Palestina Livre!

São 40 anos de lutas e solidariedade entre o MST e o povo da Palestina

Em nota de solidariedade, MST faz declaração pelos 75 anos da Nakba, a catástrofe palestina e os 75 anos de resistência
Brigada Ghassan-Kanafani, na Palestina. Foto: MST

Escreve
Que sou árabe,
Que roubaste as vinhas de meu avô
E a Terra que ele arava,
Eu, com todos meus filhos.
Que só nos deixaste
Estas rochas…
Não vai me tirá-las teu governo também,
Como se diz?

Escreve, pois…
Escreve
No começo da primeira página,
Que eu não incomodo ninguém,
Nem de ninguém roubo nada.
Mas, que se tenho fome,
Devorarei a carne de quem me roube.
Cuidado, pois!
Cuidado com minha fome,
E com minha ira!

(Mahmoud Darwish – poeta palestino)

O nascimento do MST foi semeado por toda resistência anti-colonialista e pelo direito de viver na terra. Neste 15 de maio, completa-se 75 anos da Nakba, a Catástrofe palestina. Neste dia, em 1948, milhares de famílias palestinas foram expulsas de suas casas, tiveram suas aldeias varridas por uma ocupação militar e mães, filhas e irmãs viram seus entes serem assassinados ou exilados. São 75 anos de crueldade, com a violência de um processo de expansão territorial, que tem causado traumas irreversíveis: hoje, se contam cerca de um milhão de palestinos e palestinas que já foram encarcerados por Israel, entre os/as quais crianças e mulheres, uma situação de domínio industrial-militar-cultural de um povo sobre outro. 

Ao mesmo passo, são 75 anos de resistência de um povo que não se deixa apagar e com o qual nós, Sem Terras do Brasil, nos colocamos erguidos lado a lado. Nossa solidariedade parte da dor comum e acolhe o processo de resistência de cada canto da Palestina Ocupada para dizer que resistiremos juntos!

Oriundo de um processo de colonização, a Nakba continua a violar seres humanos na Cisjordânia e em Gaza: ao mesmo tempo em que uma vida comum em igualdade é clamada por todos ali, a ocupação militar-colonialista de Israel não permite o desenvolvimento de uma nação e impede a criação de um Estado que contemple a Palestina. Estradas são bloqueadas, Check-points ditam as regras de ir e vir, a violência cotidiana assassina meninos que ousam resistir e um crescente temor por um regime ainda mais autoritário ainda assombra as mulheres e os homens palestinos. 

Refugiados palestinos em 1948. Imagem: Divulgação

Apesar do silêncio orquestrado da imprensa ocidental, se vive bombardeios quase semanais em prédios residenciais em Gaza, famílias são aniquiladas e, até durante o Ramadã, a violência militar adentra e agride fiéis dentro dos portões da mais sagrada mesquita de Jerusalém (Al Aqsa). São cenas que aterrorizam o mundo, porém sem uma ação efetiva em resposta pela comunidade internacional. Até quando assistiremos calados?

Os avanços dos assentamentos ilegais de colonos israelenses sobre o território palestino agridem diretamente resoluções da Organização das Nações Unidas (como a mais recente Resolução 2334, aprovada em 2016). Neste tempo, vemos a cidade símbolo de Jerusalém ser assaltada por Israel, na tentativa de varrer a comunidade de Sheikh Jarrah, com apoio de empresas como Hyundai, HP, Chevron e outras multinacionais. Massacres, demolições e uma escalada de violência que mira uma juventude capaz de erguer sua “Intifada”. São prisões e mortes diariamente contra as quais não podemos silenciar!

Neste contexto, é na Terra, cultivando oliveiras centenárias ou mesmo milenares que as mulheres palestinas e homens palestinos armam sua resistência. Cada centímetro preservado dos campos de azeitonas, cada novo projeto de irrigação para fazer aflorar as olivas de resistência impedem o avanço de um exército colonial. Por isso, o MST está ao lado do povo palestino!

Desde 2002, o MST está presente também fisicamente nesta batalha e, com o sentimento aflorado de solidariedade internacional, enviamos por diversas vezes militantes na Brigada Ghassan Kanafani para a Campanha Internacional de Colheitas de Azeitonas, fortalecendo a aliança camponesa com a União dos Comitês de Trabalhadores na Agricultura (UAWC/Via Campesina). 

Fazemos um chamado global, particularmente na América Latina e Brasil, para fortalecermos as estratégias de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra o Apartheid israelense, consolidando táticas e estratégias que deem a humanidade uma resposta possível: uma Palestina Livre!

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST