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Admiração, respeito e nota 10: relembre discursos de Bolsonaro sobre Lula na Câmara

"Você era o meu maior puxa-saco na época do Congresso", disse o petista durante debate; relembre falas de Bolsonaro
“Lula merece nota dez pelo sincero e confiante discurso que fez”, disse Bolsonaro, em 2002, sobre fala de Lula em comissão da Câmara. Foto: Reprodução/YouTube

Por Paulo Motoryn
Do Brasil de Fato/Brasília (DF)

“Você era o meu maior puxa-saco na época do Congresso. Porque você sabe que eu ajudei o Exército, que não tinha nem coturno. Não tinha nem avião.” A declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante o debate contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), exibido na TV Bandeirantes, na noite do último domingo (16), não foi à toa. Há 20 anos, em 2002, quando Lula estava prestes a se eleger presidente da República pela primeira vez, o então deputado Bolsonaro fez uma série de discursos elogiosos ao petista na Câmara dos Deputados.

Brasil de Fato localizou 12 discursos de Bolsonaro que citam diretamente Lula entre janeiro e dezembro de 2002, Na eleição presidencial daquele ano, Bolsonaro votou e, segundo suas próprias palavras, “trabalhou” para eleger Ciro Gomes (então no PPS, hoje no PDT). Mas, ainda no primeiro turno, o ex-capitão defendeu Lula em diferentes ocasiões e disse que, em caso de segundo turno contra o candidato governista José Serra (PSDB), escolheria o petista. “Lula merece nota dez” e “respeito e admiração” foram alguns dos termos elogiosos utilizados por Bolsonaro para enaltecer o líder petista.

No 1º turno, Bolsonaro votou em Ciro Gomes, mas defendeu Lula

De acordo com o levantamento, o primeiro discurso de Jair Bolsonaro citando Lula na Câmara dos Deputados ocorreu em 17 de abril de 2002, antes mesmo do início da campanha eleitoral daquele ano. No discurso, o então deputado fez duras críticas à política do governo Fernando Henrique Cardoso para as Forças Armadas e descartou apoiar o candidato a sucessão pelo governo, José Serra. Bolsonaro pediu que as propostas dos presidenciáveis contemplassem os militares, citando nominalmente Lula, Ciro Gomes e Anthony Garotinho.

“Sr. Presidente, confesso que gostaria de ver, na plataforma de governo dos candidatos à Presidência da República, Lula, Ciro Gomes – não falarei do Serra, pois ele está descartado -, Garotinho, propostas para as Forças Armadas, dentre elas a escolha de um ministro da Defesa honesto e competente, e não um homem que, durante 38 anos, advogou para banqueiros, roubou o povo para seus patrões, e, agora, rouba os militares para Fernando Henrique Cardoso.”, afirmou Bolsonaro. 

A segunda vez em que o ex-militar expulso das Forças Armadas cita o petista foi pouco menos de um mês depois, em 9 de maio de 2002, quando ele diz, pela primeira vez, que votaria em Lula em caso de segundo turno na eleição presidencial daquele ano. Bolsonaro afirma que, apesar de integrar uma sigla da base do governo FHC, era contra a maior parte das propostas do governo e considerava Serra desonesto. 

“Sr. Presidente, como bem sabe V. Exa., embora eu pertença a partido da base de apoio do Governo, o PPB, raramente voto favoravelmente às propostas governamentais e jamais apoiaria o candidato oficial. Digo mais: num segundo turno disputado entre José Serra e Lula, não voto em José Serra. Prefiro uma pessoa honesta, ainda que sem muita cultura, como dizem ser o caso de Lula, a uma pessoa muito culta, porém mal-intencionada”, disse o então deputado.

No mesmo discurso, reforçou o apoio a Ciro Gomes no primeiro turno do pleito: “Esteve ontem na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional um dos presidenciáveis, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes. A meu ver, aquela foi uma audiência pública muito positiva, pois Ciro Gomes foi o primeiro dos candidatos à Presidência a falar sobre as Forças Armadas, assunto que parece ser tabu para os demais, a não ser para Enéas, que – pobre coitado – não tem a mínima chance de aparecer na mídia”.

