Violência

Famílias acampadas são ameaçadas por milícia rural e despejo, em Itabela (BA)

Desde a manhã desta terça-feira (04), 530 famílias Sem Terra estão cercadas pela polícia e fazendeiros, de uma milícia rural na região, no extremo sul do estado
Centenas de mulheres, idosos, crianças do acampamento Osmar Azevedo podem perder seus lares e lavouras. Foto: Daniel Violal

Por Coletivo de comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

Na manhã desta terça-feira (04/04), foi determinado o despejo de 530 famílias camponesas moradoras do acampamento Osmar Azevedo, localizado no município de Itabela, na região extremo sul da Bahia.

São centenas de mulheres, idosos, crianças que estão sob ameaça de perderem seus lares e lavouras de milho, aipim, feijão, quiabo, abóbora, maxixe, hortaliças, entre outras. A decisão que determinou o despejo imediato das famílias que vivem no local consta no ofício de n.º 037/SPO/2023 – PMBA/7º CIPM, assinado pela juíza Tereza Julia do Nascimento, da 1ª Vara Criminal de Itabela.

Durante toda a manhã, para realizar a reintegração de posse além da polícia, mais de 35 caminhonetes que pertencem a fazendeiros, que organizam uma milícia rural na região, cercaram a frente do acampamento.

Os milicianos estavam se deslocando para o acampamento a fim de adentrar a área para ameaçar e coagir as famílias, mas a polícia interceptou a ação criminosa e impediu qualquer reação dos milicianos. Insatisfeitos com a ação da polícia, os milicianos tentaram fechar um trecho da BR 101, o que não durou 15 minutos e a polícia desobstruiu a via.

O grupo da milícia rural ainda permanece nas margens da BR 101, obstruindo a estrada que dá acesso ao acampamento e ameaçando as famílias acampadas.

As 530 famílias seguem na área em resistência, mobilizadas e dispostas a defender a democratização da terra. Moradores e pequenos agricultores de Itabela declaram apoio às famílias acampadas do MST.

Para as famílias Sem Terra, a concentração de terra, a sonegação de impostos e a transformação da terra em mercadoria são os principais causadores das desigualdades e flagelos sociais que afetam as famílias trabalhadoras. E as famílias não se intimidam com as ameaças e coação causadas pela milícia rural da região.

Fotos: Daniel Violal

O combate à fome, desemprego e as violências só serão, de fato, eficientes quando o Estado brasileiro compreender que a Reforma Agrária é um dos principais instrumentos de combate às desigualdades sociais.

Sobre o acampamento Osmar Azevedo, em Itabela

As famílias de camponeses ocuparam a área no dia 03 de fevereiro deste ano, e desde então vêm organizando suas moradias e plantio de alimentos.

Para Eliane Oliveira, da direção nacional do MST, o estado brasileiro não pode ser omisso frente às desigualdades sociais. Despejar 530 famílias de seus lares, destruir suas lavouras e ocasionar inúmeros transtornos, e não se responsabilizar com o destino destas famílias, além de ser omisso chega a ser irresponsável.

“As famílias trabalhadoras acampadas são responsabilidades do estado. O cumprimento de determinações de despejos, de forma fria e burocrática, tá muito longe de ser uma política de reparação social e muito menos uma política de fortalecimento da agricultura familiar camponesa, responsável pela produção de mais de 80º dos alimentos que chegam na mesa das famílias brasileiras”, afirmou Eliane.

Os Sem Terra continuam chamando a atenção das autoridades e denunciam a condição de abandono do imóvel que possui terras devolutas, além de não cumprir a função social. E reivindicam ao Estado, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a desapropriação do latifúndio para fins de reforma agrária.

*Editado por Solange Engelmann