Marcha

Abram caminhos que nossa Marcha vai passar: Paraíba realiza marcha com visita ao INCRA

Confira crônica sobre a Jornada Nacional de Lutas de Abril realizada pelo MST na Paraíba
Foto: Leonardo Marinho

Por Carla Batista
Da Página do MST

Sob sol, chuva, cansaço e violência verbal de alguns poucos motoristas que passavam na BR 101, marchamos avermelhando o asfalto das rodovias por onde pisamos. Nosso “exército” foi formado por cerca de 700 homens, mulheres, jovens e crianças do campo. Um povo animado, bonito, cheio de força e esperança para lutar. E o passo era ligeiro. Firme. Ritmado. Parada apenas para refeição e breve dormida para então seguir viagem a pé. Alguns de calçados fechados, outros de
chinelo que nem aguentou o passo e ficou no meio do caminho. chinelo fica, mas a caminhada segue…

Saímos no dia 16 (domingo) do distrito de Mata Redonda, município de Alhandra, com destino a sede do INCRA ((Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), na capital do estado da Paraíba, dia 17.

Seguindo o calendário da Jornada Nacional de Lutas, essa foi uma de nossas ações durante o abril Vermelho que vem trazendo a memória dos mártires que morreram na luta pela terra. Em destaque para os 27 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás.

Colorimos 41 km entre asfalto, rodovias, avenidas e ruas. Era tanta disposição, tanta alegria, tanto gosto e riso frouxo de um povo que tem sofrido de tal maneira que chega a emocionar quem se permite enxergar. Assentados e acampados de todos os territórios ocupados e organizados pelo MST da Paraíba. Tanta mística que nem precisou de ensaio, porque é a arte quem emita a vida.

Estava estampado no rosto de nossa gente o orgulho de ser uma ou um Sem Terra. De saber que só por meio da luta se conquista a terra, que se faz reforma agrária popular. Era o cenário mudando, e o povo com o passo apressado, ainda que exaustos. Quem sofre tem pressa para o descanso. Afinal de contas, essa dor é antiga…Tão antiga quanto a chegada dos portugueses à América e a divisão do nosso território em capitanias hereditárias e sesmarias. Nossa república foi proclamada em 1889, mas a concentração fundiária só aumentou.

Fomos escravizados, explorados e até mesmo exterminados. Resistimos até hoje ao coronelismo e a classe dominante, nos organizando coletivamente – e lutando, lutando e lutando. Os golpes passam de 1964 e 2016. Foram e são muitos. Diariamente. A resistência do povo camponês enfrenta as mais diversas facetas da violência. A cada possibilidade de mudança para um governo com participação popular, nos enchemos de esperança por dias melhores, com justiça social. Assim estamos agora com a retomada e atual nomeação do INCRA aqui no estado.

Com essa possibilidade de construção de um diálogo horizontal com as trabalhadoras e trabalhadores do campo. O campesinato além da reforma agrária precisa de políticas emancipatórias. O retrato da realidade desigual e concentradora dessa República Democrática do
Brasil ilustra o tamanho da expropriação realizada pelo capitalismo ao longo de séculos. As consequências são devastadoras e estão nos campos da política, economia, social e ambiental na construção histórica do país.

É preciso entender, definitivamente, que as relações com a terra são fundamentais para o desenvolvimento de um país. Marchamos e marcharemos até quando for preciso e compreendido que quando se fala de terra se fala de gente, de controle dos bens naturais, de desenvolvimento econômico, social e cultural. De vida!!!! São mais de cinco séculos de história. De luta por um palmo de chão. Uma cabaça de água e um pedaço de vento.

INCRA Paraíba recebe Marcha Estadual do MST

Após dois dias de marcha, homens e mulheres dos acampamentos e assentamentos dos territórios ocupados e organizados no estado da Paraíba chegam ao INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e são recebidos pelo novo superintendente Antônio Barbosa e pelo Coordenador do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Cícero
Legal.

