Política

Família dona do avião com maconha tem história de grilagem e assassinato de Sem Terra

Marcos Bengtson, administrador de serviços na Igreja do Evangelho Quadrangular, responde em liberdade a processo por morte de camponês
Paulo e Josué Bengtson na posse de Damares Alves no ministério. Foto: Reprodução

Por Nanci Pittelkow
De Olho nos Ruralistas

A Polícia Federal apreendeu no sábado (27) um avião carregado com 290 quilos de skunk, um tipo de maconha concentrada, no Aeroporto Internacional de Belém. Um homem foi preso em flagrante e teve o celular apreendido. A droga ocupava todo o espaço da aeronave, fora os assentos para um passageiro e o piloto. O avião, que estava em um hangar de voos particulares, pertence à Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), que fundada e liderada por um tio da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), Josué Bengtson.

Marcos Bengtson continua em liberdade. Foto: Facebook

Josué e os filhos, Paulo e Marcos, acumulam um histórico de corrupção e violência no campo. Marcos Bengtson foi preso em 2010, acusado de ser o mandante do assassinato do sem-terra José Valmeristo Soares, o Caribé, em Santa Luzia (PA). Antes de matar Caribé, os criminosos o torturaram. O camponês João Batista Galdino também foi torturado, mas conseguiu escapar com vida. Em 2019, este observatório relembrou o crime, que permanece impune.

Na época do assassinato, Marcos era administrador da Fazenda Cambará, atualmente Acampamento Quintino Lira, terra pública possivelmente grilada pela família Bengtson. A área já está georreferenciada para criação do assentamento. Em 2014, após ação de reintegração de posse pedida pela família e negada pela Justiça, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) realizou vistoria e demarcou a área. Dias depois, a demarcação foi destruída a mando do fazendeiro.

As agressões aos sem-terra continuaram. Em outubro de 2015, dois jovens foram vítimas de uma emboscada. Um deles levou um tiro de raspão e o outro foi ferido com coronhadas no rosto. Em abril de 2022, os acampados denunciaram o descumprimento a um acordo feito por meio da Vara Agrária de Castanhal para que houvesse o respeito em relação a área desafetada. Segundo os acampados, o conflito permaneceu e o fazendeiro entrava na área com gado e máquinas destruindo as roças.

Ex-deputado foi condenado por enriquecimento ilícito

Josué Bengtson. Foto: Facebook

Eleito deputado federal pela primeira vez em 1999 pelo PTB, partido de Roberto Jefferson, Josué Bengtson foi condenado em 2018 pela Justiça Federal à perda do mandato por enriquecimento ilícito. Ele fez parte de um esquema de desvio de recursos da saúde no Pará, conhecido como ‘máfia das ambulâncias’. Seus direitos políticos foram suspensos por oito anos.

Segundo denúncias do Ministério Público Federal (MPF), o pastor direcionava verbas a municípios, onde licitações eram fraudadas e o dinheiro era depositado na conta dele e da igreja que comanda.

Com o pai inelegível, o pastor Paulo Bengtson se candidatou em 2018 e foi eleito deputado federal. Durante o mandato, foi secretário da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), grupo que reúne, no Congresso, deputados e senadores da bancada ruralista. Ele não conseguiu se reeleger em 2022 e agora é secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia do Pará.

Josué Bengtson é padrinho político de Damares Alves

Josué, Damares e Paulo em culto. Foto: Facebook

Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Damares se mudou para Brasília em 1999 para trabalhar no gabinete de do tio, então deputado federal pela Bahia. O pai da senadora e ela mesma foram pastores da mesma igreja fundada por Josué.

A ex-ministra foi retratada na série de reportagens deste observatório sobre a as ações do governo anterior que contribuíram com a morte de 700 mil brasileiros na pandemia de Covid-19: “Esplanada da Morte (III): deboche de Damares esconde ataques a povos vulneráveis“. Em notícia exclusiva, o De Olho contou, em 2019, que uma ONG ligada à senadora levou malária a indígenas isolados.

A senadora Damares Alves confirmou que o avião apreendido com drogas pertence à igreja ligada a seu tio. De acordo com a assessoria da IEQ, o avião monomotor é utilizado há três anos para o transporte de pastores e para remover pessoas doentes, quando necessário. Segundo a igreja, um prestador de serviços terceirizados que faz a limpeza do avião procurou o piloto para fazer um voo em que seriam, supostamente, transportadas peças de tratores.

A Polícia Federal informou que realizou a ação “a partir de informações de inteligência”. A jornalista Andreia Sadi informou em sua conta de Twitter que a PF já monitorava o avião apreendido.