“Lula merece nota dez”, diz Bolsonaro

No dia 22 de maio, Bolsonaro volta a declarar voto em Lula. Ao final de um discurso sobre a previdência dos militares, disse: “Alerto o pessoal do PT: entre Serra e Lula, no segundo turno, não tenho dúvidas em quem votarei”. No mês seguinte, em 20 de junho, Bolsonaro vai além e tece uma série de elogios a um discurso que Lula fez na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Internacional da Câmara naquela semana, em que o petista demonstrou insatisfação com o perfil do então ministro da Defesa de FHC, Geraldo Quintão.

“Lula merece nota dez pelo sincero e confiante discurso que fez ontem. Disse apenas o que está acontecendo e que é muito fácil resolver os problemas das Forças Armadas. Basta multiplicar por um o que o atual Governo está fazendo. Mostrou-se indignado também o candidato a presidente Lula quando disse que a única classe no Brasil que ganha remuneração bruta abaixo do mínimo são os nossos soldados, os recrutas – soldado raso, como alguns conhecem -, que ganham R$ 153 por mês. O Lula ficou indignado com isso. Quem não fica? Só advogado de banqueiro. Sr. Presidente, o recruta é o filho da lavadeira, do desempregado, do pai não declarado, do miserável”, afirmou.

Com o início da campanha eleitoral, Bolsonaro passou a pedir votos para Ciro Gomes ao Palácio do Planalto, mas sempre ressaltando que votaria em Lula no segundo turno. Em 28 de agosto de 2002, citou duas vezes o ex-governador em discurso na Câmara. Em um deles, afirmou: “O Governo Fernando Henrique Cardoso, ao longo de oito anos, não fez outra coisa senão entregar a soberania nacional. Por isso, estamos empenhados, de corpo e alma, na eleição do ex-governador Ciro Gomes para a Presidência da República. Se ele não chegar ao segundo turno, apoiaremos Lula, porque temos certeza de que o candidato do governo, José Serra, dará continuidade àquela política”.

Bolsonaro acusou governo FHC de prejudicar Lula

Bolsonaro voltou a citar Lula logo após a vitória do petista, acusando o comandante do Exército nomeado por FHC de tentar beneficiar o tucano durante o processo eleitoral daquele ano. Em 30 de outubro, três dias depois do segundo turno que sagrou Lula vencedor, o ex-capitão disse que, ao impedir que militares envolvidos na segurança das eleições daquele ano fossem às urnas, o general Gleuber Vieira prejudicou, de uma só vez, o próprio Bolsonaro e Lula.

“Aproveito para registrar que, lamentavelmente, o Comandante do Exército, general Gleuber Vieira, por decisão própria, determinou que os 11 mil militares da ativa que participaram da segurança nas eleições não votassem. O general fez isso com o objetivo de me prejudicar e de, ao diminuir a votação em Lula, ajudar Serra a conquistar mais votos no segundo turno. Graças a Deus, para mim e para meu filho esses votos não se fizeram imprescindíveis”, afirmou.

Bolsonaro: “respeito e admiração por Lula”

Em 4 de dezembro, Bolsonaro voltou a elogiar Lula. “Na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, (…) em reunião realizada dia 19 de junho, Lula afirmou: “Acho que as Forças Armadas Brasileiras há alguns anos vêm sendo tratadas como instituição de segunda categoria”. E arrematou: “Nossas Forças Armadas precisam ser tratadas com mais respeito”. Modestamente, Jair Bolsonaro concorda com as palavras do Lula. Inclusive, não quero ser Oposição, mas também não quero ser Situação”, disse o então deputado.

Ele prosseguiu, voltando a fazer referência à escolha do futuro ministro da Defesa: “Apelo ao nosso Presidente Lula, a quem respeito e admiro por seu passado e sua conquista, para que escolha um dos membros do PT, do PCdoB ou um oficial-general de quatro estrelas para ocupar o Ministério da Defesa, a fim de que possamos ter esperança nesse Ministério da Defesa, o mais importante em qualquer país sério do mundo”.

*Edição: Rodrigo Durão Coelho