltar, primeiro porque eu confio em vocês, segundo porque eu confio no Brasil”. 

O simbolismo do ato ficou ainda mais forte por se tratar do mesmo local em que, no dia 12 de janeiro de 1984, cerca de 40 mil pessoas se reuniram em um comício pelas Diretas Já, para pedir as eleições diretas e o fim da ditadura militar.  

“Este comício tem o mesmo simbolismo do que foram as Diretas Já, nos anos 80. Hoje, toda a Boca Maldita e o entorno foram tomados por milhares e milhares de militantes que vieram nesse comício histórico que sinaliza um desejo enorme por mudanças”, disse Roberto Baggio, da coordenação nacional do MST, que representou o movimento durante o ato. Para o dirigente do MST, a força da mobilização deste sábado mostra a retomada da luta popular para derrotar o projeto ultraconservador em curso no Brasil.

(Da esquerda para direita) o candidato ao governo do Paraná Roberto Requião e Lula. Foto: Wellington Lenon/MST-PR 

O dirigente convoca para a intensificação da campanha nesta reta final: “Assim como há 40 anos atrás derrotamos a ditadura, agora as eleições deste ano buscam derrotar o nazifascimo, esse governo de extrema direta, e aqui está a arrancada final para nos próximos 16 dias elegermos Lula no primeiro turno, Requião governador, Rosane senadora, e uma grande bancada estadual e federal”, garante Baggio. 

Ex-presidenta Dilma Rousseff enfatizou sobre a necessidade de eleger Lula no primeiro turno. Foto: Wellington Lenon/MST-PR

A presidenta Dilma Rousseff também participou do ato e enfatizou a urgência da vitória de Lula ainda no primeiro turno: “Nós temos uma missão: temos que fazer um esforço enorme agora, não pode ser depois. A partir do fim desse ato precisamos conquistar voto a voto. Eu acredito sempre que quando existe vontade tem um caminho e nosso caminho é claro, vamos nos mobilizar, ir pra rua e conquistar voto a voto”.

No palco também estavam presentes a presidenta nacional do PT Gleisi Hoffmann, o candidato ao governo do estado Roberto Requião e o vice, Jorge Samek; e a candidata ao senado Rosane Ferreira, além de representantes dos partidos da Federação, candidatos a deputados federais e estaduais. 

“A primavera está chegando”

A emoção estava estampada nos rostos de paranaenses vindos de todas as regiões do estado. Entre os que vieram em caravanas estavam camponesas e camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), moradores de comunidades da capital, integrantes da articulação Despejo Zero, do Coletivo Marmitas da Terra e trabalhadores de fábricas da região metropolitana de Curitiba, e Comitês Populares como Loukas por Lula, de Cultura, Verde e de Juventude. Além da imensa diversidade de setores da população que querem o Brasil feliz de novo, com democracia e dignidade para todo o povo. 

Em meio ao público, a bateria da Unidos da Lona Preta, composta por jovens do MST, e a participação do Levante Popular da Juventude e de outros militantes urbanos, garantiu a animação ao longo do ato. Fotos: Lizely Borges
Grupo de bateria da Unidos da Lona Preta, composta por jovens do MST. Foto: Comunicação MST-PR

“Nos 580 dias da sua prisão, nós estávamos juntos, com muita angústia, muita saudade e indignação. Hoje nós voltamos com a vitória preparada, garantida. Como ele mesmo disse, um dia prenderam uma rosa, o povo libertou a rosa, e agora a primavera está chegando”, disse emocionado o camponês integrante do MST, Pedro Antônio Cardoso Carvalho, morador do assentamento Dorcelina Folador, do município de Arapongas, norte do Paraná.

O agricultor é apoiador de Lula desde 1984, e ao longo de todas as campanhas em que o líder participou: “Acompanhei o grande governo que ele [Lula] fez. Fui beneficiado, minha família, meus vizinhos, todos nós trabalhadores brasileiros”. 

Edna dos Santos, mora no acampamento Maila Sabrina, em Ortigueira e faz parte dos milhares de militantes do MST que se revezaram para manter a resistência ao lado do local onde Lula ficou preso: 

“Participei várias vezes da Vigília Lula Livre, estivemos dando uma força para nosso presidente Lula. Hoje foi um dia muito emocionante, porque a gente viu que tem muita gente do nosso lado, isso é reconfortante e a gente tem certeza que estamos no caminho certo, no rumo certo, e que vamos reeleger nosso presidente. A gente fica até sem palavras porque queremos ver ele de novo na presidência cuidando do povo”, disse a agricultora. “Ele voltando, consegue organizar e reerguer nosso Brasil”, garante. 

“Lula é o povo” 

Entre as figuras conhecidas da Vigília Lula Livre estava Izabel Aparecida Fernandes, metalúrgica aposentada e moradora do bairro Sítio Cercado, em Curitiba. Ela participava diariamente da resistência montada ao lado da Polícia Federal, muitas vezes acompanhada das irmãs Angela e Lucia, que atualmente integram o Comitê Popular da Praça Tiradentes. 

“Para mim é um dia histórico porque em 2018 Lula já liderava as pesquisas, e aí prenderam ele e ficou 580 dias presos e nós reunidos na vigília acompanhamos toda sua dor. Lula conseguiu que anulassem toda sua injustiça. Lula é livre e hoje é com muita alegria que estamos aqui para homenageá-lo, que hoje é candidato, e está liderando as pesquisas, quero que ele seja eleito no primeiro turno. Lula é o povo”, garante. 

Foto: Lizely Borges

Cerca de 30 ônibus de comunidades de Curitiba e região trouxeram moradores de ocupações urbanas que estão em luta para garantir o direito básico à moradia. 

“A nossa luta é todo dia. É ocupar. Aqui em Curitiba, o sistema de habitação não funciona, então a gente acaba tendo que ir atrás e lutar com nossas próprias mãos. Era um terreno que não tinha nenhuma função social, estava abandonado, cheio de lixo, e hoje é um imóvel que acolheu, estamos com 53 famílias lá, muitas crianças”, disse Daniel Igor, morador da comunidade 29 de janeiro, no bairro Uberaba. 

*Editado por Solange Engelmann