Reforma Agrária Popular

No Dia do Meio Ambiente, MST no PR reafirma compromisso em restaurar a Mata Atlântica

Reforma Agrária Popular atua na preservação da Mata Atlântica e representa uma nova realidade de produção de alimentos saudáveis
Camponeses do MST colhem frutos da Palmeira Juçara, na comunidade Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, região centro-sul do Paraná. Foto: Josué Evaristo Gomes

Da Página do MST

A defesa dos biomas brasileiros é uma das lutas do MST. Lançado em 2020, o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis tem como meta plantar 100 milhões de árvores em dez anos nas escolas do campo, cooperativas e diversos espaços do Movimento, além das cidades, denunciando o modelo do agronegócio. Até o momento, o número já passa de 10 milhões por todo o Brasil.

Neste compromisso com a natureza, o MST Paraná comemora o 05 de junho, Dia Internacional do Meio Ambiente, com a 1ª Festa da Semeadura da Palmeira-Juçara, na comunidade Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, região centro-sul do estado. Serão semeadas 4 toneladas de sementes (ao menos quase três milhões de caroços) da espécie – grande parte será pelo ar, de helicóptero, mas também pelas mãos de camponesas e camponeses que libertaram a terra.

Sementes da Palmeira Juçara. Foto: Tarcísio Leopoldo

A juçara, como é conhecida no Paraná, é uma palmeira comum na Mata Atlântica. Seu nome tem origem tupi e significa “o que dá farpas ou lascas”. Pode atingir até 15 metros de altura e a germinação da semente leva de três a seis meses. Ela tem importância ambiental  e histórica para humanos na relação com povos indígenas como os Guarani Nhandeva, Quilombos e Comunidades Caiçaras.

Porém, a extração predatória, com objetivo de criar lavoura e pastagem, diminuiu drasticamente o bioma inclusive com o risco de extinção. Atualmente, restam cerca de 12,4% de área conservada da Mata Atlântica. Em contraste com a exploração do capitalismo, diversos povos e comunidades têm lutado coletivamente para recuperar a Mata Atlântica e uma maneira são os sistemas agroflorestais

João Flávio Borba, da direção nacional do MST e coordenador do Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis no Paraná, explica como o MST age para preservar o bioma. 

“São tempos de cenário de catástrofe ambiental e social, com liberação sem freio de toda a classe de venenos na agropecuária, além do absurdo da realização de trabalho escravo como parte do negócios do agro, crimes estes gerados pela ambição do capitalismo no campo. Assim, famílias camponesas do MST querem dar prova de que é possível produzir alimento saudável, diversificado, em quantidade, acessível a todos e todas e preservando a natureza e só se realizará por completo com uma reforma agrária popular profunda e ampla em todo o país”, afirma.

Plantio de árvores durante a pandemia em áreas do MST no Paraná. Fotos: Comunicação MST-PR

Comemoração popular vai semear 4 toneladas de Juçara

A 1ª Festa da Semeadura da Palmeira Juçara  será realizada em uma área de 67 hectares de reserva legal do assentamento onde se encontra a comunidade Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu. Tarcísio Leopoldo, da direção estadual do MST, conta que o espaço a ser semeado foi escolhido em um trabalho conjunto de mapeamento da região com a universidade.

“É uma área que faz parte do Bioma Mata Atlântica e está neste processo de reserva legal há algumas décadas. Antes da comunidade, essa área era utilizada por uma empresa de monocultivo de pinus e eucalipto por muito tempo e já tinha sido degradada. Depois pelo processo de represagem da água, mudou a geografia e o ecossistema local”, explica.

Unidade produtiva da Palmeira Juçara, na comunidade. A família de Josué Evaristo Gomes trabalha coletando os frutos e transportando até a unidade de produção onde passam por um processo de seleção e retirada das impurezas. Foto: Jaine Amorin
Seleção e retiradas do fruto da Palmeira. Foto: Tarcísio Leopoldo

Juçara no litoral paranaense 

O Pico Paraná, localizado em Antonina (litoral paranaense), é o ponto mais alto do Sul do Brasil. A praticamente 1.900 metros acima do nível do mar, visitantes têm uma linda vista da Mata Atlântica preservada historicamente por diversos povos e comunidades caiçaras e camponesas. Aos pés da montanha, corre o Rio Pequeno que passa por lindas paisagens e leva ao Assentamento José Lutzenberger, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, onde vivem 20 famílias que lutam há duas décadas para retomar a Mata Atlântica. Dentre as espécies recuperadas, estão o araçá, a grumixama, os ipês, o guapuruvu e a palmeira-juçara.

A degradação ambiental fez com que essas plantas e árvores estejam ameaçadas de extinção, assim potencializando o reflorestamento como uma atividade essencial. Onde antes era uma área de criação de búfalos e desmatamento, agora é território livre de exploração com agroflorestas, vida digna para trabalhadoras(es), produção de alimentos saudáveis e Reforma Agrária Popular.

A importância cultural e alimentícia da palmeira-juçara foi comemorada, na sexta-feira e sábado (19 e 20 de maio), com a 4ª Festa da Juçara no campus de Matinhos da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O evento é organizado por uma parceria entre agroecologistas, o Centro de Convivências Agroecológicas de Matinhos (CCA) e a UFPR-Litoral. Participaram analistas ambientais, escolas de educação infantil, produtores locais e apoiadores. 

Os dois dias de confraternização representaram muita troca de conhecimentos e experiências, relata Dayanne Gomes, integrante e co-criadora do Instituto Juçara, grupo que organiza a Festa da Juçara no Litoral do Paraná.

“Tivemos feira livre, especial e incrível, atividades com crianças, apresentação cultural do Fandanguará – grupo de cultura popular formado por jovens fandangueiros que trabalham na preservação, difusão e repasse do fandango caiçara – muita troca e plantio de Juçara, além da degustação gratuita, e oficinas de colheita e espolpa da Juçara na agroindústria da UFPR”, afirma.

Para que as pessoas continuem preservando a espécie nas mais diversas áreas, 600 mudas de Juçara foram partilhadas, com cadastro das pessoas que receberam.

Reforma Agrária Popular representa terra, moradia e produção de alimento para famílias camponesas. Na imagem, de dezembro de 2022, festa na comunidade José Lutzenberger pela conquista do assentamento. Foto: Juliana Barbosa

*Editado por Fernanda Alcântara