Agronegócio

Dossiê Aponta: Desmonte foi financiado por empresas aliadas ao agro

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), compõe o lobby mais poderoso do Congresso e controla metade da Câmara e do Senado
Foto: Brenda Balieiro
Foto: Brenda Balieiro

Do Mídia ninja

Em dossiê, lançado pelo observatório De olho nos Ruralistas e chamado “Os Financiadores da Boiada: como as multinacionais do agronegócio sustentam a bancada ruralista e patrocinam o desmonte socioambiental”, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), também conhecida como Bancada do Agro, compõe o lobby mais poderoso do Congresso e controla metade da Câmara e do Senado.

O Instituto Pensar Agro (IPA) assessora a FPA e a conecta com o setor privado. O instituto produz minutas e relatórios para os Projetos de Lei antiambientais submetidos por políticos da FPA, como os PLs do Veneno, do Licenciamento Ambiental e da Mineração em Terras Indígenas.

Toda estrutura é mantida por 48 associações do agronegócio, que contribuem com um valor mensal para apoiar as despesas de lobby. Basta olhar, atentamente, para o desmonte ambiental do governo Bolsonaro para percebermos que esse patrocínio deu certo.

Nenhuma Terra Indígena (TI) foi demarcada, durante os quatro anos de Bolsonaro, ao passo que houve um aumento de 212% nas invasões e de 125% nas atividades do garimpo ilegal, nessas áreas.

Houve, também, o maior aumento de desmatamento, na Amazônia, e a maior alta nas emissões de gases estufa, em 19 anos no país, enquanto aconteceu uma redução de, quase, 40% das multas por desmatamento, na região amazônica. Esse foi o saldo do governo Bolsonaro, de acordo com informações do Observatório do Clima.

Assim, apesar de não ter conseguido cumprir a promessa de extinguir o Ministério do Meio Ambiente, Bolsonaro e os militares conseguiram cercear, ao máximo, a sua atuação.

A média anual de liquidação orçamentária do MMA, no período, foi de R$2,8 bilhões, a mais baixa de um mandato presidencial, na série histórica, disponível no Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (SIOP) e iniciada no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002).

Financiando a destruição

Durante o governo de Jair Bolsonaro, executivos do IPA e políticos da FPA se reuniram, pelo menos, 160 vezes com servidores do Ministério da Agricultura, incluindo 20 audiências com a ministra Tereza Cristina, ex-presidente da FPA.

Ao buscar saber quais seriam essas empresas, a equipe do De olho nos Ruralistas teve uma resposta que batia de frente com a bandeira nacionalista levantada por Bolsonaro: as empresas aliadas a seu governo eram, em sua maioria, estrangeiras.

São gigantes como as produtoras de agrotóxicos e sementes transgênicas Bayer, Basf e Syngenta; as processadoras de soja Cargill, Bunge, ADM e Louis Dreyfus; os frigoríficos JBS e Marfrig e indústrias do setor alimentício, como Nestlé e Danone.

Corporações, como a sino-suíça Syngenta, foram campeãs em reuniões oficiais com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), desde o início do governo Bolsonaro. Ou a alemã Bayer, cujos executivos se reuniram, pelo menos, 60 vezes com funcionários do Mapa, entre janeiro de 2019 e abril de 2022, sem contar visitas realizadas fora da agenda oficial.

Foto: Julia Gimenez Marília Fonseca e Fernanda Bezerra

Além disso, de acordo com o relatório, entre 2019 e 2020, grandes investidores globais aportaram mais de US$27 bilhões em empresas associadas ao Instituto Pensar Agro.

A cifra bilionária inclui compras de ações por fundos soberanos, concessões de empréstimos e crédito por grandes bancos, renegociações de dívidas, emissões de títulos baseados nos chamados princípios ESG, entre outras operações financeiras.

Por trás da grande quantia em dinheiro, estão as multinacionais e seus projetos de lei que constituem o “Pacote da Destruição” — PL da Grilagem, PL do Veneno, PL do Licenciamento Ambiental e PL da Mineração em Terras Indígenas

Ocorre que, desde 2018, com o fim do financiamento de campanhas políticas por empresas privadas, essas relações de poder e influência tornaram-se muito mais subjetivas. Afinal, não é ilegal que um agente público se reúna e ouça as demandas do setor privado.

Essas empresas são, por sua vez, também responsáveis pela agenda de retrocessos engendrada pela Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso.

E, enquanto movimentos sociais pleiteiam, muitas vezes, por anos, acessos a esses espaços de debates e tomadas de decisão, as multinacionais, com suas vantagens econômicas, passam à frente, conseguindo implementar suas ideias e, assim, continuar lucrando com a destruição.

Para ler o dossiê completo acesse:
https://deolhonosruralistas.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Os-Financiadores-da-Destruicao-2022-ptbr.pdf

*Editado por João Vitor