Reforma Agrária Popular

Debate sobre Reforma Agrária Popular passa por reflexão sobre relações humanas

Seminário sobre Reforma Agrária Popular e Relações Humanas traz o tema de gênero, feminismo, LGBTfobia, juventude, racismo, questões fundiárias, agroecologia e comida saudável
Não existe o debate sobre a Reforma Agrária Popular separado da reflexão sobre as relações humanas. Foto: Juliana Barbosa

Por Equipe de texto da 4ª Feira
Da Página do MST

A tarde do segundo dia da 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária começou com seminário no espaço Café Literário Carolina Maria de Jesus, no setor de literatura da Feira. O seminário “Reforma Agrária Popular e as Relações humanas”, organizado pelo Setor LGBTI+ do MST, trouxe para a mesa debates imporantes direto da perspectiva da Feira.

O momento contou com a companheira Lucineia Freitas, dIreção Nacional Setor de Gênero; Renata Menezes, direção Nacional Coletivo da Juventude; e Kelvin Nicolas, coletivo Nacional LGBTI+, para dialogar com o público da feira, militância, companheiros, companheiras e companheires do movimento, com temas que, nos 40 anos do MST, fazem parte da política do movimento, assim como a luta pela direito à terra. 

Lucineia começou ressaltando a importância da feira como processo de diálogo do campo com a cidade a partir da produção de alimentos.  “A feira é um momento de confraternização onde, de fato, a gente pode refletir coletivamente sobre o que a gente produz, como a gente produz e para quem. Mas é também um espaço de diálogo com a sociedade de forma geral, porque dialoga com a população paulistana e de vários locais do Brasil e, por isso, é tão importante para nós, neste espaço, construir um espaço para falar das relações humanas”, enfatiza. 

Kelvin Nicolas, coletivo Nacional LGBTI+, destacou que o tema do seminário acontece não de maneira isolada da Feira, mas exatamente porque ser um espaço de síntese do que é reforma agrária popular. “Não é possível produzir alimentação saudável com relações doentes, então é importante que nós localizemos esse debate em torno de toda a Feira”, ressalta.

Kelvin Nicolas, coletivo Nacional LGBTI+. Foto: Juliana Barbosa

Renata Menezes trouxe a reflexão sobre a juventude estereotipada pela mídia hegemônica, que cria padrões de beleza, de sucesso e exclui o jovem que está no campo quando este não segue os padrões impostos pelo agronegócio. Ela ressaltou que toda estrutura de poder que se coloca de forma assimétrica é produtora de violências. “Sou filha de assentados na região do Pontal do Paranapanema, e quando a gente pensa isso sob uma perspectiva de juventude, significa a realidade que a gente vem, mas também daquela que a gente precisa incorporar como parte da nossa luta cotidiana”. 

O seminário debateu o tema das relações humanas a partir da reflexão que perpassa os conceitos de romper com as estruturas do patriarcado, do racismo e do capitalismo, como uma tarefa que todos devem assumir com muita prioridade. “Isso é importante porque, dentro do modo capitalista que a gente vive, as relações humanas se constituem a partir de reprodução de processos de violência. A partir da naturalizae naturalizar, no nosso cotidiano, relações de violência, relações que nos agridem, que nos aprisionam, e que vai organizando esse modo de produção capitalista”, defende Lucineia. 

A partir da leitura de um poema, Kelvin trouxe a reflexão sobre esta sociedade que insiste no conceito binário do mundo e não aceita outras formas de vivências. Ele ressaltou que o coletivo LGBTI+, há quase 8 anos, se auto organiza dentro do Movimento a partir da necessidade fundamental da compreensão de que a Reforma Agrária Popular só tem sentido quando compreende os diversos sujeitos que a constroem na prática. “Seja na produção de alimentos, na produção de novas relações, mas também construção de uma sociedade mais justa e igualitária que nós todos, todas e todes queremos construir”. 

Durante sua fala ele relembrou alguns companheiros, companheiras e companheires que sofreram violência e vivenciaram de maneira brutal a LGBTI+fobia que acabou lhes roubando a vida. E ressaltou a importância de levar este debate para os espaços. “Nossos corpos e as violências como um todo não podem ser só um discurso”, afirmou.

*Editado por Fernanda Alcântara