Em um momento simbólico, histórico, e de muita emoção, o Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores Rurais Sem Terra comemoram a retomada de diálogo com o órgão que tem como missão prioritária executar a reforma agrária. Há 4 anos que o MST e outros movimentos do campo, não podiam se quer entrar em uma sede do INCRA nos estados do país. Ontem, fomos recebidos de portas abertas e entregamos a Antônio Barbosa, um documento com nossas reivindicações.

“Esses dois dias de marcha traz duas dimensões pra nós; primeiro a dimensão política do nosso povo, animação por estar na luta e o retorno de órgãos fundamentais para a reforma agrária que é o INCRA e o MDA. Em segundo lugar, destaco a importância da retomada do diálogo entre INCRA e movimentos sociais, na perspectiva de resolver os problemas concretos do povo acampado e assentado. A partir dessa marcha, inauguramos esse novo período de construção junto a esses órgãos”, destaca Gilmar Felipe, da Direção Estadual do MST na PB.

Para as 3.280 famílias assentadas espalhadas em nossos 66 assentamentos, o Movimento cobra do governo políticas públicas para a produção nessas áreas, bem como crédito, compras públicas, cooperação, industrialização e comercialização para aumentar a produção de alimentos e combater a fome no país. Nossos acampamentos somam-se em 22 com 2.506 famílias aguardando regularização das terras.

Também está em nossa pauta reivindicar cadastro das famílias acampadas e, com a demanda, um cronograma para assentar as famílias. Dentre algumas pautas entregues no documento, o MST pede:

Cadastramento das famílias acampadas e vistoria dessas áreas com celeridade.
Nomeação de ouvidor agrário
Fim do programa Titula Brasil
Regularização das RB’s e CAF de todos os assentamentos
Retomar o CDRU (Concessão de Direito Real de Uso) como alternativa de título.
Proibir entrada de empresas privadas para instalação de parques de energias
eólicas e sola em nossos territórios.

Após 6 anos de abandono e hostilidade à luta pela terra por parte do governo de extrema-direita anterior, é preciso mobilizar as famílias no objetivo de resolver os problemas dos trabalhadores do campo.

“Para nós essa marcha foi uma grande conquista; Poder elaborar e retomar nossas pautas e ser recebidos por Antônio Barbosa e Cicero Legal, ter o compromisso político público desses dois representantes é emocionante. Nos deixa esperançosos, animados” completa Gilmar.

Ajudamos a eleger Lula e somos parte desse campo político que lutou contra o golpe, contra o bolsonarismo e contra todos esses desmontes das politicas públicas voltadas para o povo da cidade, das águas, das florestas e do campo. As trabalhadoras e trabalhadores do campo saíram do INCRA com uma agenda já construída para o próximo dia maio junto ao instituto.

Na ocasião, Antônio Barbosa deu boas vindas aos presentes e destacou o papel do MST dentro do processo de luta pela terra. “O MST, movimento social do campo mais importante do Brasil e talvez da América Latina, tem uma grande responsabilidade com a construção da reforma agrária. O MST não organiza trabalhadores, homens e mulheres, para ocupar terras que estão produzindo. Como diz o presidente disse Lula, há terras suficientes para o agronegócio produzir e exportar, assim é necessário que haja todas as condições favoráveis para implantação da reforma agrária, para que nela seja assentado (a) quem necessita da terra. Então, vocês que vem de uma longa caminhada sob o sol, e sob a chuva, sejam todos bem-vindos ao INCRA. Vocês são a razão de existência desse órgão.”, conclui superintendente.

Ainda dentro das atividades programadas durante a marcha, foi doado cerca de 2 mil quilos de alimentos para a comunidade Colinas do Sul, em João Pessoa. De passo largos e firmes seguimos a luta contra o latifúndio. Contra a opressão no campo. Contra a fome. Em defesa da democracia e da soberania alimentar e pela reforma agrária.

“Não queremos guerra, queremos terra!”

Confira algumas imagens:

Foto: Carla Batista
Foto: Carla Batista
Foto: Carla Batista
Foto: Carla Batista
Foto: Carla Batista
Foto: Carla Batista
Foto: Carla Batista
Foto: Leonardo Marinho
Foto: Leonardo Marinho
Foto: Leonardo Marinho

*Editado por Fernanda Alcântara