Reforma Agrária

Famílias Sem Terra reocupam área usada para exploração sexual em Goiás

A ação, que conta com a participação de mais de 600 famílias, reivindica que a fazenda seja destinada para constituição de um novo assentamento

600 famílias reocuparam a fazenda São Lukas, no município de Hidrolândia (GO), a 35 km de Goiânia. Foto: MST/GO

Da Página do MST

Na manhã desta segunda-feira (24), cerca de 600 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam novamente a fazenda São Lukas, no município de Hidrolândia (GO), a 35 km de Goiânia. A área já tinha sido ocupada uma primeira vez em março deste ano, durante a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra.

O retorno das famílias à área busca chamar atenção do Governo Federal para a situação da fazenda, que integra o patrimônio da União desde 2016. A reivindicação das famílias é que a propriedade seja destinada para a constituição de um novo assentamento. Além disso, elas também cobram o assentamento das mais de três mil famílias existentes no estado.

Antes, a propriedade pertencia a um grupo criminoso, condenado, em 2009, pelos crimes de exploração sexual e tráfico internacional de pessoas. O grupo criminoso era composto, segundo a Polícia Federal (PF), por 18 pessoas e utilizava o local para aprisionar dezenas de mulheres, muitas delas adolescentes, que posteriormente eram traficadas para a Suíça e submetidas à exploração sexual.

Segundo investigação da PF na época das investigações, a própria fazenda foi adquirida com dinheiro oriundo do tráfico humano. Membros da quadrilha chegaram a estar na lista de Difusão Vermelha da Interpol – para foragidos internacionais.

Em nota, a direção estadual do Movimento no estado destaca que a terra não pode ser usada para a exploração. “Seja a humana – como os crimes sexuais, de trabalho análogo à escravidão e outros – ou aquelas explorações que destroem a terra por meio do uso de agrotóxicos, do monocultivo, do uso intensivo de água, da apropriação dos bens comuns da natureza.”

“Exigimos que a fazenda São Lukas seja destinada para fins de Reforma Agrária. Nela, superaremos o histórico de exploração e a usaremos para produzir alimentos saudáveis e dar de comer às pessoas que têm fome”, destaca.

Na primeira vez em que foi ocupada, a Polícia Militar de Goiás, mesmo sem mandado de reintegração de posse, despejou as famílias que tinham ocupado a área. A expectativa das famílias é que, desta vez, elas possam permanecer na propriedade e avançar na constituição do assentamento.

Confira a nota na íntegra:

A terra é para produzir alimentos e não para exploração

O MST há quase 40 anos luta pela superação de uma das maiores mazelas deste país: o latifúndio improdutivo, responsável por fome, miséria e exploração. Ao longo desta trajetória, as Famílias Sem Terra lograram conquistar a terra, produzir alimentos e constituir uma vida digna.

É com este histórico que na manhã desta segunda-feira (24), cerca de 600 famílias do MST ocuparam novamente a fazenda São Lukas, no município de Hidrolândia (GO). Com esta ação, queremos chamar atenção do Governo Federal para que assente mais de três mil famílias que hoje existem em Goiás.

Desde 2016, a fazenda São Lukas integra o patrimônio da União. Em 2009, um grupo criminoso que atuava em Anápolis, Goiânia e Trindade foi condenado pelos crimes de exploração sexual e tráfico internacional de pessoas. O grupo usava a área – que também foi adquirida com recursos provenientes de crimes – para aprisionar dezenas de mulheres, muitas delas adolescentes, que posteriormente eram traficadas para a Suíça e submetidas a exploração sexual.

O esquema foi mantido por três anos e as vítimas eram, principalmente, mulheres goianas de origem humilde. Membros da quadrilha chegaram a estar na lista de Difusão Vermelha da Interpol – para foragidos internacionais.

Acreditamos que a terra não pode ser usada para a exploração. Seja a humana – como os crimes sexuais, de trabalho análogo à escravidão e outros – ou aquelas explorações que destroem a terra por meio do uso de agrotóxicos, do monocultivo, do uso intensivo de água, da apropriação dos bens comuns da natureza.

A terra é para quem nela trabalha e dela tira os frutos saudáveis para alimentar o povo. Por isso ocupamos!

Exigimos que a fazenda São Lukas seja destinada para fins de Reforma Agrária. Nela, superaremos o histórico de exploração e a usaremos para produzir alimentos saudáveis e dar de comer às pessoas que tem fome.

Reiteramos que iremos resistir às ofensivas do Governo Caiado de tentar praticar qualquer tipo de violência contra as famílias. Não aceitaremos despejos ilegais e sem autorização da justiça ou pedido prévio da União.

Por isto, também convocamos a sociedade goiana que apoia a luta justa por Reforma Agrária a se solidarizarem com a ocupação. Juntos iremos resistir e dar um novo destino àquela terra.

Hidrolândia, 24 de julho de 2023.

Direção Estadual do MST em Goiás