Jornada Sem Terrinha

No ES, Sem Terrinhas fazem audiência pública e entregam carta ao povo capixaba

Como parte da Jornada Nacional dos Sem Terrinha, no Espírito Santo cerca de 500 crianças realizam o XI Encontro Estadual em Vitória, capital do estado
Sem Terrinha do Espírito Santo. Foto: Sérgio Cardoso

Por Mariana Motta
Da Página do MST

Fotos: Sérgio Cardoso

Contação de história, Jogos e brincadeiras Afro-brasileiras e Indígenas, Teatro do Oprimido, Literatura e música estiveram entre as mais de 20 oficinas que aconteceram como parte da programação do XI Encontro Estadual das Crianças Sem Terrinha em Vitória no Espírito Santo. 

Para o MST as crianças fazem parte da história, das lutas e conquistas do Movimento, portanto, na construção da identidade Sem Terrinha as crianças brincam, estudam, e assim participam das lutas nos seus territórrios, sejam assentamentos ou acampamentos, são sujeitos históricos que não representam só o futuro, mas o presente, a atualidade do MST nestes 40 anos de existência. 

No intenso movimento de preparação para a Jornada Nacional dos Sem Terrinha, as crianças foram motivadas nas escolas de reforma agrária e apartir do Plano de Estudos sobre o tema da jornada, construiram cartas reafirmando a identidade Sem Terrinha e trazendo as reivindicações das crianças em uma carta aos capixabas.

Segue o texto da carta coletiva na integra:

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA

“Brincar, estudar e lutar: viva os 40 anos do MST”

Carta das crianças Sem Terrinha aos capixabas

A todas as autoridades aqui presentes,

Somos filhos e filhas de uma história de lutas. Somos um pedaço da luta pela terra e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Estamos escrevendo esta carta para dizer a vocês que não queremos ser apenas filhos e filhas de assentados no território camponês, queremos ser SEM TERRINHA, uma forma de lutar pela terra, pela educação e por nossos direitos, para levar adiante a luta do MST. 

No nosso país, há muita injustiça social, por isso, queremos começar desde já a ajudar a classe trabalhadora a se organizar e lutar pela garantia dos nossos direitos. Reconhecemos a necessidade de as crianças do campo e da cidade viverem com dignidade. Não gostamos de ver tanta gente passando fome, sem terra e sem trabalho para se sustentar.

Nesta visita de estudo, no nosso “Encontro das Crianças Sem Terrinha”, assumimos um compromisso muito sério: seguir o exemplo de lutadores e lutadoras da América Latina, do nosso país e de nossas mães e pais e replantar esta história por onde passarmos. Assumimos o compromisso de: 

  1. Ser Sem Terrinha, honrando este nome e a terra que nossas famílias conquistaram;
  2. Estudar, estudar, estudar muito para ajudar na construção de nossas escolas, nossos acampamentos, nossos assentamentos, nosso Brasil;
  3. Ajudar nossas famílias a plantar, a colher, ter uma mesa farta de alimentos produzidos por nós mesmos e de forma Agroecológica; 
  4. Embelezar nossos assentamentos e acampamentos, plantando árvores e flores, e mantendo tudo limpo;
  5. Lutar por justiça social! Na educação, isso significa garantir escola pública, gratuita e de qualidade para todos, desde a Educação Infantil à Universidade;
  6. Defender uma escola que desperte os sonhos de nossa juventude, que cultive a solidariedade, a esperança, o desejo de aprender e ensinar sempre, o sonho  de transformar o mundo;
  7. Divulgar o MST e sua história, considerando a importância de nossa bandeira de luta: a Reforma Agrária Popular; 
  8. Defender nossas escolas do campo, que foram construídas com muita luta e persistência;
  9. Lutar por espaços apropriados para lazer, como: quadras poliesportivas, parquinhos, bibliotecas;
  10. Lutar por recursos financeiros para investimento na produção e reformas de espaços coletivos: galpão, caixa d’água, farinheira, área de comercialização etc.;
  11. Lutar por melhorias na infraestrutura das escolas, por construções de laboratório de informática, de Ciêncas da Natureza, biblioteca, brinquedoteca e pela construção de novas escolas, em locais em que elas estão muito deterioradas ou em assentamentos em que elas ainda não foram construídas;
  12. Lutar constantemente contra o Termo de Ajuste de Gestão (TAG), um projeto que visa esmagar os sonhos dos educandos e educandas e educadores e educadoras do campo;
  13. Denunciar a violência contra os movimentos sociais, assim como qualquer forma de injustiça, exclusão e discriminação;
  14. Permanecer em luta, estudando, defendendo os encontros de formação, para que possamos garantir o direito à saúde, lazer, alimentação de qualidade e melhorias de uma qualidade e vida digna no campo;
  15. Continuar exigindo a manutenção das nossas estradas, pois em períodos de chuva muitos educandos e educandas ficam meses sem comparecer à escola, desfavorecendo também o escoamento da produção agrícola cultivada nos assentamentos e acampamentos;
  16. Reivindicar transporte de qualidade, com conforto e segurança para todas as pessoas;
  17. Reivindicar a coleta de lixo regularmente em nossas áreas. O destino do lixo é uma das representações de cuidado ao meio ambiente e à saúde pública. O Poder Público precisa ter o compromisso de recolher o lixo e fazer a reciclagem daquilo que for possível;
  18. Exigir políticas públicas para construção de poços artesianos, cisternas e outras construções que possam diminuir o impacto acerca da água, principalmente em períodos de seca, tendo em vista que, em nossos acampamentos e assentamentos, um dos principais pontos de atenção é a questão da ÁGUA – um recurso de importância essencial para os seres vivos e escasso dentro dos assentamentos, com pouca quantidade e qualidade;
  19. Lutar para que sejam realizadas atividades culturais em nossos assentamentos e acampamentos, como teatro de bonecos, peças teatrais, espetáculos de dança, eventos esportivos, que proporcionem aos Sem Terrinha o direito de organizar e participar dessas e de tantas outras expressões artísticas;
  20. Lutar pela ampliação de assistência médica nos assentamentos e acampamentos, com visitas regulares dos profissionais da saúde (médicos, dentistas, fisioterapeutas e nutricionistas). 

Somos crianças Sem Terrinha e nos comprometemos a continuar lutando por dignidade, por escolas de boa qualidade que nos permitam ampliar nossos conhecimentos em defesa de todas as formas de vida. Que possamos ser solidários uns com os outros, sendo assim, permaneceremos em busca de um Estado e um país melhor para as futuras gerações.

Queremos continuar valorizando nosso Movimento. Nós, SEM TERRINHA, gostaríamos de pedir a vocês, autoridades aqui presentes, que nos ajudem a garantir que nossas reivindicações sejam colocadas em prática.

Seguiremos lutando junto aos nossos familiares para que todas as pessoas tenham acesso a terra, pão, escola, saúde e educação.

Um forte abraço de todas e todos os Sem Terrinha.

Vitória, 09 de outubro de 2023

Confira algumas fotos do encontro:

*Editado por Fernanda Alcântara