Jornada de Vivências

Vivências práticas e formativas em agroecossistemas do MST em Minas Gerais

Aberta ao público, Jornada de Vivências contou com a participação de famílias acampadas e assentadas de toda a região metropolitana de Belo Horizonte

Foto: Rafael Ferreira

Por Flora Villela, Comunicação MST/MG

Da Página do MST

No último final de semana, nos dias 2 e 3 de junho, aconteceu no acampamento Maria da Conceição, em Itatiaiuçu, Regional Metropolitana de Belo Horizonte – MG a “Vivência Agroecológica em áreas do MST: experiências práticas e formativas em agroecossistemas” e o “Seminário de sensibilização: Plano Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis”. O evento contou com a participação de acampados e assentados de toda a região metropolitana de Belo Horizonte, e parceiros da agricultura familiar, a atividade foi aberta ao público geral e fez parte da Jornada Nacional de Vivências no MST.

Integrado às atividades do intercâmbio regional do programa popular de recuperação da bacia do rio Paraopeba, os eventos mobilizaram representações dos cinco territórios e parceiros no movimento #TôComMST para vivências práticas e formativas com foco em Sistemas Agroecológicos Agroflorestais, com ênfase aos processos formativos culturais e produtivos dos acampados do Maria da Conceição.

O Seminário de sensibilização ambiental foi voltado ao tema “plantio de água, preservação de nascentes e bacias hidrográficas”, aos processos práticos de preservação ambiental e à discussão do “Plano Nacional Plantar Árvores, produzir alimentos saudáveis”, que vem sendo implantado pelo movimento desde 2020.

Em um momento de ataque aberto da direita brasileira ao MST, por meio da CPI ilegítima em andamento no Congresso, impulsionada pelo agronegócio que busca criminalizar a luta pela terra, o Movimento mantém-se aberto a todos aqueles interessados em conhecê-lo verdadeiramente. Com o fim de que a população conheça a luta, construção política, produção de riqueza alimentar e cultural nos territórios ocupados pelo MST, por meio de  vivências em todo o país nas áreas da Reforma Agrária Popular, abrindo pontes e diálogos com a sociedade.

Foto: Rafael Ferreira

Neste sentido, na fala de abertura Elias Rodrigues – do setor de produção e morador do acampamento Maria da Conceição – ressaltou o objetivo da jornada de vivência. “Para que a sociedade conheça mais e melhor, para além do que a mídia mostra, que não é a realidade. A realidade é o que vocês parceiros estão vendo aqui hoje.”

Em contraposição ao projeto hegemônico de destruição da terra instaurado pelo agronegócio e pela mineração, Viktor Marques, do projeto de Assistência Técnica aos atingidos do Paraopeba, incluso no programa popular agroecológico de reparação da bacia, ressalta: “O MST se coloca como esse agente que luta pela reforma agrária e pelo resgate da vida desses territórios destruídos por esse agronegócio e aqui na região muitos destruídos pela mineração também” – assinalou.

Durante o seminário de sensibilização ambiental na manhã de sábado (03), Maíra Santiago da direção estadual do setor de produção salientou que o contexto real que o Brasil vive hoje está diretamente ligado ao modo de produção capitalista, que se expressa no campo no modelo do agronegócio.

Esse modo de produção se volta unicamente para o lucro do agronegócio, não importando o custo humano ou ambiental. O modelo serve unicamente a produção de mercadorias em forma de commodities e amplia a fronteira agrícola indiscriminadamente. O MST entende que esse avanço do agronegócio nos territórios é um avanço de destruição em nossos biomas, que são uma riqueza coletiva do povo brasileiro.

Foto: Rafael Ferreira

Visando um enfrentamento direto e a construção de outra relação entre produção e preservação, o MST propôs em 2020 o “Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis” com os objetivos de ampliar a produção de alimentos e o plantio de 100 milhões de árvores em 10 anos (de 2020 a 2030), nos territórios da reforma agrária popular e fora deles.


“A gente olha para esse contexto e percebe que ele não nos representa, por que o povo está passando fome, sem moradia enquanto essas terras, muitas das vezes estão cumprindo com uma improdutividade no intuito de fazer gerar uma especulação das terras” destaca Maíra.

Em seus 3 anos de existência o plano nacional do MST segue gerando um processo contínuo de conscientização das famílias para com a sensibilização ambiental, o plantio de mais de 10 milhões de árvores, mais de 300 viveiros de mudas, além de ações de cercamento de nascentes, preservação de APPs (áreas de preservação permanente) e troca de sementes, tendo como importante  ferramenta para ampliação da produção os sistemas agroflorestais, conciliando a produção de alimentos com a produção de árvores.

Foto: Rafael Ferreira

“Queremos contrapor o cenário dado hoje, inserido na questão central da reforma agrária popular o nosso plano nacional plantar árvores, produzir alimentos saudáveis, que foi um acúmulo do movimento ao longo dos seus quase 40 anos de história, visualizando que precisamos criar uma forma de resistir e apresentar uma outra forma de existir” – complementa a dirigente.

Um pouco da história do Acampamento Maria da Conceição

No dia 08 de março de 2017, mais de 150 mulheres Sem Terra mobilizadas na região metropolitana de Belo Horizonte, ocuparam uma área do corrupto Eike Batista e construíram o acampamento Maria da Conceição. O nome foi escolhido em homenagem à companheira do assentamento Ho Chi Minh, no Município de Nova União/MG, que contribuiu em todo o processo de mobilização, trabalho de base e organicidade para luta camponesa, mas que, infelizmente, faleceu alguns dias antes da ocupação.

Hoje, mais de 6 anos depois, o acampamento segue na luta pela terra, produzindo alimento saudável e abrigando processos coletivos de formação técnica e política, bem como uma forte organização das mulheres Sem Terra.

Foto: Rafael Ferreira

*Editado por Lays Furtado